Em "Os Urubuservadores" (
Zé Carioca # 1131, de julho de 1973), Ivan Saidenberg e Renato Canini exploraram um tema muito recorrente em suas histórias, a loteria esportiva. Sem recorrermos a uma pesquisa, é possível de imediato lembrarmos de muitas histórias nas quais a turma faz uma aposta neste tipo de jogo. Em uma, um falso adivinho acaba chutando os palpites corretos, em outra um homem pinta cartelas de apostas em muros e em outra Zé Carioca observa as luzes acesas e apagadas de um prédio que tem três quartos por andar para anotar seus palpites. Esta mesma premissa é utilizada aqui.
Em um sonho, Zé Carioca viu um urubu pousando em cima de um barraco, quando imediatamente começou uma tempestade na qual, em vez de água, choveu dinheiro. Acreditando ser este um "sonho profético", Zé Carioca foi procurar o tal barraco, que existia mesmo, e aos seus lados haviam outros dois barracos, um à esquerda e outro à direita. Zé Carioca ficou um bom tempo observando os urubus que pousavam nestes barracos, com a mesma ideia: se o primeiro urubu pousou na primeira casa, sua primeira aposta é na "coluna um"; se o segundo urubu posou na segunda casa, a segunda aposta vai pra "coluna do meio"; da mesma maneira quando um urubu pousa no terceiro barraco a aposta vai para a "coluna três". Ao se observar o 13º urubu, a cartela estaria pronta.
Porém, a história não se limita a esta ideia que foi reutilizada pelos mesmos autores. Temos que considerar o desenrolar da própria história, que é muito boa. A trama começa com Rosinha, Pedrão (que aqui tá mais pra Pedrinho), Nestor e Amadeu desesperados com o estado de Zé Carioca, que há quatro dias estava sentado olhando para o Morro do Urubu. Rosinha chega a chorar pensando que o namorado "está doente mesmo". Zé Carioca então conta sobre o sonho.
Ao saber do sonho, a turma comemora: "Oba! Viva! Vamos ficar ricos", no que Zé Carioca, ignorando toda a preocupação da turma, só de pensar em um dinheiro que nem tinha certeza que iria ganhar, foi ríspido: "Que história é essa de vamos? Quem sonhou fui eu!". Aí está uma boa crítica dos autores. A turma, sendo pobre, sempre foi muito unida. Quando um deles apenas pensou que iria ganhar um dinheiro que ainda nem existia materialmente, a amizade já sofreu um abalo. A turma fica chateada pelo fato de Zé Carioca não dividir os palpites e vai embora.
Porém, a tristeza passa quando Amadeu lê no jornal que a loteria teve apenas um acertador, que "é da Guanabara". Novamente apostando tudo em uma coisa que ninguém tinha certeza, todos pensam que Zé Carioca foi o ganhador. A turma esquece a raiva e vai parabenizar o papagaio. Porém, Pedrão liga o rádio e descobre que o ganhador era outro, um tal de Gautério. Esta foi uma inclusão na história de um outro personagem, Nadinhas, o primo pobre de Tio Patinhas, que aqui foi chamado de outro nome.
Nisso, descobrimos que apesar dele não ter ganho, o sonho de Zé Carioca estava certo. Ele não ganhou porque não encontrou dois cruzeiros para pagar a aposta e jogou fora o volante preenchido, que foi encontrado por Nadinhas. Zé Carioca reconhece ter bancado o egoísta e que a culpa foi dele (afinal, se dividisse os palpites, lhe emprestariam o dinheiro e todos ganhariam um pouco, já do jeito que a coisa aconteceu ninguém da turma ganhou nada, apenas um personagem externo - e os autores fizeram questão de que, mesmo que o prêmio se perdeu, quem o ganhou foi outra pessoa que também é pobre). Porém, no final, todos acham melhor deixar isso pra lá, pois, como diz Amadeu, "nossa amizade vale muito mais do que dinheiro".
Como as histórias de Saidenberg e Canini são bem-humoradas (estou me sentindo a Lucila escrevendo este post, rs), para além de todo esse roteiro e esta lição, a HQ ainda termina com um lado humorístico: Zé Carioca volta para o Morro do Urubu e encontra toda a turma observando os urubus, afinal, vai que o prêmio sai de novo desta forma?
Já em "Sua resposta vale um milhão", desenhada por Tony Strobl, Donald e Peninha têm a péssima ideia de levar um milhão que Patinhas havia ganho para o sítio do Urtigão, afinal o parente "já tem tudo". Ao ficar muito tempo aguardando seus parentes para o dia de trabalho e os caminhões com o prêmio, Patinhas liga para o "Departamento de Pessoas Desaparecidas", e notifica o "desaparecimento dos sobrinhos Donald e Peninha, junto com dez caminhões da TV Patópolis". Porém, ao fazer essa ligação, Patinhas não tinha a menor ideia de que eles estavam juntos. Peninha e Donald tiveram a ideia no meio do caminho e a executaram logo em seguida, sem avisar ninguém, apenas foram guiando os caminhões até o sítio, com os motoristas pensando que estariam indo até a residência de Patinhas.
Nesta edição também saiu um selo sobre o "Centenário de Santos Dumont":
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