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O ataque do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, às relações comerciais com o Brasil causou surpresa no governo brasileiro, pois a relação é vista como positiva, embora tenha ainda muito espaço para evoluir.
O norte-americano afirmou que as empresas de seu país são tratadas “injustamente” e que o Brasil está “entre os mais duros do mundo, talvez o mais duro.”
“Quando é o presidente Donald Trump quem diz que nossos negociadores são duros ,vindo de quem vem, eu tomo isso como elogio”, reagiu o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes.
“O comércio bilateral tem crescido nos últimos anos, com ganhos importantes para ambos os países”, disse o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge. “Há investimentos cruzados em diversos setores produtivos.”
Ele acrescentou que os dois países têm trabalhado em uma agenda “construtiva”, para atuar em temas como facilitação de comércio, cooperação regulatória e propriedade intelectual. “Há muito ainda para avançarmos em conjunto, mas entendo que estamos na direção correta", disse.
O secretário de Comércio Exterior, Abrão Neto, informou que nos últimos 10 anos a balança comercial entre os dois países tem sido superavitária para os norte-americanos, com um saldo positivo para os Estados Unidos de US$ 90 bilhões.
“Precisamos entender mais em detalhes o contexto e o teor dos pontos de preocupação externados pelos Estados Unidos”, comentou. “A relação comercial entre Brasil e Estados Unidos tem um viés positivo e crescente nos últimos anos.”
Em 2018, as exportações brasileiras para o país aumentaram 6,2% enquanto as importações de produtos norte-americanos subiram 13,3%. O saldo do ano é superavitário para o Brasil em apenas US$ 45 milhões. “Nossa avaliação é que ainda há uma avenida de temas a serem discutidos e que podem aprofundar ainda mais as relações dos dois países”, completou Abrão Neto.
Abrão Neto ressaltou que a relação entre os dois países são “muito positivas” e que a corrente de comércio tem um perfil “complementar e estratégico”. Os Estados Unidos são o segundo principal parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China.
O déficit aparece nas estatísticas americanas, informou o secretário. Elas são diferentes dos dados coletados pelo governo brasileiro, que apontam para um comércio equilibrado. No ano passado, por exemplo, foi registrado um superávit de US$ 2 bilhões a favor do Brasil, numa corrente de comércio que atingiu US$ 51,7 bilhões. Em 2016, ocorreu um déficit de US$ 650 milhões.
“Essa afirmação causa espanto à indústria”, disse o diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Eduardo Abijaodi. Ele explicou que há um grande número de empresas americanas instaladas aqui e brasileiras atuando nos Estados Unidos, de modo que o comércio intrafirmas é forte. “Exportamos muito e importamos muito”, comentou.
O diretor acrescentou que os norte-americanos têm muitos investimentos aqui, o que torna a relação com o Brasil diferente da que ele tem com países primordialmente exportadores, como a China.
“O Brasil é um país extremamente difícil para fazer negócios, por causa da burocracia e da tributação, mas não há nenhuma discriminação para os americanos”, avaliou o consultor Welber Barral, da Barral M Jorge. “O Brasil é difícil para os brasileiros, e isso prejudica a todos, principalmente a nós mesmos.” Ele acrescentou que na área de negócios de Donald Trump, o de serviços, o Brasil é mais aberto do que o norte-americano.
Os embates entre os dois países no campo comercial já foram mais numerosos, disse Barral. Ainda assim, há muita reclamação de parte a parte.
O caso mais recente foi o da ameaça de imposição de tarifas adicionais de 25% sobre as exportações de aço e de 10% sobre as vendas de alumínio produzidos Brasil. Concretizada, a medida provocaria fortes perdas à indústria nacional. Mas, depois de muito barulho, foi fechado um acordo que estabeleceu cotas para as exportações brasileiras. “Elas satisfizeram ao setor”, comentou Abijaodi.
Uma briga antiga é a do comércio do açúcar. Os Estados Unidos consomem 12 milhões de toneladas por ano e produzem 9 milhões de toneladas. Metade dessa deficiência é suprida pelo México. O restante é dividido entre os demais países produtores do mundo. A fatia do Brasil, maior produtor mundial, é de menos de 20%, segundo informou a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
Os Estados Unidos, por sua vez, se queixam da vantagem que o Brasil dá à Argentina na importação de trigo. Mas isso se deve ao fato de o país vizinho integrar o Mercosul.
Um levantamento feito no ano passado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) aponta que as tarifas elevadas aplicadas pelos Estados Unidos prejudicam as exportações de carnes bovinas e de peru, produtos lácteos, frutas, amendoins, óleo de soja, açúcar de cana e beterraba, tabaco, cachaça e rum. Em todos esses casos, a participação do produto brasileiro no mercado americano é menor do que em outros países que importam esses mesmos produtos daqui.
Trump tá fazendo uma verdadeira guerra comercial contra países do mundo inteiro e agora quer afetar o nosso.