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Importadores brasileiros de óleo diesel estão começando a buscar alternativas para substituir o diesel russo devido à pressão dos Estados Unidos e da Otan (aliança militar ocidental) por causa da guerra e por causa de um aumento gradual de preços implementado por Moscou no Brasil.
Nesta segunda-feira, o presidente americano Donald Trump ameaçou reduzir o prazo inicial de 50 dias para entrada em vigor das sanções internacionais secundárias contra parceiros comerciais da Rússia.
Donald Trump havia anunciado em 14 de julho que vai impor tarifas de 100% para países que fizerem negócios com a Rússia enquanto o ditador Vladimir Putin não aceitar negociar um cessar-fogo na Ucrânia.
Em 2024, o Brasil foi o segundo maior comprador de diesel russo do planeta, gastando R$ 38 bilhões, segundo o think tank finlandês Centre for Research on Energy and Clean Air (CREA).
O país só ficou atrás da Turquia, que revende o produto para outros países.
A compra do diesel russo pela Petrobras e por importadores privados havia aumentado exponencialmente desde 2022, quando Moscou passou a vender o combustível a preços muito mais baixos que os de mercado para países em desenvolvimento com o objetivo de financiar a invasão militar à Ucrânia.
"O desconto do diesel russo hoje não é tão relevante, mas existe", disse o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo.
Atualmente companhias de transporte marítimo e seguradoras podem ser alvo de punições de países do G7 (grupo das sete maiores economias democráticas do planeta) e da União Europeia se transportarem petróleo russo e produtos derivados para serem vendidos acima de um preço limite.
A ideia do preço limite é limitar a fonte de receitas da Rússia mas não causar um desabastecimento global dos produtos.
Apesar de ser autossuficiente na produção de petróleo, o Brasil não tem estrutura em refinarias, exigindo a importação de combustíveis. Somente com o diesel, o país traz do mercado externo cerca de 15 bilhões de litros por ano. Isso representa 35% do diesel que o país utiliza. A demanda nacional é de mais de 67 bilhões de litros por ano.
No ano passado, 65% das importações vieram da Rússia, 17% dos Estados Unidos, 6% dos Emirados Árabes, 5% do Kuwait e os demais 7% de outros mercados.
“O Brasil é um país de diesel, de caminhões, de estradas. Não temos ferrovia [com alta capacidade] nem uma navegação de cabotagem forte. A base da logística nacional é o transporte rodoviário, precisamos do combustível”, explica o engenheiro em Petróleo Armando Cavanha, professor da PUC.
Essa dependência, que se intensificou nos últimos anos, é resultado de uma falha histórica no desenvolvimento do parque de refino brasileiro. “O Brasil não tem capacidade de refino suficiente para produzir todo o diesel que consome. As refinarias foram feitas para serem complementares, dentro de uma lógica de monopólio. Quando isso se quebrou, não houve investimento suficiente para manter a estratégia de forma autônoma”, diz o professor.
Com as tentativas frustradas de privatização e a ausência de novos investimentos no setor, o país se viu cada vez mais dependente de fornecedores externos.
“Se houver uma ruptura brusca com o fornecimento russo, o Brasil terá que correr para outros mercados — Estados Unidos, Arábia Saudita, Índia, Qatar — e, certamente, pagará mais caro”, diz o engenheiro.
Antes da invasão da Ucrânia, o maior fornecedor do Brasil eram os Estados Unidos. Agora, os importadores voltam a sondar fornecedores em Washington e nos países árabes, segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).
Se o Brasil deixar de comprar da Rússia tende a conseguir suprir sua demanda, mas há risco de desabastecimento temporário e impacto no preço final. Para piorar, o Brasil não tem estoques estratégicos de diesel, o que deixa o país ainda mais vulnerável.
“Nos Estados Unidos, há estoques de petróleo que garantem abastecimento por até 40 dias. Aqui, nosso estoque está nos tanques das refinarias".
Desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022, o Brasil praticamente dobrou suas importações de produtos russos. O valor gasto pelo país em compras da Rússia aumentou de US$ 6,2 bilhões em 2021 para US$ 12,2 bilhões em 2024. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Esse aumento nas importações russas ocorre de forma constante, mas se potencializou sob o comando de Lula (PT), que tem se mostrado cada vez mais próximo de Vladmir Putin e de Moscou.
