Valor Econômico
A Smiles, empresa de programa de milhagens da Gol, quer levantar cerca de R$ 1,1 bilhão por meio de uma abertura de capital na bolsa de valores.
A partir da oferta de ações, a Smiles quer se fortalecer para fazer frente à Multiplus, companhia de milhas da TAM, que fez uma oferta inicial de ações no começo de 2010.
Com os recursos levantados, a Smiles pagará antecipadamente a compra de passagens, dando início a suas atividades como uma nova companhia, não mais como uma área da Gol.
Depois da operação, um volume entre 35,6% e 42,7% de capital da Smiles ficará em circulação no mercado, dependendo do apetite dos investidores. As novas ações devem ser vendidas dentro de um intervalo entre R$ 20,7 e R$ 25,8, o que pode fazer o valor da oferta ir de um mínimo de R$ 898,5 milhões a até R$ 1,34 bilhão.
Antes mesmo de chegar à bolsa, a Smiles já tem um investidor potencial em vista. Na sexta-feira passada, a gestora de fundo de "private equity" General Atlantic e a Gol assinaram um acordo. O fundo se comprometeu a comprar R$ 400 milhões em ações da Smiles, limitado a 19,99% do capital da empresa, se a ação for vendida a R$ 20,70.
Segundo o Valor apurou, não é de hoje que General Atlantic tem interesse na Smiles. Há cerca de um ano e meio, a gestora vinha acompanhando a empresa, chegando, inclusive, a fazer propostas por uma fatia dela.
O caminho que a Gol escolheu, porém, foi tentar uma oferta de ações. Com a transação, busca um valor por ação que vai dos R$ 20,7 oferecidos pelo General Atlantic a até R$ 25,8. Caso os papéis saíam acima dos R$ 20,70, o General Atlantic poderá decidir se ainda fará o investimento e qual tamanho terá, limitando-se a um máximo de R$ 400 milhões.
Por conta da ancoragem no General Atlantic, o mercado questiona se algum investidor reservará os papéis por um valor maior do que o já sinalizado pelo fundo. Isso poderia acontecer se os compradores vislumbrassem uma demanda muito grande pelas ações.
Além do aporte de recursos, o General Atlantic se compromete a tomar algumas medidas que visam incrementar a governança corporativa da Smiles.
Constantino de Oliveira Júnior e Henrique Constantino, dois dos principais acionistas da Gol, têm que reservar R$ 50 milhões em ações da Smiles. O principal objetivo disso é alinhar o interesse entre os acionistas.
Se o General Atlantic alcançar uma participação mínima de 10% na Smiles, poderá eleger um integrante do conselho de administração e vetar negociações da companhia com a Gol cujos valores superem R$ 2 milhões, como alteração no contrato de compra e venda de milhas e passagens aéreas.
Os pontos do acordo, na visão de uma analista, mostram a tentativa da Smiles de se apresentar ao mercado com incrementos de governança em relação à concorrente Multiplus, hoje controlada indiretamente pela TAM.
Mês passado, a Multiplus, em um intervalo de 20 dias, anunciou e voltou atrás da decisão de realizar uma oferta pública de ações. O anúncio havia incomodado os investidores, por conta da avaliação de que a empresa buscava recursos para abastecer o caixa da TAM.
A Multiplus faria uma oferta pública de ações para captar R$ 800 milhões. Como a empresa não precisava de recursos, o mercado imediatamente entendeu que a principal motivação da oferta seria engordar o caixa da controladora.
Com 9 milhões de participantes, separada da Gol, a Smiles teria sido uma companhia com uma receita líquida de R$ 754,5 milhões e lucro líquido de R$ 117,7 milhões no ano passado.
Ontem, a notícia da oferta da Smiles deu fôlego aos papéis da Gol na bolsa. No dia, as ações subiram 3,5%, enquanto o Ibovespa ficou praticamente estável, com alta de 0,08%. Multiplus ganhou 0,3%.