https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/ ... undo.shtml
Quem até agora não se deu conta dos efeitos das mudanças climáticas na vida das pessoas, talvez se comova com uma pesquisa que traz um alerta bem cotidiano : o suprimento de cerveja e o preço dela podem sofrer com o aquecimento global.
A conclusão foi publicada nesta segunda na revista científica Nature Plants.
A redução no abastecimento de cerveja está ligada à reação da cultura da cevada, principal e mais tradicional ingrediente da bebida, a eventos extremos de calor e seca.
Na pesquisa, os impactos do aquecimento global foram estudados em 34 regiões do mundo, a maior parte composta por países com taxas significativas de produção, consumo e transações comerciais relacionadas à cerveja.
“Ao ver como o aquecimento global atinge nossas vidas de maneiras que não imaginamos, talvez as pessoas comecem a repensar maneiras de intensificar esforços para a redução das emissões”, disse Tariq Ali, da Universidade de Pequim e um dos pesquisadores responsáveis pelo projeto, à Folha.
Nos piores cenários possíveis, o decréscimo do abastecimento do grão fica entre 27% e 38% em alguns países europeus como a Alemanha, Bélgica e República Tcheca.
Os autores — também amantes de cerveja — ressaltam que, quando se referem ao abastecimento, estão tratando de duas frentes.
Uma delas é relacionada às perdas de plantações de cevada, que, segundo o estudo, poderiam variar de 3% a 17%.
As regiões do mundo que mais sofreriam prejuízos ligados à plantação seriam : América do Sul, América Central e África Central.
Ao mesmo tempo, as perdas na Europa seriam moderadas e, em algumas regiões, até haveria aumento na produção, como em partes dos Estados Unidos e da Ásia.
Outro ponto seriam as variações que as mudanças climáticas poderiam ter sobre o bolso do leitor/consumidor, o que está vinculado à dificuldade de manter as plantações e à disponibilidade do produto — já que uma parte da produção é destinada à alimentação de animais, por exemplo.
A pesquisa aponta que nos piores cenários de eventos extremos, o preço da cerveja poderia dobrar e o consumo cair cerca de 16%. Essa queda equivaleria aproximadamente ao consumo de todos os Estados Unidos em 2011.
“Para piorar a situação, as mudanças climáticas ainda se intrometeriam nas nossas festas, socialização e até mesmo nas extravagâncias da Copa do Mundo”, afirma Ali. “No nível individual, isso pode servir para incentivarmos mais os esforços para controlar o aquecimento global.”
O Brasil, por ser um dos maiores consumidores de cerveja no mundo, estaria entre os principais países afetados. No melhor cenário, a queda no consumo de cerveja ficaria em torno de 1%. No pior, a redução chega a 8% — cerca de 1 bilhão de litros a menos consumidos. Isso tornaria o país o sétimo mais afetado no mundo.