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- Quem sabe me dizer qual a capital do Mato Grosso do Sul?
- É Campo Grande, professora.
- E o nome da corrente marítima que passa pela costa brasileira?
- Corrente do Brasil!
Essa era a conversa que, por muito tempo, os professores de Geografia tinham com seus alunos em sala de aula. Mas a decoreba está com os dias contados. O desafio atual é convencer pais e alunos da importância da disciplina para entender a realidade. Seja do próprio bairro, seja de lugares mais distantes. Afinal, a Geografia estuda o espaço e a maneira como nós interagimos e modificamos o mesmo.
Por ser uma ciência interdisciplinar, qualquer assunto referente ao nosso planeta, em qualquer escala, pode ser trabalhado dentro de uma perspectiva geográfica. Vários temas são importantes para as aulas, como por exemplo: o que é paisagem e quais elementos a compõem; o que são meio físico e cultural; como lidar com cartografia e interpretação de mapas; a questão ambiental; as cidades e suas funções; o meio rural, seus cultivos e sua modernização; a globalização e a formação de mercados regionais.
O mais interessante, no entanto, é a possibilidade do aluno compartilhar o que observa em seu dia-a-dia, o que viu na TV, o que pesquisou na internet, o que os pais comentaram em casa. "Só assim ele vai criar também um senso crítico de sua realidade, o que hoje é um dos fundamentos da disciplina", conta o professor Robson Paulino da Silva.
Já o professor Luís Carlos Batista Rodrigues produziu, junto com seus alunos do nono ano, este documentário, vencedor do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 - 2011, na área de Geografia:
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Quer saber mais sobre a Geografia que seu filho deve aprender na escola? Basta conferir as informações abaixo!
1. Entende a própria realidade
As aulas de Geografia falam cada vez mais sobre a realidade dos próprios alunos. A intenção é que eles sejam capazes de visualizar alguns conteúdos geográficos na vida cotidiana: o que é uma paisagem, um bairro, um centro urbano, um sistema de transporte, um cultivo de arroz ou de café, um tipo de relevo transformado pela ocupação humana, de onde e como vem a água que abastece a própria casa...
Com esse conhecimento, é possível, por exemplo, refletir sobre os impactos negativos e positivos que causamos no meio ambiente; exigir melhorias dos governos; participar ativamente de ações para melhorar o próprio bairro.
"A escola tenta formar cidadãos. Esse aluno precisa ser crítico quanto ao espaço em que vive", diz o professor Luís Carlos Batista Rodrigues, da Escola Municipal São Sebastião de Teresina (PI). Ele pôs essa ideia à prova, e levou seus alunos do nono ano às ruas da própria cidade. O projeto, intitulado "A contribuição da atividade comercial para a organização do espaço teresinense", fez de Luís Carlos um dos vencedores deste ano do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10. "Não queria que os alunos tivessem contato com o conhecimento pronto. Queria que eles o construíssem. Para isso, fizemos atividades de campo, entrevistas, pesquisas. No final, produzimos até um documentário!"
2. Conhece outras realidades
A Geografia também ajuda os alunos a ter contato com a realidade de regiões diferentes no próprio país e no resto do mundo. Isso é importante em tempos de globalização, em que tudo está cada vez mais interdependente.
Mesmo assim, é importante trazer os temas para o contexto vivido pelo próprio aluno. Se o professor falar, por exemplo, de crise americana, vale a pena discutir a demissão de algum conhecido do bairro. Se for falar de usinas de energia elétrica instaladas pelo mundo, dá para usar exemplos de seu uso em uma casa. Um assunto como migração na Europa não está desconectado da realidade de muitos alunos, que vêm muitas vezes de famílias de migrantes.
3. Traz o mundo para a sala de aula
Fatos recentes, que saem nas notícias, também devem ser debatidos em sala de aula. Eles podem ajudar, inclusive, a explicar assuntos tidos como complexos e monótonos para as crianças e jovens.
O recente terremoto no Japão, por exemplo, com todas as suas repercussões - tsunami, destruição de áreas residenciais e industriais, contaminação radiativa devido ao acidente na usina nuclear de Fukushima - é diretamente relacionado com a movimentação das placas tectônicas. Os deslizamentos e alagamentos que vemos no período das chuvas, quando debatidos em sala de aula motivam o aprendizado sobre relevo e ocupação humana.
O fundamental é que esse tipo de atividade estimula o aluno a selecionar ou filtrar as informações divulgadas pela mídia e, principalmente, a manipular, interligar e relacionar esses conteúdos com nossos desafios e problemas.
4. Faz o aluno refletir
A Geografia é uma disciplina que estimula a análise, a reflexão. Jamais a decoreba. O problema é que, durante anos, as escolas brasileiras basearam suas aulas em siglas, nomes e números. E essa tradição é difícil de ser rompida, pois exige uma safra bem formada de professores.