O governo saiu ganhando ao evitar uma subida descontrolada nos preços do diesel, o que poderia gerar inflação e desagradar a classe dos caminhoneiros. Mas agora pode pagar caro se não mudar de política antes dos Estados Unidos adotarem as sanções secundárias contra países que compram petróleo e derivados da Rússia.
Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que regula e fiscaliza o setor, o valor do diesel nas bombas apresentou uma redução ao longo do governo de Lula. Em janeiro de 2023, no início do mandato, o preço médio do litro do diesel S-10 ao consumidor era de R$ 6,40.
Já na segunda semana de julho de 2025, o valor médio registrado nas bombas ficava em todo o Brasil em R$ 5,97. Essa variação, segundo o economista Rui São Pedro, representa uma queda nominal no preço final pago pelos motoristas, mas refletindo, em parte, as mudanças na política de preços da Petrobras e as reduções promovidas no valor do combustível que sai das refinarias.
“O combustível adquirido de forma mais barata influencia nisso, assim como pagar mais caro por falta de estratégia política e comercial também é uma realidade a ser observada para um curto prazo diante do que estamos vendo sobre as tarifas”, diz.
Um barril de diesel legalizado (dentro do limite de preços das sanções internacionais) em tese poderia ser vendido ao Brasil por no máximo R$ 556, em cotação de julho. Isso significa que o preço de compra por litro seria de aproximadamente R$ 3,5.
O preço nas bombas de R$ 5,97 tem acréscimos de custos de transporte, armazenamento, distribuição, lucro, impostos e a política de preços das empresas.
Ou seja, é difícil fiscalizar se o diesel russo que chega no Brasil burla ou não os limites de preço estabelecidos pelas sanções internacionais primárias. O Brasil não é signatário dessas sanções de limite de preços e não seria punido por comprar petróleo e derivados fora desses limites. Quem corre risco no momento são as transportadoras e seguradoras marítimas, que podem ser punidas internacionalmente se comercializaram esses produtos acima do limite de preços estabelecido.
Já se as sanções secundárias prometidas pela Casa Branca entrarem em vigor, nenhum tipo de importação de produto russo, por qualquer preço, poderá acontecer sem que o Brasil seja taxado em 100% em suas exportações para os Estados Unidos.
A manutenção das importações de diesel e outros combustíveis russos pelo Brasil é vista como uma jogada de risco ao governo e à diplomacia brasileira pelo doutor em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo (USP), Luiz Augusto Módolo.
Ele alerta que há tempos o Brasil deveria pensar em ampliar sua própria exploração e refino ou em parceiros diversos, não ficando na dependência quase exclusiva de um fornecedor majoritário. O especialista lembra que, embora o governo brasileiro possa considerar economicamente vantajosa a aquisição de combustíveis russos, o custo diplomático pode superar os ganhos imediatos.
“Quem está comprando pode até fazer um cálculo e achar que vale a pena. Mas, em termos de provocações desnecessárias aos Estados Unidos e aos seus aliados — dos quais o Brasil, inclusive, vem se afastando, não sei se vale o risco”, afirmou Módolo.
Para Armando Cavanha, o Brasil correrá grande risco se fora alvo de sanções americanas e ainda adotar alguma retaliação comercial aos Estados Unidos. “Retaliar pode piorar as relações comerciais e nos deixar ainda mais isolados. Por isso, a única saída responsável é a diversificação dos fornecedores e a construção de uma estratégia de longo prazo para o refino [em território nacional] e a importação”.
Armando Cavanha afirma que o Brasil precisa de segurança energética e autonomia. “Se trata de proteger o funcionamento do país. Não podemos correr o risco de parar os caminhões porque não temos diesel ou porque apostamos todas as fichas em um só fornecedor”.
Para ele, o Brasil está diante de uma escolha decisiva : ou avança para uma política energética madura e previsível, ou continuará à mercê de interesses geopolíticos externos que não priorizam a estabilidade nacional.
