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O ESTADO DE S.PAULO
O restaurante de alta gastronomia Maní, em São Paulo, da chef Helena Rizzo, lançou seu novo menu-degustação incluindo dois vinhos naturais, de mínima intervenção.
Um dos vinhos era o Merlot da Montaneus, da microvinícola do Sul que acabou de nascer e teve a primeira safra no ano passado.
O caso ilustra um holofote que tem sido colocado em pequenos negócios de vinhos naturais, de produção em escala humana, mínima intervenção e sem adição de produtos que a indústria geralmente usa.
Surfam uma tendência do mercado consumidor que levanta a bandeira dos alimentos orgânicos, em defesa do pequeno produtor e da sustentabilidade.
Ainda que vinhos naturais existam há mais tempo, com nomes nacionais como Era dos Ventos, Domínio Vicari e Delucca, o movimento era mais tímido.
Nos últimos quatro anos, o mercado viu surgirem vinícolas como Vivente, Montaneus, Casa Viccas e Outrovinho, onde tudo é feito em pequena escala e de forma artesanal.
Se marcas estilo butique, ainda pequenas, costumam produzir de 100 mil a 300 mil garrafas por ano, essas microvinícolas não passam de 15 ou 20 mil.
No caso da Montaneus, fundada pelo casal Gabriela Suthoff e Leonardo Haupt, a safra 2021 produziu pouco mais de duas mil garrafas em caráter de estreia e, em 2022, o volume foi a 7 mil garrafas. Para isso, eles fizeram nos dois últimos anos um investimento de R$ 200 mil. A ideia, defendem eles, é não passar de 10 mil garrafas por ano, para manter o trabalho artesanal.
Em 2019, o casal resolveu fazer vinhos naturais em casa, até que estruturaram a empresa em 2020, instalada nos arredores de Farroupilha (RS). “Nosso estilo de vida já era pautado nos orgânicos, somos coletores de cogumelos silvestres”, diz Gabriela.
Segundo ela, o projeto da empresa envolve mais do que fazer apenas o produto final natural, sem conservantes ou clarificantes, mas ter uma relação sustentável com os produtores. “É um movimento de respeito à terra, e é esse respeito que vai para dentro da garrafa.”
Há 20 anos no setor de vinhos e após ter trabalhado por anos em uma importadora, a sommelière Patricia Brentzel passou a empreender dois projetos próprios de vinhos de mínima intervenção : o Beba Bem em Casa (em que vende a bebida para pessoas físicas) e o Beba Bem Trade (para pessoas jurídicas). “Mesmo restaurantes mais tradicionais, de vinho convencional, querem ter algum vinho orgânico na carta”.
Em suas listas aos clientes estão vinícolas como Montaneus, Família Faccin, Bellaquinta e Casa Viccas – muitas das marcas citadas na reportagem participam da 10.ª edição da Feira Naturebas, em São Paulo, nos dias 18 e 19 de junho, na qual estarão 40 produtores naturais dentre 113 expositores.
A Casa Viccas, fundada por Vivian Vitorelli e Sarah Valar, fez sua primeira vinificação em 2019, com apenas 1,5 mil garrafas, com uvas compradas de terceiros (prática comum entre microvinícolas). Aumentou no ano seguinte para 4 mil garrafas e, nesta última safra, estabilizou em torno de 8 mil garrafas, com 16 rótulos.
“A gente sempre tenta diminuir o número de rótulos, mas é uma tentação experimentar as uvas”, diz Sarah.
A dupla se divide entre São Paulo e Serafina Corrêa (SP), onde fica a vinícola, em que foram investidos até agora R$ 200 mil.