
Ricardo Teixeira decidiu não voltar mais aos Estados Unidos, onde tem uma casa. Teme pisar nos Estados Unidos e ser imediatamente convocado a prestar contas à Justiça americana.
A Polícia Federal pediu o indiciamento do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) Ricardo Teixeira pelos crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade ideológica e falsificação de documentos públicos em um inquérito concluído no início deste ano.
Com a conclusão do inquérito, ele foi enviado pela PF ao Ministério Público Federal, a quem cabe analisar a investigação da PF e decidir se pede à Justiça a abertura de um processo contra o ex-presidente da CBF.
Procurado, o Ministério Público Federal não tinha informações sobre o caso imediatamente.
Ricardo Teixeira foi presidente da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, por 23 anos, entre 1989 e 2012. Nos últimos quatro anos como cartola, acumulou ainda o cargo de presidente do Comitê Organizador Local da Copa. Nesse mesmo período, Ricardo Teixeira movimentou em suas contas R$ 464,56 milhões, como ÉPOCA revelou no dia 1º. Quase meio bilhão de reais.
A fortuna movimentada por Ricardo Teixeira foi rastreada pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf.
Agora, um documento obtido por ÉPOCA mostra uma nova linha de investigação. Trata-se de uma carta que aponta Ricardo Teixeira como sócio oculto de duas empresas, em parceria com um personagem notório do mundo da bola : Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona.
É a primeira vez que aparecem evidências de um laço societário entre Ricardo Teixeira e Sandro Rosell. Trata-se de um evidente conflito de interesses. Ricardo Teixeira presidiu a CBF enquanto Sandro Rosell era o dirigente da Nike que cuidava do contrato com a CBF.
O empresário Cláudio Honigman completa o trio. Sandro Rosell e Cláudio Honigman também foram indiciados pela Polícia Federal em janeiro, no caso do apartamento e outras operações.
Os três, segundo a PF, atuavam em conjunto. A carta, apreendida em 2011 pela Polícia Civil do Distrito Federal, foi encontrada no computador de Vanessa Precht, sócia de Sandro Rosell. O documento integrou uma investigação no Distrito Federal por causa de um jogo da Seleção Brasileira em Brasília, entre Brasil e Portugal. Em 2008, o governo de Brasília contratou uma empresa que tinha Sandro Rosell como sócio para promover o evento. A PF do Rio pediu aos colegas que compartilhassem as informações. O material foi parar no inquérito que indiciou Ricardo Teixeira, Sandro Rosell e Cláudio Honigman no começo do ano.
A carta não tem data ou assinatura. O destinatário é Sandro Rosell. Os investigadores sabem que o remetente é um especialista do mercado financeiro. Ele participou das negociações que menciona e diz que tomou um tombo da turma de Ricardo Teixeira, Sandro Rosell e Cláudio Honigman. O documento detalha a compra de uma corretora chamada Alpes, em 2008, por algo entre R$ 22 milhões e R$ 25 milhões. Foi uma operação para esquentar o dinheiro da turma, segundo a PF. Na compra da Alpes, segundo o ex-sócio da turma, Ricardo Teixeira, Sandro Rosell e outros dois parceiros ficariam responsáveis por 32% da corretora. Tudo às escondidas, de modo que ninguém soubesse da parceria entre Ricardo Teixeira, que presidia a CBF, e Sandro Rosell, que foi o dirigente da Nike responsável pelo contrato da marca com a CBF. De acordo com o documento, Cláudio Honigman, que atualmente está foragido, brigou e rompeu com o resto do grupo. O autor da carta relata então que Sandro Rosell foi pessoalmente à casa de Ricardo Teixeira informar sobre a intenção de tirar Cláudio Honigman do negócio.
O denunciante narra que Ricardo Teixeira recebeu a parte que lhe cabia. Conta que teve de pagar a entrada de um imóvel que o grupo comprou em um shopping do Leblon e o descreve: o valor (R$ 646 mil), o tamanho do escritório (506 metros quadrados), a quantidade de salas (três) e o andar (4º).
A turma não pagou ao investidor o dinheiro que lhe devia. Por isso, o autor ameaçou entregar o verdadeiro dono do negócio: Ricardo Teixeira. Escreve o denunciante, atropelando o bom português e a pontuação: “Me liga o Cláudio novamente me pedindo em nome do Sandro Rosell, para eu assinar pois se não o Inácio iria botar na Justiça. E envolveria o nome do Ricardo Teixeira, através da mulher dele, dona da empresa que ele tinha colocado para ser sócio no percentual do Ricardo Teixeira, na empresa dona das salas justamente para não aparecer o nome do Ricardo Teixeira”.
Uma reportagem da Folha de S.Paulo, de 2013, mostra que uma das empresas de Sandro Rosell pagou R$ 2,8 milhões a uma empresa da então mulher de Ricardo Teixeira, Ana Carolina Rodrigues, justamente na venda de salas comerciais no Shopping Leblon, em 2011.
Em outras palavras, as informações narradas na carta são corroboradas por documentos comerciais e bancários.
Como é a primeira vez que aparecem evidências de um laço societário entre Ricardo Teixeira e Sandro Rosell, isso pode agravar o peso das acusações contra os dois. Indica que eles agiam em sintonia. As informações da carta e do inquérito da PF mostram que Ricardo Teixeira era não só beneficiário, como operador do esquema.