Já faz um tempo que eu ando fissurado em Thomas Pynchon, o grande profeta da segunda metade do século XX e quiçá um dos maiores autores vivos no mundo hoje.
Peguei pra ler "O Leilão do Lote 49" e "O Arco-Íris da Gravidade" no final de 2018, e "V." nos primeiros meses desse ano. E cara, que epifania.
Esses três livros foram suficientes para transformar o sujeito numa espécie de pai literário pra mim - sobretudo graças ao Arco-Íris da Gravidade (de longe o mais ambicioso dos três), que é uma epopeia esquizofrênica de mais de setecentas páginas ambientada na Segunda Guerra Mundial, com direito a brigas de torta em pleno ar, perseguições acirradíssimas dentro de túneis de produção de foguetes, polvos gigantes sendo condicionados para atacar mocinhas "indefesas", referências a cabalas misteriosas que podem ou não ditar o rumo do planeta, depravação em quase todos os ângulos conhecidos pelo homem, etc, tudo isso sob o manto de um humor selvagem que de cara nos remete a Looney Tunes ou aos Irmãos Marx.
Basicamente tudo que eu sempre quis fazer na ficção, mas não sabia a) como e nem b) se era viável dentro da área da literatura "séria". E é.
Pynchon desencadeia pra toda essa piração, mas ao mesmo tempo é um erudito. Seus livros são "sérios", e não demora muito para o leitor perceber que além do diversão pela diversão, ele está claramente interessado em diversas camadas da existência humana. Além de, claro, serem livros consideravelmente difíceis de se penetrar nas primeiras tentativas de leitura, do tipo espanta-leitor. As coisas vão se encaixando aos poucos e tal.
Agora tô muitíssimo interessado em "Contra o dia" e "Mason e Dixon" (grandes expectativas a respeito desse último, que é declaradamente um romance picaresco, gênero que Pynchon sempre acaba, de um jeito ou de outro, incluindo nas suas tramas).
Mas não deixa de ser um tanto lamentável o quanto a obra do cara é consideravelmente desconhecida por essas bandas. Embora quase todos os livros já tenham sido traduzidos para o português (vários deles por um tradutor da mais fina estirpe - Paulo Henriques Britto), a escassez de leitores, e em menor proporção, de textos à respeito do corpo de trabalho do autor, é notória. Fuçando por aí com ímpeto, porém, dá pra achar coisas interessantes.
Esse texto aqui é uma ótima introdução, pra quem tiver interessado.
https://sabotagem.net/o-ano-em-que-enfr ... 80a4d3a1d5