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Entrevista com a CEO do YouTube, Susan Wojcicki
O YouTube foi criado como um canal para o conteúdo de vídeo do usuário, mas caminha em direção ao streaming pago. Como equilibrar os dois lados ?
Queremos investir em ambos. Sem dúvida, investimos em todos os usuários que têm algo a compartilhar com o mundo. Nossos criadores muitas vezes começam só com uma paixão ou ideia, em seus quartos, filmando. Eles são parte importante do YouTube. Os bem-sucedidos crescem e se tornam o que chamo de empresas de mídia, porque, mesmo que ainda estejam filmando em casa, têm editores e, muitas vezes, um lado comercial e um livro.
Queremos permitir que todos publiquem no YouTube, mas também queremos que grandes plataformas possam ter seu conteúdo nele. Pensamos o mundo em termos do número de canais. O mundo não tem só três ou cinco, o que podíamos quando éramos pequenos. Agora podemos ter milhões. Então, queremos habilitar os profissionais, os canais criados a partir de mídias mais tradicionais, junto com os novos. Há um valor para os usuários em tê-los todos num só lugar. Nossos usuários têm tempo, querem TV e estão dispostos a ver todo conteúdo, de empresas de mídia mais tradicionais e criadores de novas mídias.
A plataforma pode se tornar uma concorrente de fato da Netflix ? Vai investir em produção, por exemplo ?
Não nos vemos como concorrentes diretos da Netflix, que se concentra em conteúdo roteirizado de última geração. Eles compram roteiros, têm muitos atores, são altamente produzidos. Se você observar a produção por minuto, é um custo muito alto. No YouTube nós nos especializamos em gêneros muito diferentes. Em conteúdo de áreas que jamais teriam um programa superproduzido. “Como consertar sua máquina de lavar”, por exemplo. Ou como fazer todo tipo de matemática, como tocar um instrumento. Games, música. E, claro, influenciadores, sejam de família ou de beleza. É tudo conteúdo que você não verá na Netflix.
Mas vocês também investiram em TV paga. Ser uma empresa de publicidade torna mais difícil usar um modelo de assinaturas ?
O modelo de assinatura que temos é, antes de tudo, com o YouTube TV, só nos Estados Unidos. Parte disso é porque o mercado americano é único, pelo fato de ser tão caro. A maioria dos países têm patrocínio do governo ou TV gratuita. A nossa TV é incrivelmente cara. A maioria dos americanos gastava mais de US$ 100 por mês em seu serviço de TV, por isso criamos o YouTube TV. E estávamos trazendo a tecnologia da internet para a TV tradicional. A ideia é pesquisar o conteúdo, poder ver sob demanda, salvar o programa que você quer ver. O YouTube TV foi também uma oportunidade de trabalhar mais perto das emissoras tradicionais.
E o YouTube Music ?
Você pode pagar mais e usar sem anúncios. É uma taxa adicional, dependendo do país em que você está. Vemos isso como um modo de melhorar o que o YouTube já faz bem. Muitos usuários acessam porque temos uma coleção de músicas tão ampla. Ouvir sem anúncios, off-line, ininterruptamente, esses são os diferentes recursos. E a capacidade de fazer isso em todo o YouTube. A assinatura aprimora o conteúdo que já temos, não necessariamente roteirizado.
Qual é a importância do mercado brasileiro ?
O Brasil é um mercado realmente importante para nós. Estamos muito felizes por termos tantos criadores de sucesso no país. Mais de mil com 1 milhão de inscritos. Significa que temos mais de mil empresas de mídia apoiadas pelo YouTube. Então, estamos orgulhosos. Foi impressionante ver Marília Mendonça durante a Covid. Ela fez uma transmissão ao vivo de casa e teve mais de 3,3 milhões de espectadores simultâneos.