O Theatro Municipal de São Paulo passa por uma nova crise que pode levar ao rompimento do contrato de R$ 556,9 milhões com a entidade que o administra e, no limite, afetar suas atividades nos próximos meses.
A origem é uma investigação feita pela prefeitura que apontou problemas nas contas do Instituto Odeon, organização social que desde setembro de 2017 é responsável pela gestão do teatro.
O término do termo de colaboração é previsto para 2021.
O grupo de trabalho que fez a apuração indicou inconsistências graves no levantamento dos valores arrecadados na bilheteria, despesas inadequadas com viagens e hospedagens e orçamentos de gastos superestimados em relação à prática de mercado.
Por causa das irregularidades, a prefeitura cobrou da entidade a restituição de R$ 3 milhões.
O valor foi descontado do repasse de junho. As contas do ano passado foram reprovadas e só parte das de 2017 foram aprovadas.
O relatório final da investigação apontou ainda falta de qualificação técnica de alguns dos profissionais em cargos de comando, bem como a utilização indevida de cartões de crédito corporativos.
A organização tem até o final de setembro para justificar os valores e sanar os problemas, do contrário a prefeitura romperá o acordo.
A reportagem obteve uma gravação feita em reunião na qual a secretária-adjunta da Cultura, Regina Silvia Pacheco, discute a situação com o grupo que fez a investigação.
“[Caso] não [sejam] aceitas as justificativas, não se pode continuar com o termo de colaboração”, ela disse.
Na conversa, a secretária-adjunta demonstra preocupação com essa hipótese, argumentando que, com a eventual saída do Odeon, “não teria” o que pôr no lugar.
“O princípio geral que nos guia é não fechar o teatro”, afirmou.
Os diálogos foram gravados por um funcionário público que participou da reunião e temia que a gestão Bruno Covas, do PSDB, pressionasse o grupo a reverter a decisão sobre a reprovação das contas.
“Tem alguma chance de eles [Odeon] comprovarem alguma coisa que mude esse parecer?”, perguntou a
secretária durante a reunião.
“[O instituto] precisa mostrar com provas e documentos [a regularidade dos atos praticados]”, respondeu à secretária um dos membros do grupo de investigação.
No fim do ano passado, André Sturm, então secretário da Cultura, pediu a rescisão do termo com o Odeon alegando insatisfação com a atuação.
Apontou inconsistências em dados de bilheteria e má gestão como a compra errada de partituras do tema de “O Poderoso Chefão” para um evento chamado “Fellini e Nino Rota em Concerto”.
No começo deste ano, porém, o novo secretário da Cultura, Alê Youssef, suspendeu o processo, mantendo a entidade no comando do teatro.
Em fevereiro, a Folha revelou que diretores do Odeon moravam fora de São Paulo e recebiam passagens aéreas e diárias de hospedagem, bancadas por verba pública, para trabalhar no teatro.
Dias depois, o secretário criou o grupo de trabalho para analisar as contas.