O ESTADO DE S.PAULO
A Arena Corinthians está em dia com o pagamento de suas contas.
O problema é que os juros em cima das parcelas só fazem a dívida aumentar.
Cinco anos após a inauguração de sua casa em Itaquera, o Corinthians ainda deve aproximadamente, R$ 1,1 bilhão de um estádio que custaria inicialmente R$ 985 milhões.
A Odebrecht tem a receber ainda R$ 650 milhões e o BNDES, R$ 460 milhões.
O presidente Andrés Sanchez sabe que há juros e encargos em cima do valor inicial da construção, mas tenta renegociar esses valores.
Nas reuniões que têm acontecido entre as partes, o Corinthians argumenta que muitas obras prometidas não foram feitas ou cumpridas.
A Odebrecht justifica que não foram concretizadas porque outras, que não estavam programadas, foram pedidas pela gestão do estádio.
Um exemplo de construção fora do projeto inicial da arena é o espaço da imprensa no setor Oeste. Inicialmente, os jornalistas ficariam no quarto andar do estádio. No entanto, para não tirar espaço dos torcedores, as cabines de mídia foram realocadas para o 10.º andar. Teve custo. Uma prova de que não estava nos planos originais é que, para chegar ao local, os jornalistas precisam passar por um corredor com fiação aparente e ainda sem piso.
A relação entre Corinthians e Odebrecht não é ruim. Nunca foi. A construtora cogita tirar encargos e juros desse total da dívida, por exemplo. Dos R$ 650 milhões, o Corinthians só pretende pagar cerca de R$ 122 milhões, que é quanto o clube ainda tem a receber dos CIDs (Certificado de Incentivo ao Desenvolvimento).
Os CIDs são títulos emitidos pela Prefeitura de São Paulo e abatidos do imposto de renda de empresas. Já foram emitidos R$ 166,4 milhões em certificados, incluindo os R$ 45 milhões previstos para 2019. O saldo a ser utilizado, já considerando a atualização pelo IPCA, é de R$ 382,95 milhões.
Desse total, no entanto, a Odebrecht já se comprometeu a comprar R$ 260 milhões. Ou seja, restam os R$ 122 milhões.
Com o BNDES, cujo financiamento é feito via Caixa Econômica Federal, o Corinthians conseguiu um acordo para quitar a dívida até 2028, pagando parcelas mensais de R$ 6 milhões, de março a outubro de cada temporada, e R$ 2,5 milhões entre novembro e fevereiro, período em que há um menor número de jogos no calendário do futebol brasileiro.
Quanto já foi pago ? O Corinthians já pagou até agora R$ 306 milhões do estádio em Itaquera : R$ 140 milhões ao BNDES e outros R$ 166 milhões por meio dos CIDs. Esse dinheiro, o clube faz questão de destacar, é separado do valor arrecadado com venda de jogadores e patrocínios no futebol.
Cerca de 75% dos ganhos da bilheteria das partidas são destinados para pagar a dívida do estádio. O restante vem do que o clube arrecada com venda de camarotes, do tour no estádio, da academia e do aluguel das lanchonetes. O Corinthians não divulga números financeiros, com exceção da bilheteria. A assessoria do clube informou na quarta-feira que ninguém da diretoria falaria com a reportagem sobre o assunto.
A Odebrecht foi quem pagou toda a conta do estádio, que inicialmente estava orçado em R$ 820 milhões. Os custos passaram a R$ 985 milhões quando a arena foi definida como palco de abertura da Copa do Mundo de 2014. Com a correção para os dias de hoje, a Arena Corinthians deve ter custo total em torno de R$ 1,4 bilhão.
A construtora já recebeu os R$ 400 milhões adiantados pelo BNDES e também os R$ 166 milhões dos CIDs emitidos até 2019. Como comprou R$ 260 milhões dos certificados da Prefeitura, que são descontados do seu imposto, pode-se considerar que a Odebrecht recebeu R$ 826 milhões até agora.
Esse valor, corrigido pela inflação de 2015 para cá, daria R$ 975 milhões. Com isso, dos custos que teve com a obra toda, a empreiteira precisa receber só mais R$ 10 milhões para cobrir o valor investido no estádio inicialmente. O restante são juros e encargos.