O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - CONCLUÍDO

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Antonio Felipe
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - obra ficcional

Mensagem por Antonio Felipe » 29 Abr 2009, 12:53

31º CAPÍTULO: Lembranças que não se Apagam

Já fazem dois dias que o aluguel venceu e não encontro saída para pagar essa dívida. Não tenho a menor idéia do que fazer, ainda estou pensando se vou mesmo aceitar o emprego que o Elisandro me ofereceu, mas não poderia pedir um adiantamento, já o enchi demais com meus pedidos anos atrás. Tenho uma filha para cuidar, duas barrigas para encher e a única porta que está defronte a mim é a da minha casa.

E nisso tudo, fico pensando na minha vida miserável. Não é possível que uma pessoa sofra tanto, ao longo dos anos. Oh, Deus, que fiz eu para passar por tantas provações? Não basta que eu fosse agredido por meu pai, perdesse cedo minha mamãezinha, perdesse minha querida Maribel, meu amigo Frederico e todas as coisas boas que ainda surgiram? Como pode um ser humano passar por tudo isso? É cruel! Simplesmente cruel!

Ás vezes, tenho terríveis pensamentos. Pensamentos que, só de me lembrar, já me causam grande arrependimento só pelo fato de tê-los imaginado. Outro dia, estava no banheiro, me barbeando e fiquei longos minutos contemplando minha imagem refletindo no metal reluzente da gilete. Uma voz ao meu ouvido dizia:
“faça isso, Madruga, é sua única chance! Esqueça todas as provações! Acabe logo com isso!” e outra me dizia: “ninguém pode tirar a sua própria vida. Deixe que o tempo leve sua alma consigo, quando chegar a hora, verdadeiramente”. A primeira voz parecia ser a do meu pai. E a segunda, de Maribel. Faz todo o sentido. Meu pai considerava-me um estorvo, apenas um lixo parido por minha mãe, por mera obrigação. Já Maribel me apoiava a cada momento, mesmo os mais difíceis.

Por um momento, me lembrei de minha adolescência. Eu tinha 16 anos. Fazia um bico numa mercearia, carregando sacos e caixas para todo lado. Era um rapaz bonito, modéstia à parte. Talvez o exercício tenha servido para fortalecer minha musculatura. E isso, de certa forma, contribuiu para que eu chamasse a atenção de uma garota, a filha do dono da bodega. Era uma linda moça, cabelos escuros que escorriam até seus ombros, emoldurando seu magnífico rosto claro, olhos verdes como uma jóia que vi certa vez num antiquários. Era pouco menor que eu, usava roupas bonitas e tinha formas que causariam alvoroço em qualquer garoto de minha idade. Tinha 14 ou 15 anos, não me lembro. O momento me fez esquecer tudo isso.

Certo dia, o trabalho era estafante, estávamos próximos do Dia dos Mortos e as pessoas não paravam de entupir a mercearia para comprar coisas para servir em oferenda a seus entes queridos. Depois de três horas a fio, levando todo tipo de peso nas costas, finalmente encontrei tempo para descansar. Estava sozinho num depósito, com sacas para todos os lados, o cheiro de trigo era forte. E ela então surgiu num canto. Disse que há muito prestava atenção em mim, que adorava ver-me trabalhando, às escondidas. Ela envolveu seus braços em meu tronco, ficamos com os rostos próximos. Perguntei-lhe se o suor não a incomodava, ela disse que não, ao contrário, lhe entorpecia. Estava claro que era a primeira vez que via um homem de sua idade à frente, afora seu gordo pai e os trogloditas que também eram empregados do lugar. Senti o cheiro de seu cabelo moreno, olhei em seus olhos e perguntei se ela sabia o que estava fazendo. Ela não me respondeu. Apenas senti seus lábios tocando os meus. Então, eu estava beijando-a. Nunca tinha feito isso antes. O máximo de beijo que tinha passado perto de mim, com aquela intensidade, tinham vindo de um casal, numa praça, e no cinema, na rara vez que fui, dois anos antes, creio.

