A retomada da produção de carros no Brasil pela Mercedes não significa que a montadora buscará, "a qualquer preço", a liderança do mercado premium no Brasil, disse o presidente da filial, Philipp Schiemer, na inauguração da fábrica de Iracemápolis (SP), na última quinta-feira (23).
O primeiro modelo "brasileiro", o Classe C 180, chegará às lojas no mês que vem.
O SUV GLA, que será o segundo produto da linha, deve começar a ser feito no 2º semestre.
"Sempre se quer ser líder, mas não a qualquer custo. É fácil : eu abaixo os preços e vendo mais do que a concorrência. Mas queremos a liderança com rentabilidade. Se isso não for possível, não é o fim do mundo", afirmou.
Em 2015, a marca alemã ficou atrás da Audi por muito pouco, considerando as vendas de carros, sem contar com vans (comerciais leves), que a rival não produz. Ambas aumentaram as vendas em mais de 40% em relação a 2014.
Para analistas ouvidos pelo G1, esse resultado foi influenciado por uma mistura de novos produtos com estratégia de preços agressiva de ambas as marcas, além de expansão da rede de concessionários, ampliação de opções de financiamento, melhoria no pós-vendas com preços fixos de revisões e construção de fábricas - Audi e BMW também passaram a produzir no país. A próxima, também neste ano, será a Jaguar.
As quatro montadoras adotaram o discurso de que os carros feitos no Brasil não ficarão mais baratos do que quando eram importados.
Além do baixo volume - a fábrica da Mercedes tem capacidade para 20 mil carros ao ano, pouco mais do que as 17 mil unidades emplacadas em 2015 -, o dólar alto pressiona. "2016 é muito difícil de programar. Mais cedo ou mais tarde, (o dólar alto) fica no preço. Quando ? Depende do mercado", diz Schiemer.
A Mercedes não revelou em quanto tempo pretende recuperar o investimento de "mais de R$ 600 milhões" para erguer a fábrica no interior de SP. E também não quis comparar o custo de produção que um mesmo modelo tem no país e no exterior.
"É muito difícil comparar, mas o Brasil tem uma logística extremamente cara e um sistema trabalhista que é um dos mais caros do mundo", afirmou Schiemer. "E, em geral, falta escala (volume de produção) para ter custos por unidade reduzidos."
Ao falar da crise polícia e econômica do país, o presidente da Mercedes tentou não tomar posições, mas afirmou que "o Brasil perdeu toda a sua credibilidade" perante investidores. "O melhor cenário não está à vista no curto prazo. O que precisa é retomar a credibilidade e depois fazer reformas", opinou. "O maior problema é o desajuste fiscal. (O investidor pensa) Vou receber meu dinheiro de volta? As contas públicas estão desajustadas. Após ajustá-las, é preciso estabiliza-las."
A marca, no entanto, reforça que a fábrica demonstra que tem planos a longo prazo para o país.
"Estamos aqui há 60 anos, já vimos muita coisa acontecer. Continuamos acreditando na força do Brasil", resumiu Markus Schäfer, do conselho mundial da Mercedes, responsável pela implantação da nova fábrica, ao ser perguntado se a crise forçou a montadora a fazer algum ajuste nos planos. "Seguimos otimistas, não estamos aqui para 1 ou 2 anos."
Schiemer, no entanto, afirmou que o início de um segundo turno, que começaria no ano que vem, quando a linha já terá, além do Classe C, o SUV GLA, foi adiado. "Agora não tem previsão", disse. Também não há planos de exportação, por ora. "Acordos bilaterais são importantes. O Brasil está muito desafasado em relação a outros países (em acordos comerciais)", declarou o executivo.