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Sem a possibilidade de comer fora de casa, é muito provável que você seja integrante de um destes grupos : o dos que correram para a cozinha para preparar as próprias refeições ou o dos que aderiram às facilidades dos alimentos congelados. Se você se identificou com o segundo grupo, saiba que deve estar com a maioria (e isso não é uma boa notícia).
De acordo com a mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares, do IBGE, que analisou o consumo alimentar de 2017 e 2018, os alimentos processados representam mais de 18% das calorias consumidas pelos brasileiros - um aumento de quase 3 pontos percentuais em relação à última edição do levantamento, realizada há dez anos.
Estamos falando de lasanha congelada, refrigerante, salsicha, iogurte com sabor artificial. O número pode parecer pouco, mas acompanha o crescimento da obesidade no país. “Evidências consistentes de diversos estudos realizados no Brasil e em outros países têm demonstrado a associação do consumo de alimentos ultraprocessados com doenças ou fatores de risco, como obesidade, diabetes, hipertensão e até câncer”, diz Maria Laura Louzada, nutricionista e cientista do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde, da Universidade de São Paulo. “Essas opções têm maior concentração de calorias, açúcar e gorduras não saudáveis, e também menos fibras, vitaminas e minerais.”
Para Maria Laura Louzada, os que foram à cozinha estão mais próximos de manter uma alimentação saudável, já que, ao preparar as próprias refeições, aumentam a chance de consumir alimentos in natura. “Para algumas pessoas, a ausência de tempo é um grande obstáculo para cozinhar”, diz a nutricionista, destacando que existe, também, uma tendência em desvalorizar o tempo dedicado à alimentação.
Ela indica estratégias que podem facilitar o processo na quarentena e, após a crise, ser incorporadas no cotidiano. Uma delas é o planejamento completo das refeições : da lista de compras ao cardápio da semana, considerando o tempo para o preparo dos alimentos. Vale, por exemplo, calcular a compra de alimentos não perecíveis mensalmente, reduzindo o número de idas ao mercado.
Alguns itens são peças-chave para uma despensa funcional, que quebra o galho a qualquer momento. Arroz, feijão e óleo são a base, mas ingredientes como macarrão e ovos possibilitam o preparo rápido de refeições. “Pode ser útil armazenar legumes e verduras já higienizados no refrigerador ou picados no congelador, ou até mesmo congelar refeições individuais prontas em marmitas”, afirma.
Criadora do Panelinha, a cozinheira Rita Lobo engrossa o coro da turma do avental. Desde o início da quarentena, a apresentadora tem feito conferências ao vivo em suas redes sociais para ensinar, literalmente, o feijão com arroz. Para fugir da mesmice, ela tem mostrado, por exemplo, versões do cereal na panela de pressão e como dar uma nova vida aos grãos após o congelamento. “O resultado desse trabalho tem sido emocionante”, diz. “As pessoas ficam aliviadas ao ver que dão conta da própria alimentação, e algumas comentam que, consumindo mais comida caseira, até perderam peso na quarentena.”
Se a intimidade com a cozinha não é tanta, ela dá a dica : comece pelo almoço. “Na metade do prato coloque arroz, feijão e um pedaço de carne, para os que comem. Na outra metade, pelo menos dois tipos de verdura e legume”, diz, indicando ainda uma fruta como sobremesa. “Só de almoçar melhor, a alimentação como um todo começa a ganhar mais qualidade.”