Depois de alguns segundos sentindo seus lábios tocando os meus, ela me puxou pelo braço até um canto, entre muitas sacas de milho. Ela estava fora de si. Quando vi, seu magnífico colo claro estava à mostra. Que cena incrível. Foi algo que marcou-me para sempre. Pude tocá-lo, acariciá-lo. Depois, vi o restante de seu inigualável corpo. Cheguei a me beliscar, por que parecia um sonho. Ela então foi deixando o meu corpo à mostra. O que aconteceu nos quinze minutos depois foi uma sensação digna dos melhores sonhos. Nem a melhor das refeições, o melhor dos filmes, a melhor das cenas iria igualar-se. Alcancei um estágio que só poderia ser comparado – se é que isso seria possível – a uma bebedeira.

Então ele entrou no depósito. Señor Ramirez, lembro até hoje. Ao ver os dois corpos e notar que um deles era de sua única filha, ele enlouqueceu. Vi a menina sendo covardemente espancada por Ramirez, os outros homens que o acompanhavam, olhando desejosos para o lindo corpo branco que ali estava. Depois, ele me pegou pelos cabelos, puxou um facão de uma mesa próxima e ameaçou cortar-me, justo lá. A mutilação só não foi realizada por que ele preferiu ver meu sangue verter do braço esquerdo. Não foi um corte profundo, mas sangrou bastante. Ele então me levou até em casa. Contou para meu pai o que aconteceu. E só fui acordar num hospital, três dias depois. Hematomas se espalhavam por todo o corpo. O braço esquerdo agora estava enfaixado. E o antebraço direito, fraturado.

Demorei a tocar em mulheres nos anos que se passaram. Acovardei-me. A morte de meu pai ajudou a me libertar disso.

Lembranças malditas que não se apagam. Só servem para mostrar que minha vida sempre foi um amontoado de horrores. Será que acabou? O quê mais estará por vir?
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - obra ficcional

Mensagem por Antonio Felipe » 29 Abr 2009, 12:54

32º CAPÍTULO: Dias Melhores Virão?

Quando a fome aperta, a vergonha afrouxa. Eu não tenho vergonha de ser pobre, muito pelo contrário. Eu sou vitorioso por estar vivo, tendo passado por tudo isso que passei. É a verdade pura e simples. Mas é difícil. Muito difícil. Tremendamente difícil passar pela situação atual.

Pensei bastante, aliás, demorei tanto para pensar que acabei perdendo o emprego que o Elisandro tinha me oferecido. Fiquei uma noite inteira sem dormir por causa disso. Aceito ou não esse emprego? Há três dias atrás, cheguei a colocar uma roupa bem alinhada, gravata e tudo o mais para ir aceitar o emprego. Quando estava no portão da vila, dei meia volta. É tão ruim essa espécie de medo ao trabalho. Eu sempre trabalhei muito na vida. Mas hoje tem sido mais trabalhoso ter que trabalhar.

O aluguel venceu há três dias. O Senhor Barriga esteve por aqui e me cobrou. O que fazer? Disse com todas as letras que não tinha dinheiro. Ele me deu mais cinco dias para providenciar a grana. E três dias já se passaram. Mas não tenho como pagá-lo. O que tinha, gastei para comprar um remédio para a Chiquinha, que adoeceu. E isso deu tanto problema. A garota, com problemas no estômago, tinha que tomar um xarope pra lá de amargo. Eu tentei de todas as maneiras convencê-la a tomar o xarope. Nada adiantava. Acabei usando um pouco da força, é verdade. Mas era o que havia para o momento. E ainda usei daquele velho e conhecido artifício que falar que o velho do saco vai te pegar.

Velho do saco...Pobre do homem que passou pela vila ontem. Um rapaz moreno, grande, que compra e vende coisas da casa. Como ele estava carregando um enorme saco, contendo os badulaques que vende, as crianças acabaram confundindo-o com o ladrão de criancinhas. O Chaves até reagiu com mais força, batendo nele. E eu fiquei com o peso na consciência de ter contado essa história.

No fim, pelo menos a Chiquinha tomou seu remédio. Agora, quem precisa de remédio sou eu. Um remédio para essa situação tão ruim. Não quero ter as estrelas como teto, não quero que minha filha more na rua comigo. Dias melhores virão?
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - obra ficcional

Mensagem por Antonio Felipe » 29 Abr 2009, 16:01

Andei lendo os meus textos do Diário e resolvi voltar a escrevê-lo! Segue o 33º capítulo, inédito! :joia:

Capítulo 33 – O Primeiro Despejo

E a vida segue. E ela segue. E ela permanece seguindo, levando embora todos os meus sonhos e derrubando com as minhas esperanças. Tudo é tão passageiro. É um vai-e-vem de alegrias e tristezas, confusões e todo o mais que se possa imaginar.

