Mensagem
por Antonio Felipe » 24 Jul 2025, 21:09
Por mais que a série construa uma narrativa ficcional para tornar a história do Chespirito cinematográfica, para mim são indissociáveis as conexões com a realidade, especialmente quando isso tem um impacto na relação com a história, o presente e o futuro desse universo.
A série é bem competente na recriação de época e, especialmente, nas interpretações. O Pablo Cruz se transforma no Chespirito de forma extraordinária, trazendo tanto a candura quanto os diversos sentimentos que perpassam o Roberto nessa história. O Miguel Islas se tornou o Ramón à perfeição. Se escutá-lo de olhos fechados, vai parecer que é o Monchito. Destaques também para o Juan Lecanda, impecável como o Barragán, e a Paola Montes de Oca, ótima como a María. A Paulina Davila está excelente como a Graciela, sobretudo nos momentos mais difíceis.
Um dos maiores êxitos da série é mostrar o Roberto como um homem falho. Era um gênio, sem dúvida, mas ali estava um homem com todas as suas contradições, especialmente nessa dificuldade em lidar com uma paixão avassaladora pela Florinda, ao mesmo tempo em que tem o compromisso com a família. E sendo escrita por dois dos seus filhos, isso fica ainda mais à mostra, porque certamente muito do que vemos ali foi realmente como aconteceu - a cena da Graciela conversando com os filhos sobre a separação é bem dolorosa.
Por outro lado, a série acaba sendo uma ode à Graciela. Ela se torna a protagonista em vários momentos - e parece que a história foi estruturada para, justamente, ser um desagravo dos filhos à mãe, mostrando ao mundo aquela mulher que foi tão importante para o Roberto - e muito mais do que a Florinda, que é colocada como uma vilã nessa trama. O roteiro pesa ao colocar a Florinda como a raiz de todos os males, ainda que algumas situações ali tenham ocorrido, como ela intervir mais nas decisões criativas.
Outro problema é como o roteiro transforma as criações de Chaves e Chapolin como coisas extraordinárias, muito além do que realmente foram. Aquela montagem com os personagens do Chaves existindo na infância do Roberto foi muito forçada. É bonito como audiovisual, mas inverossímil com o que conhecemos. Aliás, coisas como o Chespirito numa briga eterna com executivos, pulando o muro ou as séries já sendo sucesso no Brasil nos anos 70 são coisas que me incomodaram bastante.
Essas flutuações de datas também deixaram a trama pouco fluída em vários momentos, fora essa incoerência com a realidade, como ao deslocar Acapulco para 1978, ou reiterar a história de que Chaves surgiu em 1971.
A série cumpre seu papel ao tornar essa história de Chespirito mais próxima e interessante para o público novamente, foi muito bem interpretada, mas esses problemas que, para mim, me batem muito, não me deixam confortável para dizer que foi uma série excelente. É excepcional em suas interpretações, em sua ambientação, mas especialmente as mudanças históricas me incomodaram.
Por fim, foi muito legal ver o Roberto Gómez Fernández interpretando o avô, bem como o Edgar sendo o Agustín. A participação da María poderia ter sido melhor aproveitada.
Administrador desde 2010, no meio CH desde 2003.