Importadores brasileiros de óleo diesel estão começando a buscar alternativas para substituir o diesel russo devido à pressão dos Estados Unidos e da Otan (aliança militar ocidental) por causa da guerra e por causa de um aumento gradual de preços implementado por Moscou no Brasil.
Nesta segunda-feira, o presidente americano Donald Trump ameaçou reduzir o prazo inicial de 50 dias para entrada em vigor das sanções internacionais secundárias contra parceiros comerciais da Rússia.
Donald Trump havia anunciado em 14 de julho que vai impor tarifas de 100% para países que fizerem negócios com a Rússia enquanto o ditador Vladimir Putin não aceitar negociar um cessar-fogo na Ucrânia.
Em 2024, o Brasil foi o segundo maior comprador de diesel russo do planeta, gastando R$ 38 bilhões, segundo o think tank finlandês Centre for Research on Energy and Clean Air (CREA).
O país só ficou atrás da Turquia, que revende o produto para outros países.
A compra do diesel russo pela Petrobras e por importadores privados havia aumentado exponencialmente desde 2022, quando Moscou passou a vender o combustível a preços muito mais baixos que os de mercado para países em desenvolvimento com o objetivo de financiar a invasão militar à Ucrânia.
"O desconto do diesel russo hoje não é tão relevante, mas existe", disse o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo.
Atualmente companhias de transporte marítimo e seguradoras podem ser alvo de punições de países do G7 (grupo das sete maiores economias democráticas do planeta) e da União Europeia se transportarem petróleo russo e produtos derivados para serem vendidos acima de um preço limite.
A ideia do preço limite é limitar a fonte de receitas da Rússia mas não causar um desabastecimento global dos produtos.
Apesar de ser autossuficiente na produção de petróleo, o Brasil não tem estrutura em refinarias, exigindo a importação de combustíveis. Somente com o diesel, o país traz do mercado externo cerca de 15 bilhões de litros por ano. Isso representa 35% do diesel que o país utiliza. A demanda nacional é de mais de 67 bilhões de litros por ano.
No ano passado, 65% das importações vieram da Rússia, 17% dos Estados Unidos, 6% dos Emirados Árabes, 5% do Kuwait e os demais 7% de outros mercados.
“O Brasil é um país de diesel, de caminhões, de estradas. Não temos ferrovia [com alta capacidade] nem uma navegação de cabotagem forte. A base da logística nacional é o transporte rodoviário, precisamos do combustível”, explica o engenheiro em Petróleo Armando Cavanha, professor da PUC.
Essa dependência, que se intensificou nos últimos anos, é resultado de uma falha histórica no desenvolvimento do parque de refino brasileiro. “O Brasil não tem capacidade de refino suficiente para produzir todo o diesel que consome. As refinarias foram feitas para serem complementares, dentro de uma lógica de monopólio. Quando isso se quebrou, não houve investimento suficiente para manter a estratégia de forma autônoma”, diz o professor.
Com as tentativas frustradas de privatização e a ausência de novos investimentos no setor, o país se viu cada vez mais dependente de fornecedores externos.
“Se houver uma ruptura brusca com o fornecimento russo, o Brasil terá que correr para outros mercados — Estados Unidos, Arábia Saudita, Índia, Qatar — e, certamente, pagará mais caro”, diz o engenheiro.
Antes da invasão da Ucrânia, o maior fornecedor do Brasil eram os Estados Unidos. Agora, os importadores voltam a sondar fornecedores em Washington e nos países árabes, segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).
Se o Brasil deixar de comprar da Rússia tende a conseguir suprir sua demanda, mas há risco de desabastecimento temporário e impacto no preço final. Para piorar, o Brasil não tem estoques estratégicos de diesel, o que deixa o país ainda mais vulnerável.
“Nos Estados Unidos, há estoques de petróleo que garantem abastecimento por até 40 dias. Aqui, nosso estoque está nos tanques das refinarias".
Desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022, o Brasil praticamente dobrou suas importações de produtos russos. O valor gasto pelo país em compras da Rússia aumentou de US$ 6,2 bilhões em 2021 para US$ 12,2 bilhões em 2024. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Esse aumento nas importações russas ocorre de forma constante, mas se potencializou sob o comando de Lula (PT), que tem se mostrado cada vez mais próximo de Vladmir Putin e de Moscou.