E a vida segue nessa vila. Muitas coisas acontecem ao passar dos tempos. Já faz dois meses desde que comecei a dever o aluguel. O Senhor Barriga está indignado comigo, e com razão. Éramos grandes amigos quando ele era zelador da vila. Hoje, o gordo é dono de todo esse cortiço e viramos inimigos, de certa forma. Vivemos quase sempre como um gato caçando um rato.

Mas antes de falar disso, preciso contar algumas coisas que aconteceram na vila nos últimos tempos.

Primeiro, resolvemos fazer uma festinha por aqui. Eu, Chiquinha, Quico, Dona Florinda, Dona Clotilde, todos nos reunimos no pátio para fazer uma pequena festa. Minha menina até tocou violão, vejam só! Violão...Ah, o violão. Bons tempos aqueles em que as paixões suspiravam de donzelas, er...Digo, as donzelas suspiravam de paixão. Bons tempos aqueles em que cantava para Maribel, em noites de luar, aquela música tão bela:

“Quero ver...Outra vez...Seus olhinhos noite serena...”

No fim das contas, a confusão se instalou na vila. Como sempre. O que mais tem acontecido por essas bandas é confusão das grandes. O Chaves esses dias aprontou uma para o Quico...O filhote de buldogue não quis lhe dar um pirulito. O Chavinho veio até mim pedir um troco para comprar pirulitos e assim fazer inveja ao Quico. De início recusei, mas depois, pedi pra ele levar umas coisas lá pra fora e acabei-lhe dando uns trocados. Ele então foi na venda da esquina e comprou dois pirulitos. Ele chegou com os dois à vila, um na boca e o outro na mão e este, ofereceu ao Quico. O garoto não gostou do sabor do pirulito. E eis que o Chaves contou que tinha deixado um cachorro faminto dar umas lambidas no pirulito! E deu esse pirulito ao Quico! Logo ele começou a berrar pela mãe dele. Eu fui no pátio ver o que era, o guri me contou a história e então chega a Dona Florinda, que pergunta o que aconteceu. Ele responde:
“Mamãe! Ele me deu um pirulito lambido por um cachorro!” E o pior é que eu tinha tirado o pirulito da mão do Quico pra jogar no lixo. A velha ensebada pensou que eu tinha feito a traquinagem e acabei levando um tabefe na cara. Que droga!

E apareceu dia desses uma senhora esquisita na vila...Uma tal de Edwiges, que alugou um apartamento no fim da escada do primeiro pátio. Ela parecia meio gagá, reclamou muito dos carregadores que trouxeram sua mudança. Depois disso, entrou em casa e outro dia, durante a manhã, quando nem os passarinhos cantavam, ela saiu. E ainda não voltou. Diz o Barriga que ela é meio pirada, assim mesmo.

E por falar no gordo, justo no dia que eu tinha conseguido dinheiro para pagar pelo menos um mês de aluguel atrasado (já tinham completado dois), ele vem aqui e coloca minhas coisas na rua. Tive um trabalho enorme para conseguir a grana, porque eu tive que...bem...Acho melhor deixar para explicar isso em outra hora. Bom, acontece que eu guardei esse dinheiro em casa, num lugar bem escondido – por que a Chiquinha deu para encontrar o dinheiro que eu volta e meia tenho em casa. Se ela encontra uma moeda que seja, logo pega e vai à venda comprar doces para fazer inveja ao Quico e ao Chaves. Pois bem, guardei esse dinheiro em um envelope e saí. Só que com toda aquela confusão dos móveis, do despejo, acabei me esquecendo de onde tinha guardado. Briga pra lá, briga pra cá e quando vê, o gordo acaba quebrando o roupeiro da Chiquinha – o maluco entrou lá para pegar o Chaves, que estava azucrinando-o, e quando os meninos derrubaram o móvel, ferrou. No fim, achei o dinheiro, que estava no roupeiro. Paguei um mês, mas ainda devo um. E não sei quando vou conseguir pagar o restante.

A vida segue na vila...


Próximo capítulo: Bruxas e Vizinhas
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - 33º CAPÍTULO INÉDITO!!!!!!

