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No dia 10 de junho de 1984, John Barnes fez um gol considerado até hoje um dos mais bonitos da história da seleção inglesa. O atacante arrancou com a bola da intermediária, driblou cinco jogadores, o goleiro, e marcou. Mark Hateley fez o segundo na vitória por 2 a 0 sobre o Brasil em um amistoso no Maracanã.
Depois da partida, no avião, integrantes do National Front estavam no voo com a seleção. Em uma história contada em sua autobiografia, Barnes disse que o grupo extremista gritou que o jogo havia sido 1 a 0 porque "gol de negro não contava". Eram tempos sombrios no futebol inglês.
Os anos 1980, época do golaço de Barnes, foram o auge da crise. O hooliganismo afastou torcedores dos estádios e tirou dos ingleses o amor pelo futebol e pela própria identidade nacional.
"Se você fosse um torcedor de futebol nos anos 1980, olhavam feio para você, presumiam que era um hooligan," disse à Folha Roger Domeneghetti, professor de jornalismo na Universidade de Northumbria e autor do livro "Everybody Wants to Rule the World - Britain, Sport & the 1980s" ("Todos querem dominar o mundo : Grã-Bretanha, Esporte e os anos 1980", em tradução livre).
A partir da metade de 1990, no período conhecido como Cool Britannia, através da arte, moda, música, a bandeira britânica era exibida com orgulho, seja na eleição do primeiro-ministro trabalhista Tony Blair ou nas roupas das Spice Girls. O futebol ficou em alta. David Beckham se tornou um dos homens mais famosos do planeta.
Em 2016, Gareth Southgate assumiu a seleção inglesa e a imagem da equipe começou a mudar. A atual geração de jogadores e o treinador —que se posicionam em causas como igualdade de gênero e combate ao racismo — têm papel fundamental em trazer de volta esse orgulho.
"A paixão dos torcedores ingleses pela seleção hoje é cem vezes maior do que antes de Southgate assumir," disse à Folha Tom Barclay, repórter do tabloide The Sun.
"Antes de Southgate, o futebol de seleção estava ruim, as pessoas preferiam assistir a seus clubes, os jogadores pareciam não gostar de representar o país. Não havia amor por parte de ninguém. Southgate trouxe essa paixão de volta."
A Inglaterra chegou às semifinais da Copa do Mundo em 2018, à final da Eurocopa, em 2021, e às quartas de final do mundial no ano seguinte.
"Os jogadores mostraram mais amor pela equipe e são mais conscientes socialmente, têm mais noção de suas responsabilidades fora de campo. Isso teve um papel na conexão entre os torcedores e o time," disse Tom Barclay.
Roger Domeneghetti concorda. "Quando Southgate assumiu a seleção, começou um movimento para humanizar os jogadores, suavizar a imagem dos atletas e fazer com que as pessoas não os vissem apenas como jogadores de futebol."
O que falta para o amor do torcedor ficar completo ? Títulos. A Inglaterra só tem uma conquista internacional no masculino, a Copa do Mundo de 1966.
A Inglaterra tem alguns dos maiores talentos jovens do planeta, como Jude Bellingham, Phil Foden, Bukayo Saka, e é candidata ao título da Eurocopa e da Copa do Mundo mais uma vez.