Tá caro!
Os monopólios e a disparada no preço dos jogos
O governo Bolsonaro buscou fazer demagogia reduzindo o valor dos impostos sobre os jogos, mas isso não teve o efeito esperado...
Jogos de PS5 são os mais afetados, chegando a até R$600 – Reprodução/Jayyster
No último dia 18 de agosto, surgiu no Twitter uma thread da Uol com o título: “Jogo de R$ 600: por que os games continuam caros se imposto caiu 4 vezes?”, que resumia uma matéria de mesmo nome do blog Tilt, um blog da própria Uol voltado para modernidades e notícias sobre o mundo digital.
A matéria, como o título diz, procura dar argumentos para explicar porque, após 4 diminuições no IPI que foram aprovadas pelo governo Bolsonaro, sendo a última neste último mês de Julho, o preço dos jogos de videogames não só não diminuiu, como na realidade disparou, chegando determinados jogos a custar incríveis R$600.
A matéria procura explicar que a alta no valor dos jogos estaria atrelada ao aumento do dólar em relação ao real e à crise dos semicondutores, que veio assolar a indústria mundial junto à pandemia da Covid-19,. Essa resposta, apesar de se aplicar aos consoles, no âmbito dos jogos, não corresponde à realidade.
Primeiro, é preciso entender que não são necessários semicondutores para a comercialização de jogos, pois estes são ou comercializados em mídia física, cuja produção só requer a queima de um CD e a impressão de uma capa, ou por mídia digital, que não produz nenhum produto físico. O seu desenvolvimento, por outro lado, utilizaria semicondutores, pois o processo de produção de um jogo envolve diversos computadores, cujas peças têm semicondutores.
Todavia, esse certamente não é o motivo do aumento, pois os computadores em que os jogos foram programados já foram comprados a muito tempo, e o valor da manutenção destes no preço do jogo final, mesmo com o aumento absurdo dos semicondutores, não se reverteria em um aumento significativo no valor final do jogo.
Além disso, os jogos cujos preços subiram já foram programados antes do preço subir, tanto que já estão lançados há muito tempo. O que significaria que, se esse fosse o motivo, estaríamos pagando pelo aumento do preço das peças da maquina que produz um produto que já foi produzido, o que é um absurdo.
O real motivo está no dólar, que de fato influiu sobre o preço dos jogos, mas não da maneira que o Tilt dá a entender. A realidade é que os jogos subiram de preço, curiosamente, de maneira similar à que subiram os combustíveis no Brasil no último período, a situação é bem parecida. Os jogos sobem da mesma forma que os combustíveis sobem de acordo com o preço de paridade com o mercado internacional, ou seja, o preço que pagamos no Brasil é baseado no preço pago em dólar no exterior.
Em outras palavras, estamos sustentando a taxa de lucros das distribuidoras de jogos, e pior, sustentando a taxa de lucros de um tipo de produto que não tem custo nenhum, ou no pior dos casos, irrisório, visto que a única operação com um custo é a reprodução do jogo em mídia física. Já na mídia digital, onde os preços também subiram, o custo da operação é praticamente zero, consiste em apenas duplicar um arquivo.
Por isso, temos que ter claro que as medidas do governo Bolsonaro de diminuição dos preços através da redução de impostos tem apenas um caráter demagógico, pois a depender do segmento, elas não terão nem efeito, como foi o caso do mercado de jogos, que é profundamente monopolizado. Diminuir o imposto não equivale a redução no preço, especialmente em mercados monopolizados como é o da gasolina e dos jogos. Apenas dá aos capitalistas a possibilidade de fazer isso sem diminuir suas taxas de lucros, ou seja, deixando a redução dos preços ao critério da boa vontade dos empresários.
https://www.causaoperaria.org.br/rede/p ... dos-jogos/