Mensagem por Chápulo » 29 Abr 2009, 16:19

Parabéns Antonio Felipe, sua história é muito legal. Sempre que puder eu leio ela.

Uma pequena correção:
Antonio Felipe escreveu:Uma tal de Edwiges,
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - 33º CAPÍTULO INÉDITO!!!!!!

Mensagem por racha cuca » 29 Abr 2009, 18:55

Antônio Felipe,me permita dizer que VOCÊ É UM GÊNIO . A História é D+,Parabéns!!!

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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - 33º CAPÍTULO INÉDITO!!!!!!

Mensagem por Bruno Bolaños » 29 Abr 2009, 19:48

Parece ser demais, quando eu tiver vontade de ler eu dou uma olhada nos textos :)
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - 33º CAPÍTULO INÉDITO!!!!!!

Mensagem por Professor Linguiça » 30 Abr 2009, 22:43

Antônio Felipe, você já está pensndo em publicar o livro?

Você escreve muito bem, acho que se você procurar alguma editora que já lançou algum livro sobre Chaves elas podem se interessar pela sua obra (quando estiver completa).

Se lançarem o livro eu vou comprar... :feliz:

Ah, e parabéns pelo livro... :joia:

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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - 33º CAPÍTULO INÉDITO!!!!!!

Mensagem por Antonio Felipe » 01 Mai 2009, 17:21

Não é especificamente um livro, é de imediato um conto dividido em capítulos...

Quando estiver pronto, talvez eu procure uma editora, quem sabe?
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - 33º CAPÍTULO INÉDITO!!!!!!

Mensagem por Jader » 01 Mai 2009, 18:06

Quanto tempo, nem lembrava mais... como sempre muito bacana Antônio :joinha:
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - 33º CAPÍTULO INÉDITO!!!!!!

Mensagem por Mestre Maciel » 03 Mai 2009, 20:46

Mais ou menos quantos capítulos faltam pra terminar a história, Purcino? Há alguma estimativa?
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - 33º CAPÍTULO INÉDITO!!!!!!

Mensagem por Antonio Felipe » 04 Mai 2009, 09:07

Mestre Maciel escreveu:Mais ou menos quantos capítulos faltam pra terminar a história, Purcino? Há alguma estimativa?
Eu acho que ainda estamos na metade...Vou percorrer as temporadas e termino com a morte do Ramón. Acho que precisamos de mais uns 20 a 30 capítulos.
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - 33º CAPÍTULO INÉDITO!!!!!!

Mensagem por Antonio Felipe » 04 Mai 2009, 15:07

Segue mais um capítulo fresquinho:

Capítulo 34 – Bruxas e Vizinhas

Há bastante tempo esta vila não esteve tão movimentada. Muita gente tem passado por aqui para procurar apartamento, isto porque o Barriga resolveu colocar um anúncio no jornal oferecendo os imóveis a preços camaradas. Há alguns dias, apareceu aqui uma velhota meio gagá, uma tal de Dona Edwiges.

E eis que surgiu aqui, nesta humilde vila, uma figura como poucas vezes vi na minha vida. Uma bela figura, que tomou conta de meus pensamentos e de minhas ações. Talvez apenas três vezes na minha vida eu tenha sentido o que senti por essa figura. Faltam-me adjetivos para classificar aquela figura. Divina, bela, belíssima, magnífica, angelical, formosa, amorosa, gloriosa...Gloriosa...Oh, sim, gloriosa é a palavra certa para definir esta figura. Uma mulher chamada Glória. Bela, bela, bela, tão bela que nem os sonhos mais incríveis são capazes de criar tal imagem.

Glória, uma mulher de uns trinta e poucos anos, eu diria, mas com um corpo que eu não daria mais de vinte e cinco. Ela estava acompanhada de sua filha, Paty. Juntas, vieram até a vila para procurar um apartamento. Tão logo a vi, me enamorei. Fiquei embriagado com suas feições. Uma moça bonita, bem-feita, formosa, como poucas vi na minha vida. Acho que só Bel lhe faz frente.
E tão logo ela surgiu, conquistou a antipatia da Dona Clotilde, que não se fez de rogada e saiu a dizer coisas a respeito da moça. E por isso, ela acabou me chamando para tomar um café em sua casa. Com esse café, descobri algumas coisas interessantes. O diálogo foi mais ou menos assim:


