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O governo de Lula (PT) tem tratado com leniência a onda de invasões de propriedades privadas e até de instituições públicas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), aliado histórico dos petistas.
Não só pela raridade de críticas ou condenações aos crimes cometidos, mas também pelo indisfarçável afago aos militantes.
Enquanto os invasores promoviam no Brasil uma sucessão de invasões sob a bandeira do “Abril Vermelho”, Lula acomodava em sua comitiva à China e aos Emirados Árabes Unidos o líder do MST, João Pedro Stédile.
É verdade que, diante da escalada de invasões, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, repudiou os atos, e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, condicionou a manutenção do diálogo à desocupação das propriedades.
Mas as reações foram tímidas — e tardias. Antes delas, o governo Lula cedeu à pressão do MST.
Desde o início do mês, o MST já ocupou nove imóveis rurais, oito em Pernambuco e um no Espírito Santo, uma propriedade de 11 mil hectares em Aracruz onde se planta eucalipto para produzir celulose (a Justiça confirmou que a Suzano é a proprietária e determinou a reintegração de posse).
Sob o pretexto de defender a reforma agrária e lembrar o Massacre de Eldorado dos Carajás, o MST tem invadido também instalações públicas, como as sedes do Incra em 12 estados, e até terras da Embrapa em Pernambuco.
A invasão ocorreu em áreas cultiváveis e de preservação da Caatinga, comprometendo, segundo a Embrapa, “a vida de animais ameaçados de extinção, além de pesquisas para conservação ambiental e uso sustentável do bioma”.
Um dos objetivos das invasões é ocupar espaço na máquina pública, e o governo tem cedido à pressão descabida. Numa das ocupações, o movimento pediu a exoneração de Wilson César de Lira Santos, superintendente do Incra em Maceió e primo do presidente da Câmara, Arthur Lira. Ele permanece no cargo, mas o governo trocou as chefias do Incra em sete estados por nomes indicados pelo MST. É ridículo que tenha se deixado chantagear delegando nomeações.
O outro objetivo do MST é sabotar a aproximação entre o governo federal e lideranças empresariais rurais, essencial para formular políticas eficazes para o campo.
As ligações estreitas entre PT e MST são conhecidas e preocupam o agronegócio. Por mais que as trajetórias de partido e movimento se cruzem, Lula deveria saber que a complacência com a onda de invasões tem custos altos.
A bancada do agronegócio pode negar ao Planalto votos de que precisa para aprovar projetos e reformas importantes. A grita no Congresso já começou. O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Pedro Lupion (PP), disse que “é absurda a leniência do governo federal”.
O MST sempre alegou que só invadia terras improdutivas. Balela. As ocupações deste ano, que começaram poucas semanas depois da posse, têm sido feitas em fazendas produtivas, desrespeitando o Estado de Direito, levando insegurança ao campo e aumentando o risco de conflitos agrários.
Invasão de propriedade privada ou pública não é questão política. Deve ser tratada pela polícia e pela Justiça. Independentemente da proximidade de seus líderes com o Planalto, os invasores precisam responder por seus atos.