Sem idas a restaurantes, festas ou àquela lojinha de bebidas do bairro, os brasileiros passaram a consumir mais vinho em casa.
As medidas de distanciamento social para conter o avanço da pandemia estão impulsionando em especial as vendas da produção nacional por meio do comércio eletrônico e até mesmo pelo WhatsApp.
Muitas vinícolas dispensaram intermediários e criaram canais para o consumidor encomendar a bebida diretamente da fonte, com a comodidade de receber as garrafas em domicílio por preços convidativos.
Em abril, a venda total de vinhos finos e espumantes nacionais subiu 9,6% na comparação com março, segundo dados da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), com os estabelecimentos comerciais fechados.
Separadas as categorias, os vinhos saltaram 30% na comparação anual, mas os espumantes tombaram 59%.
— De um lado, perdemos vendas em hotéis, bares, restaurantes e, principalmente no caso do espumante, para festas e eventos. Mas ganhamos nos supermercados. E as vendas on-line feitas diretamente pelas vinícolas ao consumidor subiram — conta Deunir Luís Argento, presidente da Uvibra e à frente da vinícola Luís Argento, em Flores da Cunha, no Rio Grande do Sul.
Essa linha direta com os produtores foi escolhida pelo professor carioca Gilberto Lopes Barbosa, de 57 anos, para renovar a adega em casa. Ele costuma comprar vinhos em uma loja especializada em Copacabana, que está fechada em razão da pandemia.
Para repor as garrafas que costuma dividir com a mulher, entrou em contato com o produtor.
— Consegui com um amigo o contato da Quinta Don Bonifácio, de Caxias do Sul (RS). Fiz o pedido diretamente a eles. Foi uma compra maior que a de costume, mas os preços foram melhores por garrafa e consegui redução no frete — conta ele.
A demanda de clientes levou a Quinta Don Bonifácio a lançar sua loja digital no meio da pandemia. Até então, diz a diretora comercial Marina Libardi, a vinícola gaúcha vendia apenas pelo WhatsApp.
— Temos venda presencial por causa da visitação, que foi interrompida na pandemia. Mas a demanda por WhatsApp cresceu tanto que lançamos o e-commerce há um mês. A maioria das vinícolas está se reinventando para continuar — afirma.
A Don Laurindo, outra cave da região gaúcha do Vale dos Vinhedos, viu as vendas pelo site dobrarem em abril em relação ao mesmo mês do ano passado, diz Moisés Brandelli, diretor e enólogo da vinícola :
— Há um volume crescente de novos consumidores. Nós negociamos com as transportadoras valores melhores, aproveitando datas especiais, ajudando o consumidor. O consumo de vinho vem crescendo de 8% a 10% ao ano no Brasil. De cada dez garrafas vendidas, uma é de vinho nacional.
O vinho brasileiro começa a ganhar mais espaço à mesa do brasileiro com dois incentivos : a alta do dólar que encarece os rótulos estrangeiros e o fechamento das fronteiras de grandes produtores, como Argentina e Uruguai, com o Brasil, em razão da pandemia, o que atrapalha o fluxo de mercadorias.
— Hoje, temos um aumento de procura nos vinhos de até R$ 40. Não quer dizer que os nacionais ficaram melhores, mas com dificuldades na entrada de vinhos importados, os nossos ganham mais espaço — diz a sommelier gaúcha Michelle Landgraf, da Divas do Vinho.