https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2 ... 2024.shtml
A crescente piora da situação fiscal do Brasil, fez a Bolsa do país sair de um patamar recorde para o pior desempenho entre as principais economias do mundo em 2024.
Neste ano, o Ibovespa acumula queda de mais de 10 %, descolando-se dos índices globais, que, em sua maioria, registram valorização.
O real já acumula baixa de cerca de 10% em relação ao dólar em 2024, saindo de R$ 4,85 no fim de 2023 para R$ 5,38 em 2024.
A deterioração é resultado do aumento da percepção de risco do Brasil entre investidores, em especial após incertezas sobre a condução das políticas econômica e monetária.
Desde o início do ano, o risco-país medido pelo CDS de cinco anos acumula alta de 18,67 %.
O CDS funciona como um termômetro informal da confiança dos investidores em relação às economias, especialmente as emergentes.
Se o indicador sobe, é um sinal de que os investidores temem o futuro financeiro do país.
Para compensar o risco, o mercado exige juros cada vez maiores, e as taxas de contratos para dez anos no país ultrapassaram a marca de 12 % neste mês. No início do ano, estavam em 10,36 %.
Com a persistência dos ruídos fiscais, as condições financeiras devem permanecer apertadas, e não há previsão de melhora no curto prazo, dizem analistas.
Em abril, o governo decidiu diminuir de 0,50% do PIB (Produto Interno Bruto) para zero a meta de superávit primário para 2025, o que aumentou o ceticismo do mercado sobre o compromisso fiscal do governo.
"O mercado já vinha meio desconfiado, e esse foi um motivo forte para aumento da preocupação", diz Sérgio Golgenstein, estrategista-chefe da Warren Rena.
As incertezas fiscais causaram alta nos juros futuros e saída de recursos do Brasil, que também contribuiu para a desvalorização do real.
Na última quarte-feira, o dólar atingiu a marca de R$ 5,40, a maior desde janeiro de 2023, e a Bolsa brasileira renovou as mínimas do ano após uma nova derrota do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em sua tentativa de equilibrar as contas públicas.
Além disso, Lula (PT) afirmou que o ajuste fiscal se dará através do aumento de arrecadação, sem mencionar cortes de gastos.
Para o mercado, o episódio reforçou que Fernando Haddad está enfraquecido dentro do governo e descredibilizou ainda mais o compromisso do Executivo com o ajuste fiscal.
"Essa falta de previsibilidade em relação a taxa de juros e fiscal acaba afastando investidores. Ninguém gosta de incerteza, e no momento o Brasil está cheio delas. Parece que enquanto a equipe econômica quer fazer uma coisa, o presidente quer fazer outra. Esse descasamento acaba sendo negativo para os mercados", diz Eduardo Moutinho, analista da Ebury Bank.