Ao escolher vários membros de uma consultoria privada de Washington para seu governo, o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden alimenta uma polêmica sobre um sistema que permite a funcionários americanos de alto escalão trabalharem para grupos influentes entre uma administração e outra.
O próximo chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Tony Blinken, a futura diretora de Inteligência dos Estados Unidos, Avril Haines, e a porta-voz do governo, Jen Psaki, trabalharam para a empresa WestExec Advisors.
O general Lloyd Austin, escolhido pelo presidente eleito para chefiar o Departamento de Defesa, não é apenas um conselheiro da WestExec, como também um dos diretores do fundo de investimentos da empresa, o Pine Island Capital Partners.
E, de acordo com a imprensa americana, Joe Biden pensa em convidar outro conselheiro do WestExec, David Cohen, para ser seu diretor da CIA, a principal agência de Inteligência dos Estados Unidos.
Após quatro anos de denúncias de conflito de interesses contra Donald Trump, Joe Biden foi criticado por recorrer a esta consultoria privada, que tem laços estreitos com a indústria de defesa.
— Agora cabe ao governo Joe Biden e a esses candidatos mostrar que tomarão medidas prudentes para evitar qualquer conflito de interesses — disse Noah Bookbinder, diretor da ONG anticorrupção Cidadãos pela Responsabilidade e Ética em Washington (Crew).
A WestExec foi criada em 2017 para acolher membros do governo Barack Obama após a eleição de Donald Trump.
A empresa oferece serviços de assessoria estratégica para empresas que desejam aproveitar seu conhecimento em questões de segurança e defesa.
Seu nome vem de West Executive Avenue, uma pequena rua sem trânsito que separa a Casa Branca do grande edifício que abriga a maioria dos escritórios do Executivo americano, o Eisenhower Executive Office Building.
Alguns veem as práticas dessa empresa como uma forma de lobby, ou seja, como o uso de redes de influência para convencer altos funcionários e parlamentares a modificarem projetos de lei para beneficiar seus clientes.
Nos Estados Unidos, vários escândalos de corrupção levaram o Congresso a impor regras rígidas a esses grupos de pressão, incluindo a obrigação de identificar publicamente as empresas para as quais trabalham.
As consultorias e seus funcionários ficaram de fora dessa norma e não precisam divulgar os nomes de seus clientes.
A revista especializada The American Prospect e o jornal The New York Times identificaram alguns clientes da WestExec, como a fabricante de drones Shield AI, contratada pelo Pentágono; a Schmidt Futures, administrada pelo ex-CEO do Google Eric Schmidt; ou a empresa israelense Windward, especializada em inteligência artificial.
O fundo de investimento da WestExec, o Pine Island, levantou US$ 283 milhões para investir em empresas da indústria de defesa.
Tony Blinken e Lloyd Austin são diretores do Pine Island.