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Enquanto o Itaú Unibanco e o Bradesco veem seus lucros crescerem a taxas entre 25% e 30%,
o HSBC tenta vender suas operações no mercado brasileiro para deixar o país, onde é o quarto maior banco privado.
Decepcionada com os resultados da filial brasileira, que em 2014 amargou um prejuízo de R$ 549 milhões, a matriz do britânico HSBC contratou o banco Goldman Sachs para assessorá-lo na busca por potenciais interessados em comprar sua operação brasileira. Grandes bancos brasileiros e estrangeiros estão sendo contatados para conversar sobre o negócio. Eles terão até o início de junho para apresentar eventuais propostas pela rede de mais de 800 agências e 375 mil clientes ativos do HSBC Brasil.
O prazo coincide com a divulgação do novo plano de negócios globais do banco, marcada para 9 de junho. Nessa data, o presidente mundial do HSBC, Stuart Gulliver, deverá anunciar as decisões de mudar ou não a sede do banco de Londres (Reino Unido) para Hong Kong e sobre os ativos que serão vendidos.
Ontem, ao comentar os resultados globais do banco no trimestre — lucro de US$ 6,7 bilhões, alta de 4% —, Stuart Gulliver limitou-se a dizer que poderia vender seus negócios em Brasil, México e Turquia, operações que estariam dando retornos que classificou de inaceitáveis. Nos Estados Unidos, haveria uma reestruturação, segundo a agência Reuters. Em fevereiro, Gulliver já havia admitido adotar “soluções extremas” caso os resultados não melhorassem.
Mas, em depoimento na CPI do SwissLeaks, o presidente do HSBC no Brasil, André Guilherme Brandão, refutou as notícias sobre a venda :
— Os rumores (de venda) foram oriundos da declaração do presidente mundial, que simplesmente falou que espera que, em alguns países, os negócios melhorem a sua rentabilidade, incluindo o Brasil. Foi dessa colocação que começaram esses rumores.
O HSBC Brasil vinha buscando sanear sua carteira de crédito, carregada de empréstimos ruins, e cortar custos fechando agências e demitindo. Como não houve resultados, a matriz contratou o Goldman Sachs para buscar interessados na filial brasileira.
— O banco tem uma escala grande em relação ao tamanho efetivo das suas operações, o que faz com que o lucro não seja tão grande quando o dos concorrentes. O HSBC nunca conseguiu crescer no mercado brasileiro na mesma medida da sua estrutura — explicou Luis Miguel Santacreu, analista de bancos da Austin Rating.
Em 2005, na maré de alta do crédito ao consumo no Brasil, o HSBC comprou a financeira Losango, vencendo uma disputa com o Itaú. Mas pagou caro, R$ 850 milhões. Quando veio a crise financeira global, o banco não conseguiu ganhar competitividade e fazer deslanchar seus negócios no crédito de varejo.
— O banco errou o timing da aceleração do crédito no varejo no Brasil. Comprou a Losango, pagou caro, iam crescer e veio uma conjuntura adversa. Além disso, o banco emprestou mal e teve de fazer uma ampla limpeza na sua carteira de crédito, que piorou ainda mais seu balanço — afirmou João Augusto Salles, da Lopes Filho Consultoria.
Entre as instituições que foram procuradas pelo Goldman Sachs estariam Itaú Unibanco, Bradesco, BTG Pactual e Santander, além de bancos estrangeiros que não atuam no Brasil. A intenção seria fechar a venda da operação brasileira até agosto. Uma meta difícil, na opinião de especialista ouvidos pelo GLOBO, devido à volatilidade cambial e às incertezas sobre a recuperação da economia.
— Está todo mundo muito cauteloso, principalmente por conta da variação cambial. O câmbio não permite traçar uma linha previsível de rentabilidade para quem quer comprar ou vender ativos neste momento, especialmente se o interessado for um banco estrangeiro — afirmou um advogado especializado em fusões e aquisições, que citou ainda as medidas de ajuste fiscal e o projeto de lei da terceirização.
O escândalo das contas secretas que o HSBC mantinha em sua filial na Suíça pode ser outro entrave à venda, na avaliação de Santacreu:
— O banco tem uma plataforma de captação global, e os clientes daquelas contas, alguns milhares de brasileiros, são clientes private. E o banco que for comprar a filial brasileira terá de olhar para saber que carteira de clientes vai adquirir.
Em relatório divulgado na segunda-feira sobre uma possível venda do HSBC Brasil, o Deutsche Bank avaliou o valor do banco entre R$ 10 bilhões e R$ 14 bilhões (US$ 3,5 a US$ 4,6 bilhões). Para o Deutsche, o Santander seria quem mais se beneficiaria com a aquisição dos ativos do HSBC no Brasil. O BTG Pactual também se beneficiaria, caso decidisse avançar nas operações de varejo.
Em teleconferência sobre o balanço do primeiro trimestre, ontem, o diretor de Relações Institucionais do Itaú Unibanco, Marcelo Kopel, sinalizou que o maior banco privado do país não vê atrativos nos negócios locais do HSBC. Mas admitiu que as operações no México poderiam interessar.
Procurados, Banco do Brasil, Bradesco, HSBC, Goldman Sachs e Santander não se manifestaram.