Terminei de ler o livro "O efeito Marina - Bastidores da campanha que mudou o rumo das eleições", que ganhei num sorteio do site Controvérsia em parceria com o grande sebo Pacobello. Trata-se de um livro datado, que faz um recorte dos bastidores de uma campanha específica, a de Marina Silva à presidência da República em 2010, ainda no PV. O relato pessoal deste período foi feito pelo ex-deputado federal Alfredo Sirkis.
O formato de expor o conteúdo central do livro não me agradou muito. São impressões de postagens feitas por Sirkis na internet durante a campanha. Nisso, acabam reproduzindo expressões coloquiais (como "youtubeiros", "pinto", etc.), que não ficam bem em livros. A leitura acaba sendo "pausada" a todo momento e os mesmos assuntos retornam em outras partes do livro, já que ele é dividido em centenas de "posts" de blog (salvo o texto inicial e os anexos finais). Um relato dividido em capítulos maiores ficaria melhor.
Além disso, o relato da época da campanha acabou trazendo outras coisas que Sirkis abordou durante o período. Nisso, ele acaba durante longa parte do livro falando sobre a relação do Lula com o governo do Irã, sobre o Partido Verde e sobre eventos internacionais sobre o clima, que tem relação mas fogem um pouco (alguns muito) ao objeto central do livro, o tal "efeito Marina", expressão que traz a ideia de passar a imagem de Marina como um ser humano que conquista o amor das pessoas (baseado na expressão de Gilberto Gil - "vou votar em Marina porque meu coração assim ordenou") e propõe um novo realinhamento na política brasileira, onde PT e PSDB governariam juntos em um novo governo que não tivesse no Executivo central um ou outro, superando-se a polarização ideológica.
Destaque para a publicação dos e-mails trocados entre Sirkis e o deputado Chico Alencar, do PSOL, que havia chamado o PV de "partido de aluguel". Chico recebeu um "textão" e parou de responder os e-mails do colega deputado. Destaque também para os adjetivos raivosos atribuídos ao Plínio, hoje já falecido. A tal "jurássica criatura", "boneco amargurado", "quase delirante", "burguês grão-paulistano", "patético burguês", "quatrocentão do PSOL" recebeu muitas críticas do autor do livro. Sua raiva com o candidato chega a ser engraçada.
Sirkis ainda traz outros assuntos - como sua opinião sobre o voto proporcional -, compara a Revolução Cubana com a da Costa Rica, diz (em 2011) ser impossível o Brasil perder a Copa de 2014, e traz a conceituação do que ele chama de "jornalismo de tese", onde o jornalista já tem uma ideia em mente e apenas procura alguém para citar ou entrevistar de modo a ilustrar um conceito que ele mesmo quis trazer.
O autor ainda resgata um pouco as campanhas anteriores do PV à presidência, a de Gabeira e a sua própria, onde ele mesmo afirma não ter entrado para ganhar, o que é muito comum e possível em todas as eleições, mas quanto digo que acontece colegas insistem em desacreditar. Ele ainda conta coisas curiosas como quando, em campanha, um barco falhou e o candidato, para não perder um compromisso de campanha, foi até à margem nadando. Ao final, são transcritos diversos discursos e cartas de Marina Silva e do Partido Verde durante a campanha e quanto à adoção da postura de independência no segundo turno daquela eleição. Nesta parte final do livro, sua protagonista enfim ganha todo o espaço dele.