"É inacreditável que, em pelo século 21, a Geografia continue a ser entendida como uma matéria de decoreba, e que professores não sintam vergonha de cobrar dos alunos, nomes de capitais e coisas do tipo", diz o geógrafo e pedagogo Luca Rischbieter.
No lugar de memorizar os nomes dos inúmeros planaltos e depressões do Brasil, por exemplo, o importante seria entender o que é o relevo e porque ele tem relação direta com a ocupação humana, tanto do ponto de vista de construções como de cultivos. Outro exemplo seria substituir a decoreba de dados sobre a população brasileira, por exercícios que ajudem na compreensão da dinâmica demográfica a partir do aumento da expectativa de vida - e consequente envelhecimento da população - das conquistas feministas, do combate aos preconceitos, etc.
O objetivo, no entanto, não é condenar a memorização. Ela existe em todas as atividades humanas e é imprescindível para a vida de qualquer pessoa. "Apenas o seu excesso, sem uma real compreensão do objeto, é que é problemático para os alunos", diz José William Vesentini, professor do Departamento de Geografia da USP.
5. Valoriza a pesquisa in loco
Um aspecto interessante da Geografia é que os conceitos e ideias trabalhados em sala de aula podem ser vistos fora da escola. Os professores devem aproveitar qualquer oportunidade para levar seus alunos para a rua. Caso contrário, a disciplina corre o risco de ser vista apenas nos livros, sem despertar a relação que ela tem com a vida das pessoas, com o seu entorno, com o local onde vivem e com o mundo como um todo.
Algumas sugestões de atividades: observações astronômicas, passeios por áreas naturais, análise "in loco" de problemas ambientais como erosões/voçorocas, rios poluídos.
Clicando no item "Conhece a própria realidade", você conheça a atividade que o professor Luís Carlos Batista Rodrigues, da Escola Municipal São Sebastião de Teresina (PI) realizou com seus alunos. Com essa ação, ele ganhou este ano o Prêmio Victor Civita Educador Nota 10, na categoria Geografia.
6. Usa novas tecnologias
O mundo está cada vez mais tecnológico e as crianças e jovens têm cada vez mais contato e intimidade com aparelhos eletrônicos. Há uma infinidade de exemplos, como computadores, internet, televisão, jogos eletrônicos, programas de edição de imagens e vídeo, etc.
O interessante é que os professores sejam capazes de aproveitar tudo isso para ensinar Geografia. "Do Google earth aos aparelhos celulares, temos recursos de todos os tipos para que estudantes sejam ativos na produção e pesquisa", diz o geógrafo e pedagogo Luca Rischbieter.
Existem jogos eletrônicos muito populares entre os jovens que tratam de assuntos como a administração de uma cidade, astronomia, guerras e conquistas de regiões do globo. Os projetores multimídia (ou data show) já podem ser encontrados em quase todas as escolas e permitem preparar uma aula com algum software de apresentações, passar um filme ou uma reportagem sobre um assunto de interesse.
A internet, atualmente, é ferramenta indispensável para professores e alunos obterem informações atualizadas sobre qualquer assunto. Também dá para pedir aos estudantes que criem um blog, onde possam "postar" informações sobre Geografia que achem relevantes.
A tecnologia já é realidade em muitas escolas do país. O restante das escolas está recebendo aos poucos os equipamentos necessários para sua modernização. O problema é que há muitos motivos que impedem os alunos de terem contato com essa tecnologia. Alguns professores se acomodam no modelo tradicional de aula ou tem dificuldades para usar os equipamentos. Outras vezes, a escola não tem salas adequadas ou sistema elétrico que suporte tantos aparelhos ligados juntos.
7. Leva questões para casa
Existem muitas atividades ligadas à Geografia que podem ser feitas em casa! Você pode explorar o mundo com seu filho com a ajuda de um livro, uma revista, um mapa, um globo terrestre ou na internet. "É legal comentar sobre as notícias do dia, conversar sobre outros lugares e culturas, discutir atitudes de respeito ao meio ambiente, fazer em casa coisas como a separação de lixo", conta o geógrafo e pedagogo Luca Rischbieter.
Navegar em determinados sites da internet é bem proveitoso. Exemplos são os da ONU, da Unesco, do IBGE (que tem um portal teen especial para alunos), de alguns jornais e revistas. "Até mesmo o site da CIA (Agência de Inteligência dos Estados Unidos) tem informações e mapas sobre todos os países do mundo, sobre economia, sobre terrorismo e guerras. Tudo isso é assunto relevante no ensino da Geografia", diz o professor da USP, José William Vesentini.
Mas lembre-se: o fundamental é que você acompanhe o aprendizado do seu filho. Pergunte a ele sobre os assuntos que aprendeu na aula, o que gostou ou não. Com isso, fica mais fácil propor atividades dentro de casa aproveitando o que foi ensinado na escola.