Quando Christopher Nolan assumiu "Batman Begins", em 2005, o diretor encontrou o homem por trás da máscara do herói, Bruce Wayne (Christian Bale), e o jogou em um mundo realista, onde um homem vestido de morcego não parecia tão surreal.
Três anos depois, fez o impensável na continuação "Batman - O Cavaleiro das Trevas" : matou a mocinha, saiu dos moldes ao filmar um "noir" moderno e ainda deu lugar a um dos vilões mais perturbadores do cinema, o Coringa de Heath Ledger.
A sequência rendeu mais de US$ 1 bilhão. Mas Nolan não quis saber. O terceiro capítulo da sua visão do Batman será o último, e nele o cineasta foi mais longe. "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge", que chega ao Brasil em 27/7, é cheio de surpresas.
"As pessoas estão esperando o inesperado, por mais contraditório que seja", fala à Folha o diretor, que teve liberdade para transformar o orçamento de US$ 250 milhões em um filme de quase três horas, em boa parte das quais o herói vê, sem máscara, o mundo ruir ao seu redor.
"Quando fiz 'Batman Begins', as pessoas me perguntaram se não poderia ter um pouco mais do Batman. Eu as ignorei e o filme funcionou. Na conclusão, eu não poderia tratar o personagem como se fosse separado de Bruce Wayne. Ele é um aspecto da personalidade do playboy, sua forma de ir para a ação."
O novo filme é mais extremo. Começa oito anos depois do fim de "O Cavaleiro das Trevas", no qual o herói é acusado do assassinato do promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart). Batman está aposentado e Bruce Wayne, de bengala, sofre as consequências físicas do combate ao crime.
Ao surpreender uma ladra apelidada pelos jornais de Mulher-Gato (Anne Hathaway) tentando roubar sua mansão, Bruce Wayne começa a sentir necessidade de voltar.
A necessidade torna-se realidade quando um terrorista chamado Bane (Tom Hardy) toma o poder em Gotham City e proclama-se "herói do povo" contra políticos corruptos e ricos sanguessugas.
"Este não é um filme normal de super-heróis", diz, comentando o elo entre sua obra e fatos reais, como a luta de classes gerada por crises financeiras e de valores.
"Nós, ocidentais, levamos a sério a nossa estabilidade, então ficamos chocados com eventos como o 11 de Setembro ou a crise econômica de 2008. Pensei : por que isso não poderia acontecer em Gotham ?", diz Nolan.
A representação da destruição da civilização ocidental vem com a presença do vilão Bane. Nascido em uma prisão, virou mercenário, entrou para a liga de assassinos que treinou Bruce Wayne e usa uma máscara que solta gás. "Queria um vilão que fosse uma ameaça física."
No primeiro confronto contra Batman, a violência do vilão Bane é a mais brutal já exibida por uma adaptação de quadrinhos.
"O sucesso de 'O Cavaleiro das Trevas' nos permitiu arriscar", diz o diretor, que fez um "filme de guerra", não "de super-herói". Coragem ? "Não ! As pessoas usam essa palavra quando acham algo estúpido." Não é o caso.
O jornalista viajou a convite da Warner.