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O Senado Federal se prepara para votar nesta quarta-feira o projeto de lei que eleva de 513 para 531 o número de deputados federais — uma medida que representa um acréscimo de custo anual estimado de R$ 64,6 milhões só na Câmara, com impacto nos Legislativos estaduais e municipais.
Mesmo sem consenso entre líderes partidários e sob protestos isolados de senadores, a proposta já aprovada pela Câmara tende a avançar nessa semana, mesmo com o Congresso esvaziado por festas juninas e viagens internacionais de parlamentares.
A sessão no Senado será semipresencial, ou seja, os parlamentares poderão votar no plenário ou remotamente - por vídeo.
O PLP 177/2023 vai na contramão do equilíbrio fiscal e do desejo da maioria do eleitorado. O texto de autoria da deputada Dani Cunha (União Brasil) reage à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que mandou atualizar a distribuição de cadeiras na Câmara, no ano passado, conforme o Censo Demográfico de 2022.
Contudo, ao invés de redistribuir assentos entre os estados — o que levaria à perda de vagas para alguns — a Câmara optou por ampliar o número de deputados, acomodando interesses políticos locais, com total apoio do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos).
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), minimizou os gastos adicionais com a medida. “A avaliação de despesas já foi feita. Não acarretará aumento. A Câmara fez estudo sobre isso. O correto é fazer uma ampliação em vários estados para fazer valer o aumento já para as próximas eleições”, disse Davi Alcolumbre.
Os parlamentares críticos à proposta ressaltam não apenas o impacto fiscal, mas também o momento inadequado e o “efeito cascata” nas assembleias estaduais e nas câmaras municipais.
Apesar disso, a maioria dos senadores se mantém calada ou complacente com a medida.
A ausência de alterações no texto por parte do Senado é vista por analistas, por sua vez, como um gesto político do presidente da Casa, Davi Alcolumbre, ao presidente da Câmara, Hugo Motta, em meio a outras negociações. Eles estão compromissados com propostas de interesse de cada um dos lados.
Para Marcus Deois, da consultoria política Ética, a aprovação sem mudanças do projeto serviria de barganha para um acordo maior entre as presidências das duas Casas, sobretudo no âmbito da tramitação em comissão do Senado do novo Código Eleitoral, que amplia a duração de mandatos no Congresso.
“O Senado tem todo o interesse em aprovar o aumento do número de deputados, para que a reforma eleitoral também passe na outra Casa sem questionamentos quanto à mudança do mandato de senador de oito anos para 10 anos”, disse.
A opção que congressistas querem evitar é a de unificar todos os mandatos em cinco anos.
A movimentação pela criação de mais 18 vagas de deputados na Câmara ocorre quando 76 % dos brasileiros se dizem contrários, segundo pesquisa Datafolha realizada entre 10 e 11 de junho. Só 20 % da população brasileira aprova a medida.
O novo total populacional do país (203 milhões de habitantes) dividido pelas 531 cadeiras daria média de 382 mil habitantes representados por cada deputado. O cálculo endossa bancadas maiores, onde a população cresceu, como Santa Catarina, Amazonas, Pará, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Ceará e Rio Grande do Norte.
Mas a fórmula mantém artificialmente o número mínimo de oito deputados para estados como Acre e Roraima, que teriam menos pela proporção populacional. E preserva as bancadas de estados que perderiam assentos, como Paraíba, Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Sul.
As 18 novas cadeiras que podem criadas na Câmara serão dividas entre nove estados. Dois deles - Santa Catarina e Pará - terão direito a mais quatro deputados cada um, caso o projeto seja aprovado. Com isso, a Câmara dos Deputados passará dos atuais 513 para 531 parlamentares.
Confira abaixo quais estados devem ganhar mais deputados :
Amazonas : mais 2 deputados;
Ceará : mais 1 deputado;
Goiás : mais 1 deputado;
Minas Gerais : mais 1 deputado;
Mato Grosso : mais 2 deputados;
Pará : mais 4 deputados;
Paraná : mais 1 deputado;
Rio Grande do Norte : mais 2 deputados;
Santa Catarina : mais 4 deputados
Conforme determina a Constituição, o número de deputados estaduais também mudará se a lei sobre o aumento de deputados federais vier a ser aprovada.
Isso porque as Assembleias Legislativas devem ter o triplo da representação do estado na Câmara dos Deputados, ou seja, o triplo do número de deputados federais. Dessa forma, se um estado passar de 8 deputados federais para 10 deputados federais, por exemplo, a Assembleia Legislativa dessa unidade da federação passará de 24 deputados estaduais para 30 deputados estaduais.