O coordenador de Economia Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV) e com livros publicados sobre produtividade no Brasil, Armando Castelar diz que, sem ocupações qualificadas em grandes empresas, o Brasil manterá uma mão de obra pouco produtiva.
Por quê as empresas não investem no Brasil ?
Investir no Brasil é arriscado. Há competição desleal com a informalidade. Há uma série de mecanismos no Brasil, como o Simples ou o MEI (sistema tributário para empreendedores individuais), que incentivam as empresas a ficar pequenas, com vantagens num padrão muito diferente do resto do mundo. Isso incentiva as empresas a ficarem pequenas, e empresas pequenas costumam ser pouco produtivas. A empresa brasileira não pode competir lá fora porque aqui paga muito imposto, não tem infraestrutura.
Produtividade baixa não é resultado de má educação ?
Não. Ao longo dos últimos anos,a escolaridade média do trabalhador brasileiro multiplicou por dois ou três. E a produtividade é exatamente a mesma. Formamos um engenheiro para ele dirigir carro, ser corretor, coisas que não exigem a educação que ele tem. O trabalhador está se qualificando, mas a qualidade do emprego para usar o que ele estudou não aparece. Não é um problema de educação, que melhorou muito. É completamente diferente na Coreia do Sul, onde a escolaridade aumenta e a produtividade vai junto. Aqui, a escolaridade aumenta e a produtividade fica parada. É impressionante. Se queremos melhorar a distribuição de renda, temos que melhorar a produtividade, ter crescimento. A solução passa por criar ocupações que permitam ao trabalhador usar melhor a educação.
O crescimento virá agora ?
O Brasil está vivendo um problema de abstinência do incentivo público, estatal. Durante muitas décadas sempre foi o governo a resolver quando as coisas ficam mal. Você olha para Brasília e espera o que o governo vai fazer, se vai vir um novo plano nacional de desenvolvimento, de campeão nacional. Temos que sair disso porque não tem mais dinheiro. Agora o setor privado tem que fazer as coisas, mas o setor privado não está acostumado. Continua olhando para Brasília. A inflação e os juros já caíram muito, as empresas emitem debêntures (títulos) e captam a juros baixíssimos, mas continua todo mundo esperando um incentivo tributário, crédito mais barato. Isso não vai vir porque não tem dinheiro.