Televisão continua fazendo a diferença, mas os três candidatos são mostra de que não é mais decisiva
Algo aproxima Marcelo Freixo, Marcelo Crivella e Donald Trump. Não são, evidentemente, suas ideias. De gestos de agressiva intolerância não se pode acusar os dois candidatos à prefeitura do Rio. Mas a trajetória de suas campanhas eleitorais os aproxima e indica, talvez, uma mudança mais profunda na maneira de se chegar a um cargo público.
De sexta-feira para cá, o postulante republicano à Casa Branca começou a desidratar. Talvez, enfim, tenha ido longe demais no mau gosto. Mas, até o início da semana passada, Trump esteve sempre bem próximo de Hillary Clinton. Por momentos, até à frente.
Durante as primárias que o tornaram candidato, de acordo com a Comissão Federal de Eleições, Trump gastou pouco mais de US$ 71 milhões. No lado democrata, Hillary e Bernie Sanders queimaram US$ 230 milhões e US$ 227 milhões. A última vez em que alguém gastou tão pouco para ser escolhido candidato foi no ano 2000, quando George W. Bush e Al Gore se enfrentaram. Com correção monetária, até Bush e Gore gastaram mais.
Dinheiro, em eleição americana, quer dizer compra de espaço na televisão. O que permitiu a Trump gastar tão pouco foi, simplesmente, que ele não fez uma campanha via TV. Mesmo agora, durante a campanha presidencial, a diferença de gastos em TV entre a democrata e o republicano está girando, de acordo com números oficiais, na casa de 150 para 1.
No Brasil, o tempo da TV é de graça. E corrompe as candidaturas, fere de morte seus programas. O critério para fazer coalizões é aglutinar minutos, não debater projetos. Foi assim, afinal, que PT e PMDB terminaram juntos. Nesta eleição carioca, Pedro Paulo, com sua imensa coligação, teve 3min30s. Jandira Feghali, 1min27s. Indio da Costa, 1min24s. Crivella teve 1min11s, e Marcelo Freixo, apenas 11s.
Televisão continua fazendo a diferença. João Doria e Fernando Haddad eram os candidatos com mais tempo em São Paulo. Mas Trump, Freixo e Crivella são mostra de que não é mais decisiva. Para candidatos que representam as ideias de grupos muito coesos, com a internet é possível romper o bloqueio da falta de dinheiro. Isso é bom.
Embora Trump seja prova de que é bom, mas nem sempre.