No meio de tudo isso, Chespirito com uma interrogação na cabeça. Pra onde correria o viés de humor? Podemos perceber nessa temporada, tanto em Chaves quanto em Chapolin, um grande caldeirão de experimentos, misturando aspectos cartunescos à "realidade" empregada até então, como se houvesse a tentativa de fundir a lógica do mundo real com a dos desenhos animados.
Claro que piadas visuais do naipe das que serão citadas mais a frente sempre existiram, mas nada se compara ao excesso e à freneticidade desse período. Podemos perfeitamente dividir esse tipo de conteúdo em pré e pós 1975. Ele abrandou e muito nos anos posteriores, como uma represa que rompe em abundância e vai gradualmente acalmando.
Em Chapolin, podemos constatar o ápice em A Lei da Marreta Biônica: a vaca no bar, o cuspe explosivo do Marlombríssimo, o tiro na nuvem, as pegadas do pisoteio no Vermelhinho, as peças comidas, a volta nos ponteiros do relógio... Tudo na mais pura identidade visual das animações. Também percebemos isso na elasticidade dos personagens, como o Seu Madruga esmagado ou o marido ocioso tendo a cabeça puxada.
As situações de morte evidente de um personagem e seu reaparecimento depois como se nada tivesse acontecido se faz presente, como na explosão do Nhonho. E a frequência dos balões de pensamento, então? Fora inúmeros outros casos: o gol da Dona Florinda, a caveira do Seu Madruga no espelho, a tatuagem de barquinho no Lagartixa, o tronco serrado significando sono... Além de roteiros inteiros calcados nessas maluquices: O Radinho do Quico, A Casa da Bruxa e o próprio A Lei da Marreta Biônica.
O que mudou? Por que Bolaños desistiu de adotar tal postura em seus seriados, trazendo-os de volta à "normalidade" em 1976? Criei esse tópico para debatermos sobre a direção das piadas, o limite do surreal em um live-action, as intenções de Roberto com esse teste e para apontarmos outros casos do tipo nessa temporada tão complexa, lógico!