O governo saiu ganhando ao evitar uma subida descontrolada nos preços do diesel, o que poderia gerar inflação e desagradar a classe dos caminhoneiros. Mas agora pode pagar caro se não mudar de política antes dos Estados Unidos adotarem as sanções secundárias contra países que compram petróleo e derivados da Rússia.
Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que regula e fiscaliza o setor, o valor do diesel nas bombas apresentou uma redução ao longo do governo de Lula. Em janeiro de 2023, no início do mandato, o preço médio do litro do diesel S-10 ao consumidor era de R$ 6,40.
Já na segunda semana de julho de 2025, o valor médio registrado nas bombas ficava em todo o Brasil em R$ 5,97. Essa variação, segundo o economista Rui São Pedro, representa uma queda nominal no preço final pago pelos motoristas, mas refletindo, em parte, as mudanças na política de preços da Petrobras e as reduções promovidas no valor do combustível que sai das refinarias.
“O combustível adquirido de forma mais barata influencia nisso, assim como pagar mais caro por falta de estratégia política e comercial também é uma realidade a ser observada para um curto prazo diante do que estamos vendo sobre as tarifas”, diz.
Um barril de diesel legalizado (dentro do limite de preços das sanções internacionais) em tese poderia ser vendido ao Brasil por no máximo R$ 556, em cotação de julho. Isso significa que o preço de compra por litro seria de aproximadamente R$ 3,5.
O preço nas bombas de R$ 5,97 tem acréscimos de custos de transporte, armazenamento, distribuição, lucro, impostos e a política de preços das empresas.
Ou seja, é difícil fiscalizar se o diesel russo que chega no Brasil burla ou não os limites de preço estabelecidos pelas sanções internacionais primárias. O Brasil não é signatário dessas sanções de limite de preços e não seria punido por comprar petróleo e derivados fora desses limites. Quem corre risco no momento são as transportadoras e seguradoras marítimas, que podem ser punidas internacionalmente se comercializaram esses produtos acima do limite de preços estabelecido.
Já se as sanções secundárias prometidas pela Casa Branca entrarem em vigor, nenhum tipo de importação de produto russo, por qualquer preço, poderá acontecer sem que o Brasil seja taxado em 100% em suas exportações para os Estados Unidos.
A manutenção das importações de diesel e outros combustíveis russos pelo Brasil é vista como uma jogada de risco ao governo e à diplomacia brasileira pelo doutor em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo (USP), Luiz Augusto Módolo.
Ele alerta que há tempos o Brasil deveria pensar em ampliar sua própria exploração e refino ou em parceiros diversos, não ficando na dependência quase exclusiva de um fornecedor majoritário. O especialista lembra que, embora o governo brasileiro possa considerar economicamente vantajosa a aquisição de combustíveis russos, o custo diplomático pode superar os ganhos imediatos.
“Quem está comprando pode até fazer um cálculo e achar que vale a pena. Mas, em termos de provocações desnecessárias aos Estados Unidos e aos seus aliados — dos quais o Brasil, inclusive, vem se afastando, não sei se vale o risco”, afirmou Módolo.
Para Armando Cavanha, o Brasil correrá grande risco se fora alvo de sanções americanas e ainda adotar alguma retaliação comercial aos Estados Unidos. “Retaliar pode piorar as relações comerciais e nos deixar ainda mais isolados. Por isso, a única saída responsável é a diversificação dos fornecedores e a construção de uma estratégia de longo prazo para o refino [em território nacional] e a importação”.
Armando Cavanha afirma que o Brasil precisa de segurança energética e autonomia. “Se trata de proteger o funcionamento do país. Não podemos correr o risco de parar os caminhões porque não temos diesel ou porque apostamos todas as fichas em um só fornecedor”.
Para ele, o Brasil está diante de uma escolha decisiva : ou avança para uma política energética madura e previsível, ou continuará à mercê de interesses geopolíticos externos que não priorizam a estabilidade nacional.