. Os repórteres do Fantástico descem aos subterrâneos das grandes cidades para você saber exatamente onde está pisando e se existe algum perigo no seu caminho.
Fogo sai pelo chão e atinge um orelhão na calçada. Uma tampa de duas toneladas voa pelo ar e esmaga um carro.
“Foi uma explosão. Com o impacto do carro parando, eu vi tudo vermelho na minha frente”, conta Eucy Viana, vítima da explosão.
“Parecia que tinha explodido uma bomba”, lembra uma testemunha.
Dezenas de bueiros explodiram nos últimos meses no Rio de Janeiro. Na primeira semana de julho, já houve cinco ocorrências.
“É igual a uma bala de canhão”, diz outra testemunha.
“Você desvia de bala perdida e salta pelo bueiro para não explodir junto”, destaca uma mulher.
O caso mais grave foi em 2009. Um casal de turistas americanos ficou gravemente ferido quando um bueiro explodiu em Copacabana. Os acidentes são causados por explosões nas câmaras subterrâneas onde estão os transformadores da Light, a empresa que fornece energia elétrica, e se concentram nos bairros onde a rede é mais antiga.
“Alguns equipamentos dessas câmaras subterrâneas estavam sucateados, tinham mais de 50 anos”, afirma o promotor de Justiça Rodrigo Terra.
O Fantástico explica exatamente como essas explosões acontecem. “Em alguns lugares você tem incêndios, em outros você tem explosão, o que é bem distinto”, define Moacyr Duarte, pesquisador da Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A primeira ocorre quando o transformador, por ser muito antigo e estar mal-conservado, explode. O equipamento é cheio de um óleo isolante. Quando ocorre uma sobrecarga, esse óleo instantaneamente chega aos 1000ºC. Ele se expande, e o transformador explode como uma panela de pressão. As tampas de bueiro não se deslocam, mas a câmara incendeia e o fogo atinge a superfície.
O acidente mais grave acontece quando os dutos da Companhia de Gás Natural (CEG) vazam gás para dentro das câmaras. Quando a sala está cheia de gás, basta uma fagulha do equipamento. Resultado : uma violenta explosão, que lança as tampas dos bueiros para o alto.
No vídeo, você vê o que tem na área subterrânea onde a Light opera. Como é local de acesso restrito, a equipe de reportagem entregou uma câmera para o pesquisador Moacyr Duarte, que é especialista em análise de acidentes, para que ele pudesse fazer algumas imagens. No capacete de um operário, foi acoplada uma microcâmera para auxiliar na captação das imagens.
“Alguns equipamentos estão próximos ao fim da vida útil, como é o caso dos transformadores e das chaves de óleo, que não são mais utilizados em boa parte do mundo. Nos cabos elétricos, o sistema de isolamento ainda é muito antigo, com chumbo, papel e óleo isolante. Isso não é usado há muitos e muitos anos”, afirma o pesquisador Moacyr Duarte.
“O acidente ocorre no transformador de potência, que recebe a carga em alta tensão, em uma voltagem que as donas de casa não podem usar. Pelos cabos, a tensão sai ajustada na voltagem que usamos em casa”, explica Moacyr Duarte.
O especialista assegura que nem todas as tampas podem voar. “O acidente com a projeção das tampas só ocorre nas câmaras de transformadores, que são as maiores. Um modelo de tampa é típico das caixas de transformadores. Observamos uma moldura quadrada em volta da tampa, porque os transformadores têm que entrar e sair. As tampas redondas e sem a moldura oferecem risco baixo”, esclarece.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), responsável pela fiscalização do setor elétrico, já determinou que a Light modernize os equipamentos no Rio de Janeiro. “Acho que faltou investimento naquilo que fosse mais fundamental, principalmente nesses setores de rede subterrânea”, afirma o diretor geral da Aneel, Nelson Hübner.
“Esse é um sistema que não vinha causando problema. O que não está causando problema foi sendo deixado um pouquinho adiante. Agora, essa nova direção da Light entrou substituindo realmente todos esses equipamentos antigos. Isso poderia ter sido feito antes”, reconhece superintendente da Light, Mario Romano.
O Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) fez uma vistoria em bueiros do Rio e encontrou gás em sete locais do Centro da cidade. Neles há risco de grandes explosões. “Eu não tenho dúvida nenhuma de que existe um terceiro componente, que é a presença de gás”, aponta o engenheiro Luiz Consenza, do Crea-RJ.
A companhia de gás diz que está substituindo os equipamentos até 2013. “Cada ponto da nossa rede é vistoriado com sensores pelo menos uma vez por ano. Isso é o que normalmente se faz dentro das práticas mundiais”, afirma o presidente da CEG, Bruno Armbrust.
“Não queremos pessoas se desviando de bueiros ou de instalações. Queremos uma manutenção regular e estruturada”, diz Moacyr Duarte.
“Todo o mundo tem que sentar e procurar uma solução para essa questão ridícula que está vivendo o Rio”, constata Luiz Consenza.