FOLHA DE S.PAULO
. Para salvar seu futebol da falência, o
Santo André recorreu a farmacêuticos, advogados, juízes.
O clube está nas mãos do empresariado do Grande ABC.
São eles que controlam 80% da equipe desde que o capital do futebol do clube foi dividido em cotas e colocado à venda, em 2006. A novidade atraiu pessoas que pouco ou nada tinham a ver com o esporte, mas que desejavam fazer novos investimentos. Pessoas como
Ronan Maria Pinto, proprietário do principal meio de comunicação da região e da maior parte da frota de ônibus da cidade.
"Comprei ações para participar, mas nunca com o intuito de administrar o futebol. Meu propósito era ficar como acionista, mesmo", diz o sócio majoritário da atual gestão.
Natural de Patos de Minas (MG), Ronan, 56, transformou-se em uma das pessoas mais influentes de Santo André, onde está há 26 anos. No setor de transporte, no qual começou como cobrador, fez dinheiro. Aos poucos, passou a circular pela política, o que resultou em novos negócios, como o ramo do lixo, e acusações de corrupção -
ele é réu em três processos relacionados a gestão de Celso Daniel, prefeito da cidade morto em 2002. "Estamos buscando a verdade. Estou sempre à disposição da Justiça."
Depois de enveredar para o ramo da comunicação, com a aquisição do "Diário do Grande ABC", Ronan partiu para a bola. "Para mim, o futebol é um desafio, como o jornal", afirma.
Quando apenas empresário, ele já ajudava o Santo André cedendo ônibus para levar a torcida ao estádio Bruno José Daniel. Uma antiga empresa sua também patrocinou o clube.
Agora, como
presidente do conselho de acionistas do time, ele interfere diretamente no dia a dia da equipe. Prova disso foi a queda do técnico Sérgio Guedes, anteontem. O treinador era contrário à reintegração de alguns atletas. Acabou demitido por bater de frente com Ronan e seu grupo.
O empresário afirma não ser um profundo conhecedor do esporte, mas
tem como um de seus braços direitos o veterano meia Marcelinho Carioca, 37.
A relação entre os dois extrapola os gramados.
No final deste ano, Marcelinho pretende se aposentar definitivamente. Em 2010, deverá ser candidato a deputado federal pela cidade. "O Marcelo está se tornando uma peça importante para a região", declara o empresário.
A chapa terá como candidato a deputado estadual Romualdo Magro Júnior, vice do conselho de acionistas do Santo André.
Essa relação próxima, quase familiar com o elenco, é uma marca do empresário. Certa vez, pediu a seus atletas que listassem todos os parentes que estivessem desempregados. Contratou a maioria e distribuiu-os por suas empresas.
"O irmão do Ramalho [ex-volante da equipe, atualmente no Goiás] foi para a empresa de ônibus, e a esposa do Alexandre [ex-lateral do time], para o departamento comercial do jornal", conta Ronan. "Cria vínculo com a cidade", explica.
Em 2006, a antiga administração do
Santo André, endividada, acertou um contrato de comodato com um
pool de acionistas. Por 20 anos, eles serão os responsáveis pela gerência do futebol do clube.
"O clube não aguentava mais tocar o futebol, que ficou muito caro. As cotas que o social aplicava não tinham mais fôlego", afirma o presidente do clube, Celso Luiz de Almeida.
A empresa criada dividiu o capital do futebol em cem cotas, vendidas a R$ 120 mil cada uma. O próprio Santo André ficou com 20%, referente ao plantel de jogadores.
A princípio, a antiga diretoria ficaria à frente da equipe, enquanto os empresários administrariam a parte financeira, mas resultados ruins fizeram
os investidores assumirem o controle do futebol.
Segundo Ronan Maria Pinto, o futebol, ainda deficitário em cerca de R$ 4 milhões, vai começar a gerar lucro aos acionistas a partir dos investimentos feitos na categoria de base.
A empresa adquiriu recentemente o hotel estância Santa Luzia, em Mauá, onde será instalado o futuro CT da equipe profissional. Cerca de 120 garotos já treinam no local.
Questionado a respeito dos próximos objetivos, Ronan diz : "O curto prazo são os resultados para o futebol. Tem de ganhar títulos". Diante da mesma pergunta, o mandatário da parte social não hesita. "Lucro. Nós queremos que dê bastante lucro", afirma Celso Luiz.
.
No Santo André, Marcelinho Carioca é tratado como rei. Salário mais alto do elenco, ele desfruta de privilégios como os de Ronaldo no Corinthians.
O que o clube recebe de um dos patrocinadores da equipe, uma loja de veículos, é utilizado integralmente para complementar o salário do jogador.
Assim, além dos R$ 720 mil que ganha do Santo André por ano,
Marcelinho recebe outros R$ 400 mil do patrocinador,
o que faz seu salário mensal chegar a quase R$ 100 mil.
O clube ainda ostenta na camisa as marcas de uma rede de planos de saúde e de uma loja virtual de calçados. De acordo com Romualdo Magro Júnior, vice-presidente do conselho dos acionistas, isso resulta em R$ 2 milhões de patrocínio por temporada.
Ao todo, a folha salarial do time - mais comissão técnica e funcionários - é de R$ 1 milhão por mês.
Além de Marcelinho Carioca, 37, a equipe conta com outros veteranos como o volante Fernando, 42, o zagueiro Dininho, 34, o meia Rodrigo Fabri, 33, o lateral Gustavo Nery, 32, e o meia Elvis, 30.
As premiações também agradam. A ambição dos dirigentes é participar de algum torneio sul-americano já na próxima temporada. Por isso, a cada rodada do Brasileiro, o elenco tem a chance de encher um pouco o bolso.
Se o time termina a rodada no G4, grupo dos classificados à Libertadores, cada atleta recebe R$ 2.000. Ficando na zona da Copa Sul-Americana, o prêmio é de R$ 1.000.