PLACAR

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Inter injeta 6 milhões de reais anuais para manter um corpo de detetives
(formado por olheiros e advogado) que reviraram federações - e até os arquivos da CBF - em busca de contratos que estejam por encerrar. Tudo para conquistar jogadores bons e baratos. É o caso do meia
Thiago Humberto, revelação do Barueri e que será colorado a partir de janeiro. Somente nas categorias de base são despejados cerca de 5 milhões de reais ao ano para pagar comissões técnicas e jogadores. "Em cinco anos, teremos um time inteiro formado em casa, o que permitirá ao Inter contratar grandes jogadores para uma ou duas funções pontuais", afirma Giscard Salton, diretor da base colorada "Antes desse prazo, ainda poderemos guardar a equipe principal para disputar a Libertadores, enquanto o time B jogará o Estadual em condições de ser campeão", diz o dirigente.
Para formar esse grupo "caseiro", o clube firmou parcerias com equipes menores e empresários. Um time com quinze profissionais percorre o Brasil garimpando atletas dos 10 aos 18 anos. A mesma metodologia é utilizada pelo clube em competições na América do Sul. Em especial nos torneios realizados no Brasil : enquanto o
Inter joga em determinada sede, os olheiros viajam por todas as demais cidades do torneio para filmar e analisar a garotada. Clubes pequenos costumam ser o alvo mais fácil; afinal, os próprios meninos se deslumbram com a estrutura colorada e forçam a transferência. O olheiro já aborda os pais dos meninos - ou seus empresários ou os dirigentes da equipe - apresentando a eles um DVD com a estrutura do Beira-Rio e um projeto que será desenvolvido para o guri.
Esses talentos garimpados enfrentarão a dura segunda divisão gaúcha - sem moleza, levando botinadas de becões de fazenda - antes de serem promovidos ao grupo principal, pelo Inter B, idealizado há sete anos como um "programa de graduação" para que a garotada dos juniores não chegasse "crua" para a torcida. Nos últimos anos, o projeto foi encorpado. De lá, saíram os atacantes campeões mundiais
Alexandre Pato e
Luiz Adriano e, mais recentemente,
Sandro e
Taison, titulares de Mário Sérgio, além do atacante
Léo e do meia
Marquinhos, que já compõem o grupo principal.
Outros jogadores revelados na base do
Inter nos últimos anos : o atacante
Nilmar, o goleiro
Renan, o atacante
Rafael Sóbis, o zagueiro
Titi e o lateral-esquerdo
Ramon.
A caçada vermelha a novos talentos não respeita tamanho clubístico ou tradição. O Vasco, famosa fábrica carioca de pedras preciosas, segue como alvo. Até o fim da temporada, dois garotos trocarão São Januário pelo Beira Rio. O
Inter aposta na estrutura da sua categoria de base, nos salários em dia e na chance de em pouco tempo estar no time principal e disputando títulos.
O caso de
Bambam, atacante revelação do Fortaleza e comprado pelo
Inter nesta temporada, serve como exemplo. O garoto de 18 anos está há dois meses no Beira Rio e ainda não jogou. Antes, passou por um processo de recuperação física, ficou sob os cuidados de um nutricionista, de um médico e de um dentista - que tratou uma série inflamação na gengiva do guri.
Mas também há jogadores que fazem parte dos desejos colorados por um tempo e que não podem ser contratados imediatamente. Com
Giuliano foi assim. Em 2005, Giscard Santon viu o meia levar o Paraná nas costas até a final do Torneio de Londrina (Sub-15). Perdeu a decisão para o
Inter. Desde lá, o guri transformou-se em uma obsessão no Beira Rio. O vídeo com suas jogadas passou a fazer parte da coleção de DVDs do Futcenter, uma espécie de sala de espionagem do clube. São quase 3500 DVDs, com jogos da base, com jogos das Séries A, B e C, jogos dos estaduais, da Copa do Brasil, da Libertadores e dos campeonatos europeus. Quando o empresário oferece um jogador, o
Inter vai conferir seus atributos neste acervo. Não será o DVD entregue pelo agente que balizará o negócio. O setor também edita vídeos com jogadores do clube, para exibir em caso de venda.
Giuliano estava na mira do
Inter havia três anos, até ser contratado em dezembro de 2008. Por 2 milhões de reais, o
Inter comprou 50 % dos direitos do meia do Paraná - o restante já pertencia a Traffic. Hoje,
Giuliano não deixará Porto Alegre por menos de 10 milhões de euros "Temos memória de elefante. Jamais esquecemos um bom jogador. Contratamos assim que possível", diz Salton, brincando.
O
Inter formou seu próprio banco de investimentos. Dele fazem parte investidores como Delcyr Sonda e Edy Cracco - hoje, os principais parceiros do clube - mais quatro endinheirados que vêm investindo no Colorado.
O plano vai além de abastecer o time principal. O
Inter pretende formar jogadores adequados ao mercado europeu. A necessidade de fixar o zagueiro Bolívar como lateral-direito na Copa Sul-Americana de 2008 alertou para as carências do futebol brasileiro. Assim, a ordem no Beira Rio passou a ser formar atletas com características de jogo da Champions League. Os laterais serão marcadores, para compor uma linha de quatro defensores. Isso facilitará futuras vendas, acreditam os dirigentes. Os esquemas dos times da base já foram unificados com os da equipe de cima, com duas linhas de quatro e dois atacantes.
Recentemente, o
Inter acertou com o Tottenham o intercâmbio de jogadores profissionais que não estavam sendo aproveitados. Os ingleses podem colocá-los no time principal ou reemprestá-los para outros times menores da Europa. Caso eles sejam vendidos, o Colorado repassa 20 % da transação para os londrinos. O acordo não inclui joias como o volante
Sandro - nesse caso, as negociações caminham pelo preço de mercado.