- Bem, Seu Madruga, o que achou da moça que veio procurar apartamento. – pergunta a Clotilde.
- Sinceramente?
- Sim.
- É uma das mais belas moças que já vi em toda a minha vida, Dona Clotilde
Ela fez uma cara como de quem comeu algo azedo.
- Bem...A princípio, não me parece gente de bem. – fala ela – E olhe que tenho jeito para julgar as pessoas. Poucas vezes erro nos meus julgamentos.
- Mas o que a faz pensar isso?
- Bem, uma moça com essa idade, sozinha, com a filha a tiracolo...Não deve ser fácil suportá-la.
- Mas isso pode não significar nada...
- Ou pode significar tudo, seu Madruga.
- E falando nisso, Dona Clotilde...A senhora nunca se casou?
- Bem...Bom, sim, eu já fui casada. Mas meu marido se foi.
- Ele morreu?
- Não, não. Ele está senil. Tinha alguns anos há mais do que eu, acabou adoecendo e perdeu a razão. Vive hoje numa casa de repouso.
- Isso há muito tempo?
- Bom, você nunca me viu aqui nesta casa com um senhor de idade, não é?
- Não.
- Pois é.
- Certo...E, mal que eu lhe pergunte, a senhora é daqui da capital mesmo?
- Não, não...Sou espanhola.
- Espanhola? Ora, mas que interessante...Nasceu onde?
- Em Madrid.
- Madrid...Ah, Madrid, sempre sonhei em conhecer aquela cidade quando era toureador...Mas por que saiu de lá?
- Foi por causa da guerra. Eu já era casada, tinha 25 anos. Um general, me lembro o nome mais, destruiu nosso país. Como eu era contrária ao regime, tive que sair da Espanha. Nos mudamos para Cuba, mas acabamos saindo por que a ilha era um local perverso...Saí de uma ditadura para entrar em outra. E assim vim parar no México, em 1950, se não me engano.
- A senhora tem saudades da Espanha?
- Muita saudade, muita saudade...Tenho mais saudade ainda de minha irmã, que ficou por lá. Ela tinha apenas sete anos, ficou com nossos pais. Ainda recebo correspondências dela de vez em quando...
- E a senhora nunca teve filhos?
- Filhos?
- Sim.
- Mas olhe que horas são, Seu Madruga! Já está na hora de me recolher...O café estava bom, o papo estava agradável, mas já é tarde, Ramón. Até amanhã.

Assim terminou a conversa...E olhe que eram cinco da tarde! Estranho...Será que a Dona Clotilde tem um filho e não quer me dizer? Ou será que ela não pode ter filhos? Muito estranho...Bom, também vou me recolher. Mas não dormirei sem antes pensar nessa mulher que está invadindo meus pensamentos...

Próximo capítulo: Não se Pode Fazer Consertos na Vila
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - ATUALIZADO em 04/05: 34º capítulo!

Mensagem por E.R » 04 Mai 2009, 15:19

A Paty é sobrinha da Glória, não filha. :joinha:

Ótimo texto.:) Dona Clô não gosta dos comunistas. :P
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - ATUALIZADO em 04/05: 34º capítulo!

Mensagem por Antonio Felipe » 04 Mai 2009, 15:22

E.R escreveu:A Paty é sobrinha da Glória, não filha. :joinha:

Ótimo texto. :)
Isso é o que eles acham ainda.

Mesmo que eu altere parte do texto original da série, vai ser importante para o próximo capítulo, onde vocês vão conhecer um pouco da história da Glória. :joinha:

E.R., a ditadura castrista em Cuba só começou em 1959. Refiro-me ao regime de Fulgêncio Batista, que era uma ditadura também...
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - ATUALIZADO em 04/05: 34º capítulo!

Mensagem por Chápulo » 04 Mai 2009, 19:43

Cada día que pasa, con cada capítulo tuyo, la historia se vuelve más interesante. Pocos textos son capaces de retenerme y de sumergirme tanto en una lectura apasionada (el último fue la serie de Caballo de Troya, de J.J. Benítez). Te felicito.

Perdoem-me por escrever em espanhol, mas as minhas idéias fluem melhor no meu idioma.

(Eu insisto: a louca da escada chama-se Eduviges!)
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