Não me refiro aqui às "fake news" plantadas por gente mal intencionada — como o Kiko de Roberto Vazquez ou o acidente de avião que teria matado o elenco —, mas sim àquela categoria de notícia mais puxada pro "Não é bem assim".
Sem mais lenga-lenga, vamo entender do que que eu tô falando.
OS CRÉDITOS DOS PIRATAS
Em 1991, a Top Tape lançou um VHS com episódios de Chapolin. Nele vinham "Expedição arqueológica" e as partes 1 e 2 dos piratas.
Anos mais tarde, chamou a atenção dos fãs o fato de que os créditos da parte 2 eram diferentes dos atuais, exibidos por TLN, Multishow etc.
lucasoap escreveu: Vendo alguns vídeos do Chapolin no Youtube acabei parando na segunda parte do episódio dos piratas em espanhol. O vídeo foi gravado da Televisa e quando chega no final eles cortam o anúncio da terceira parte feito pela Florinda e jah pulam direto para os créditos finais. Só que esse créditos não são iguais aos que saíram nas fitas da TOP TAPE aqui no Brasil, tem uma caveira sentada na mesa segurando o tal do tesouro que iriam enterrar. Talvez esses créditos fossem da terceira parte.
Cheguei a questionar isso em um grupo, em conversa com o nosso amigo @Mr. Zero:
Até que, na madrugada de sábado (26) para domingo (27), a saga dos piratas entrou para o catálogo do +SBT. E não é que os créditos da parte 2 eram os mesmos que todos julgavam ser da parte 3?
La vida te da sorpresas... Sorpresas te da la vida...
A FAMÍLIA AZCÁRRAGA E O HOTEL DE ACAPULCO
Tudo começou em 2017, quando o Fórum Chaves produziu um especial sobre os 40 anos da saga de Acapulco. Nele consta a seguinte informação, obtida em conversa com o Edgar Vivar:
Ninguém questionou. Até porque, se não fosse uma publicidade, que sentido faria o Senhor Barriga dizer que "sempre que venho a Acapulco fico nesse hotel"? Ou o Chato Resto justificar a pança saliente com um "come-se tão bem neste hotel"?Fórum Chaves escreveu:Em 1977, o hotel era de propriedade da família Azcárraga, que também era dona da Televisa, a principal cadeia de emissoras do México. Como forma de promover o empreendimento e, também, realizar episódios especiais do Chaves, decidiu-se levar toda a turma para gravar alguns capítulos para as séries.
Porém não havia nada na internet que relacionasse os Azcárraga com o Hotel Continental (hoje Emporio). Pelo contrário! Tudo indicava que a família era dona de outro hotel: o Ritz, localizado a 2km de distância.
Sendo mais direto, a família Azcárraga nunca foi dona do Emporio. O que também não quer dizer que esse hotel não tinha vínculos com a Televisa. Vou explicar!
Tem um cidadão chamado Miguel Alemán Velasco. Ele ocupou o cargo de vice-presidente da Televisa no mesmo período que foi proprietário do Continental.
Essa correlação permitiu não só que o elenco de Chaves gravasse uma série de episódios no hotel como que uma atriz fosse contratada para se apresentar ali, como nos conta María Antonieta.
María Antonieta de las Nieves, em sua autobiografia, escreveu:Terminamos esa temporada porque Valentín Pimsteín nos ofreció llevar El Chou de La Chilindrina al hotel Continental, propiedad del señor Miguel Alemán Velasco, así que el gran productor de telenovelas de Televisa, nos produciría dos temporadas más.
Uma curiosidade interessante é que o pai de Miguel (o falecido Alemán Valdés) foi presidente do México e é sempre apontado como o responsável por tornar Acapulco um destino turístico. Acontece que no pós-guerra, os latinos tinham medo de viajar para fora do ocidente e Valdés viu como alternativa impulsionar o turismo no México, apostando suas fichas em Acapulco. E deu certo. Como diz o outro, não contavam com a sua astúcia.
A história completa está neste vídeo do Vila do Chaves:
Nossa história começa com um relato do dublador Carlos Seidl que foi trazido pra cá em 2014:
Por anos, a hipótese de que Seidl teria dublado "El Chanfle" na MAGA, a partir desse relato, era praticamente confirmada. Até que, em 2019, tivemos a oportunidade de entrevistar o Carlos para o nosso podcast e o @luispancada aproveitou para passar essa história a limpo. O áudio e a transcrição estão abaixo.Valette Negro escreveu:Há poucas semanas, estivemos reunidos entre fãs numa mesa de rodízio e, longe dos holofotes, Seidl fez algumas revelações do passado [...]
