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Apaixonado por cinema, o designer Tiago Marcondes pesquisava o acervo do
Netflix quando teve uma grata surpresa.
Encontrou "One Last Call", filme do japonês Takashi Miike, um raro caso de produção de fora dos Estados Unidos presente no catálogo do serviço. “Fiquei super feliz de encontrar um dos meus diretores favoritos de terror”, conta. Mas a alegria durou pouco. Era uma refilmagem em inglês.
O administrador Henrique Cury coleciona buscas frustradas. Fã de cinema europeu, já se decepcionou diversas vezes com iTunes e Netflix. “Não tem nenhum filme dos Irmãos Dardenne em streaming”, diz, referindo-se à dupla de diretores belga aclamada por produções como "O Silêncio de Lorna".
O avanço das novas modalidades de streaming de filme é inevitável. Com a progressiva aniquilação das videolocadoras, sai o DVD físico e entra a transmissão de imagens direto para a TV, computador, tablet ou smartphone do usuário.
Entre os serviços, os mais conhecidos são o
iTunes, loja e locadora da Apple, do qual se pode comprar ou alugar filmes; a
Netflix, que oferece acesso ilimitado a um banco de filmes por uma mensalidade; e o
Now, locadora virtual da operadora de TV paga NET.
Mas há muito mais gente de olho no promissor filão :
empresas como Google, Vivo, Claro, Saraiva e Sony estão entre as que disputam os espectadores na sala de estar.
Se por um lado usuários não poupam elogios à comodidade e à agilidade da experiência, por outro, muitos se frustram com as
limitações de títulos.
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Uso Netflix com frequência para assistir filmes e seriados”, diz o advogado Régis Queiroz. “
Minha crítica a eles é que a videoteca é muito restrita no Brasil, em especial para filmes que não são norte-americanos.”
“No começo, procurava coisas específicas”, diz o arquiteto de informação Eduardo Caetano. “Hoje, mudei a forma de uso e lido com o que eles oferecem.”
Procurada pela reportagem, a Netflix não respondeu repetidas tentativas de uma entrevista sobre o assunto. A Apple se limitou a dizer que “não divulga informações” sobre acervo do iTunes. “Quem manda nesses serviços, por enquanto, é o cinema ‘pipoca’”, disse um distribuidor que prefere não se identificar. “Não há estoque de clássicos e produções europeias são raras”.
Para Fábio Lima, especialista em distribuição digital, “encher uma loja é um processo.
Se não tem este ou aquele filme é porque o detentor do direito autoral não o tornou disponível”.
“Lojas como Google Play e iTunes seguem o princípio da cauda longa [que abrange títulos populares e também os de nicho]”, diz o distribuidor anônimo. “Para eles, interessa volume, interessa tudo.”
Já o modelo da
Netflix é diferente, segundo ele. “Eles têm curadoria.
Vão subir apenas o que acham mais relevante para o seu assinante.”
As plataformas digitais exigem que as produções preencham uma série de requisitos técnicos para serem incluídas, entre elas, conversão para formato HD, legendas em português (ou versão dublada em português) e metadados (informações sobre o arquivo) completos. Esses procedimentos envolvem custos que muitas vezes dificultam a viabilização de produções menos rentáveis.
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O acervo do universo digital ainda está sendo construído e, para que esteja completo, dependemos de tempo e investimento dos estúdios”, pondera Jefferson Pugsley, gerente-geral da Fox-Sony Pictures Home Entertainment.
O espectador, porém, não tem tradição de compreender ou esperar a consolidação de novos processos da indústria – ou a resolução de dilemas técnicos.
“Não dá para largar o torrent ainda”, diz um dos usuários entrevistados, em referência ao sistema mais usado para baixar filmes ilegalmente.
Outro usuário com quem a reportagem conversou explicou que deve continuar recorrendo ao download pirata para filmes, ainda que a contragosto.
Quando o iTunes anunciou a chegada do filme Gravidade na loja, clientes reclamaram da demora na liberação. “Com essa demora, o iTunes incentiva a pirataria”, sentenciou um deles.