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A crise econômica do Brasil e as modificações nos hábitos de consumo de quem vê televisão estão mudando a forma de transmissão esportiva. Antes restrito às séries e filmes, cada vez mais brasileiros usam o celular para acompanhar jogos dos seus times. Dois dados ajudam a explicar a busca dos canais esportivos por novos meios de transmissão: pesquisa Ibope Conecta no início do ano mostrou que 97% do público tem o hábito de usar algum serviço de streaming de vídeo; e levantamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que regula o mercado de televisão por assinatura no Brasil, aponta uma queda leve, mas constante, nas assinaturas desde 2016.
“O que me chama a atenção é o quanto esse mercado de streaming esportivo está atrasado em relação aos outros”, diz Arthur Igreja, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Esporte é tão valorizado que as operadoras conseguem vender assinaturas de TV à cabo, pacotes de canais extras e, agora, mobilidade só com isso. Mas se você olha toda essa cadeia, descobre que o que a pessoa queria mesmo era essa parte final: o streaming, a mobilidade de assistir de onde estiver”, completa Igreja, pontuando que as próprias operadoras e canais de TV estão criando plataformas para a transmissão via streaming dos seus conteúdos esportivos.
Após um momento inicial em que os canais ofereciam o streaming atrelado a uma operadora ou assinatura de TV, agora eles começam a oferecer pacotes exclusivos para a internet. A ESPN, em acordo com o portal UOL, criou o ESPN Play, serviço com transmissões de partidas esportivas ao vivo e conteúdo on-demand, sem a necessidade da assinatura dos canais da TV. É um outro produto.
O Fox Premium, serviço de streaming dos canais Fox, onde são transmitidos jogos da La Liga, o Campeonato Espanhol, também pode ser contratado de maneira individual e independente. A Rede Globo, detentora dos direitos do Brasileirão, começou a ofertar o Premiere Play agora sem a necessidade da assinatura do canal pago de televisão.
Para Marcello Zeni, vice-presidente de afiliadas da Disney e ESPN, essa mudança na estratégia de oferta do streaming dos canais é parte do processo de entender o consumidor e seus anseios. “O fã do esporte deseja ter essa liberdade e ter a opção de buscar seu time ou esporte favorito em qualquer lugar e na hora que desejar, independentemente se é só uma notícia ou transmissão por streaming.”
Zeni afirma que o desafio é saber como ofertar esse streaming de modo que ele não crie uma alienação no consumidor. “Se todo mundo começar a ofertar, daqui a pouco o próprio cliente não vai saber o que comprar e não vai ter dinheiro suficiente para pagar”, exemplifica.
O caso do Esporte Interativo, que transmite a Liga dos Campeões, é diferente. A rede fechou seus canais lineares no início de 2018 para focar em um serviço totalmente via streaming. Apesar de alguns jogos serem transmitidos em outros canais da marca, a maioria é veiculada por streaming na plataforma EI Plus.
Empresas de tecnologia também estão de olho nesse mercado de transmissões esportivas por streaming e começam a investir pesado em eventos para aumentar sua presença no segmento.
“Temos uma comunidade de mais de 700 milhões de fãs de esportes no Facebook com uma ampla gama de interesses. Por isso, estamos sempre explorando vários esportes que fazem sentido para cada audiência em particular”, diz Leo Cesar, líder de parcerias em esportes para a América Latina do Facebook. “O objetivo do Facebook não é virar mais um canal de esportes. Em todos os negócios que fizemos no mundo inteiro, o conteúdo que adquirimos vive sempre na página de algum parceiro relevante”, completa.
A primeira iniciativa do Facebook no setor foi um acordo feito com a Conmebol para a transmissão por quatro anos de jogos da Copa Libertadores na rede social no Brasil e em outros nove países da América Latina a partir de 2019.
“Fizemos apostas estratégicas no Brasil com a Liga dos Campeões e a Copa Libertadores. Além disso, temos uma série de acordos importantes com clubes e ligas que têm usado a nossa plataforma como uma alavanca para gerar oportunidades de negócios, como a Liga Nacional de Basquete (LNB). Esses esforços refletem nosso compromisso de levar conteúdo esportivo ao vivo para os fãs no país”, diz Cesar.
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Com cabelos maltratados, rugas gritantes e lábios rijos, Heidi Bergman (Julia Roberts) é a tradução de uma alma resignada com seu destino medíocre. Na lanchonete de quinta categoria de uma cidade praiana, a garçonete aborda mais um cliente de aspecto cinzento. Mas o homenzinho tímido não deseja o peixe ensopado de praxe: Thomas Carrasco (Shea Whigham) é um fiscal do Departamento de Defesa dos Estados Unidos e está ali para investigar fatos obscuros ocorridos em um projeto privado patrocinado pelo governo, no qual ela tivera papel-chave. Heidi nega relação com o experimento. Na cena anterior da série Homecoming, no entanto, a encarnação profissional prévia de Heidi já ficara bem estabelecida: quatro anos antes, ela era a psicóloga de um centro de apoio para ex-soldados com stress pós-traumático. Em tese, sua tarefa consistiria em ajudar veteranos a “se familiarizar com a vida civil em ambiente monitorado”. Na prática, não era bem assim — embora talvez ela nem desconfiasse dos propósitos para os quais era empregada. No thriller produzido pela Amazon e recém-lançado na plataforma Prime Video, o exercício de decifrar como uma Heidi descambou na outra descortina uma investigação de amplitude surpreendente sobre a mente humana.
Em Homecoming, mais um rosto inescapável do cinema vem engrossar o estouro da boiada de Hollywood rumo às pradarias criativas da TV e, agora, do streaming. Aos 51 anos, Julia Roberts tardou para chegar ao pedaço, mas o faz com timing feliz. A série é a versão com imagens de um cultuado podcast de suspense, narrado por meio de trechos de ligações e conversas fictícias. Sob a direção de Sam Esmail, da excelente Mr. Robot, esta radionovela da internet se converte em uma algaravia de vozes e imagens não menos envolventes. Em dez episódios curtos, Esmail revela-se um hábil manipulador da tensão.
O resultado é a conjunção improvável mas viciante de thriller de paranoia com comédia farsesca (a verborragia canastrona do chefe de Heidi, vivido por Bobby Cannavale, resume esse espírito). Como em Mr. Robot, Esmail explora o clima conspirativo no meio corporativo-governamental. Mas Homecoming vai um pouco além. Entre a garçonete caída e a terapeuta eficiente interpretadas por Julia Roberts há uma fratura psicológica exposta — e exacerbada em seus sentimentos contraditórios pelo soldado negro Walter Cruz (Stephan James). O que se julga, enfim, é se um traço que nos diferencia dos outros animais — a memória — é uma bênção ou um fardo.