Seidl dublou Ramon Valdes em um longa-metragem com os atores de Chaves. O longa causou-lhe surpresa, pois não tinha nada a ver com Chaves nem Chapolin. Agora, sabe-se se ele dublou o único filme que o Ramon participou com a turma; El chanfle [...] Algo interessante é que há algum tempo, o fã Giovani Ramos (Giovani Chambón) disse que em algum momento da “história”, o SBT havia exibido trechos de “El chanfle”, classificando-os como “acervo do SBT” e ninguém acreditou nele. Será que agora acreditam???
O único "filme" de Chespirito que Seidl lembra de ter dublado é beeeem conhecido por nós...
CON HUMOR REPRISOU EM CHESPIRITO?
Já falei disso outras vezes, mas é sempre bom bater na tecla: Con Humor NÃO foi reprisado em Chespirito.
Pra quem tá por fora: entre 1993 e 94, existiu o programa Con Humor, que tinha o mesmo elenco de "Chespirito", mas era exibido em outro horário. O meio CH teve conhecimento dele por meio deste relato:
No entanto, o trecho que eu destaquei foi mal interpretado: teve quem entendesse que, com o término do "spin off", os episódios gravados para ele foram re-exibidos em "Chespirito". Tem nada a ver.Óscar Julián Restrepo escreveu:Eu vi estes episódios de Chespirito [isto é, os episódios de 1994] pelo Canal de Las Estrellas do México, e as novas esquetes diferentes pertenciam a um "spin-off" de Chespirito que durou pouco tempo no ar, em 1994, chamado "Con Humor".
A abertura (narrada também pelo marido de Ma. Antonieta de las Nieves) dizia "Con Humor!!!... ao estilo Chespirito!!", era um programa de meia hora e justamente as únicas esquetes que me lembro são do programa apresentado por Edgar Vivar ("Increíble... pero Ciento por Ciento!!") e o noticiário apresentado por Ma. Antonieta e Rubén Aguirre.
O que o Óscar quis dizer é que, com o término de Con Humor, os personagens desse programa dariam às caras em "Chespirito", em novos roteiros/histórias/gravações, conforme o jornal El Informador apontou:
Não é difícil de entender.Gloria Calzada, na edição de 22/03/1994, escreveu:Quanto a Chespirito, ele voltará a ter uma hora de duração, com a diferença que agora ele se transformará em um coquetel, já que 'Chespirito' e 'Con Humor' serão um só, exibido como sempre todas as segundas, às oito da noite, pelo Canal de Las Estrellas.
AS FITAS DAS NOVELAS
Pra boa parte do fórum, isso é página virada, mas como já vi um pessoal das antigas por fora, vou reforçar.
Não. Chaves não veio como conteúdo extra das novelas. Não veio numa caixa de papelão. Não foi comprado pra subtituir uma novela "que deu errado". Eu já li que Chaves veio numa permuta com o filme "Padre Pedro e a Revolta das Crianças", que teria sido vendido pros mexicanos. Azideia
Sendo curto e grosso, isso tudo é viagem. A história real é esta:
Em setembro de 1983, Rubens Passaro, cunhado de Silvio, era diretor do Miss Brasil e foi recrutado para fazer uma viagem ao México. Lá, ele faria companhia à miss e conheceria a Televisa para entender como os mexicanos conseguiam produzir até 8 novelas ao mesmo tempo. Rubens chamou essa experiência de "estágio".
Num belo dia, ele recebeu uma ligação de Silvio.
"Rubinho, eu acabei de assistir a uns 5 minutos de um programa chamado El Chavo. Assiste aí e vê o que você acha, e procura o Bolaños pra ver se ele vende os direitos pra nós" |
Rubens conta que foi à casa de Chespirito, que teria indicado a Protele para a compra. Lá, ele foi recebido pelo brasileiro Augusto Marzagão, que disponibilizou as fitas para Passaro que, chegando no Brasil, encaminhou elas para o Núcleo de Dublagem, dirigido por Salathiel Lage. Com dublagem em mãos, o conteúdo foi apresentado para a alta cúpula da TVS, que avaliou ele em notas de 0 a 10. Décadas mais tarde, Magrão revelaria que deu nota 1 para o Chaves, enquanto que seus colegas foram unânimes na nota 0.
Como a História mostra, a reprovação não surtiu efeito e os seriados estrearam em agosto de 1984.
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O intuito deste tópico não é deslegitimar o trabalho de pesquisa do passado, mas entender essas informações como passíveis de mudanças, cabendo a nós fãs a atualização de acordo com o que está ao nosso alcance. Temos ainda muito o que descobrir e desvendar. Ansioso para as contribuições de vocês.