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Após a prefeitura liberar o funcionamento dos salões de beleza localizados dentro dos shoppings da cidade, proprietários de estabelecimentos à beira das ruas questionam os critérios usados na decisão.
Para os profissionais, a autorização deveria abranger todos os salões e barbearias do Rio de Janeiro, e não apenas parte deles, como ocorreu.
O fechamento das unidades há cerca de três meses trouxe queda de até 90% no faturamento mensal de cabeleireiros e manicures, que se sentem prejudicados com a reabertura parcial.
— Por que os salões dos shoppings podem reabrir e nós devemos esperar até o mês que vem ? É controverso. É mais provável que uma loja de rua atenda menos clientes. Nos shoppings, a chance de aglomeração é muito maior. Muitos profissionais estão precisando trabalhar, famílias sofrendo com a crise — afirma o cabeleireiro Bruno dos Santos Souza, de 36 anos, que trabalha no Espaço Léo Lopes.
Segundo Bruno, ele e outros trabalhadores precisaram se reinventar para não sofrerem ainda mais as consequências da pandemia.
— Nós estamos desde meados de março, quando o movimento já tinha reduzido bastante. A quarentena tem sido um período bem preocupante. Nas primeiras semanas eu não atendi nenhuma cliente. Comecei então a fazer os procedimentos na minha casa e também na casa delas, voltando aos poucos. Tive que me reinventar nesses três meses. Mas tive cerca de 70% a menos do meu faturamento mensal.
Da mesma forma, o cabeleireiro Rodrigo da Silva, de 41 anos, teve bastante prejuízo e lamenta não ter sido incluído na nova liberação.
— Vivo uma experiência de caos. Meu salão perdeu 90% do faturamento. Os salões dos shoppings foram liberados, o que deixa a dúvida sobre essa diferenciação. Consigo controlar o fluxo e manter todos os cuidados de higiene e proteção, assim como os de centros comerciais. Por que só eles podem reabrir ? — questiona ele :
— Nos salões de rua, as pessoas vão para fazer um serviço específico, o controle é mais eficaz. Nos shoppings, existe uma circulação grande de pessoas que podem acabar causando aglomerações internas.
A Subsecretaria de Vigilância Sanitária do Rio justifica essa diferenciação ao fato dos salões de shoppings serem um grupo pequeno, mais fáceis de serem acompanhados e fiscalizados sobre o cumprimento de regras e protocolos. O órgão lembra ainda que essas atividades precisam se adequar às novas regras. Durante o anúncio, a reabertura parcial havia sido definida como um "projeto modelo".
— A proposta é que esse pequeno grupo seja observado de perto para que na fase 3, quando ocorre a abertura de todo esse segmento na cidade, os protocolos e a capacidade de adesão sejam verificados. Por isso, os serviços também foram limitados ao corte de cabelo e à manicure. Após confirmado o cumprimento dos protocolos, poderemos abrir para todas as atividades ligadas à beleza — explica Flávio Graça, superintendente de Educação e Projetos da Vigilância Sanitária.
Agora, apenas os serviços de corte de cabelo e de pedicure estão liberados.
Segundo a prefeitura, clínicas de estética e de depilação não estão autorizados a abrir, assim como salões e barbearias de rua, que seguem com reabertura prevista para julho.
Para o infectologista e professor da Unig (Universidade Iguaçu), Roberto Falci da Silva Garcia, os riscos de contágio pelo coronavírus são os mesmos na rua ou dentro dos shoppings centers.
— Como infectologista, eu recomendaria que nenhuma das duas modalidades fosse aberta. No entanto, se permitiram que os salões dos shoppings voltassem a funcionar, não vejo motivo para não liberarem também os que estão à beira da rua — analisa.