Histórias Tristes ou Inusitadas

As histórias mais tristes e inusitadas da história

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Chokito Cabuloso
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Histórias Tristes ou Inusitadas

Mensagem por Chokito Cabuloso » 30 Set 2014, 15:45

Saartjie "Sarah" Baartman (1789-1815) foi a mais famosa de, pelo menos, duas mulheres hotentotes usadas como atrações secundárias de circo na Europa do século XIX sob o nome de Vénus Hotentote.

Saartjie Baartman nasceu no seio de uma família khoisan no vale do rio Gamtoos, na atual província do Cabo Oriental, na África do Sul. Esta é a forma africânder do seu nome, cujo original é desconhecido. Saartjie (que se pronuncia «Sarqui») pode ser considerado equivalente ao português «Sarazinha».

Saartjie era criada de servir numa fazenda de holandeses perto da Cidade do Cabo. Hendrick Cezar, irmão do seu patrão, sugeriu que ela se exibisse na Inglaterra, prometendo que isso a tornaria rica. Lord Caledon, governador do Cabo, permitiu a viagem, embora tenha lamentado tal decisão após saber o seu verdadeiro propósito.

Saartjie foi para Londres em 1810 e viajou por toda a Inglaterra exibindo as suas dimensões corporais «inusitadas» (segundo a perspetiva europeia), o que levou à opinião generalizada de que estas eram típicas entre os hotentotes.

Mediante um pagamento extra, os seus exibidores permitiam aos visitantes tocar-lhe as nádegas, cujo invulgar volume (esteatopigia) parecia estranho e perturbador ao europeu da época.

Caricatura de Baartman, desenhada no início do século XIX

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Por outro lado, Saartjie tinha sinus pudoris, também conhecido por «avental», «cortina da vergonha» ou «bandeja», em referência aos longos lábios da genitália de algumas Khoisan. Segundo Stephen Jay Gould, «os pequenos lábios ou lábios internos dos genitais da mulher comum são extremamente longos nas mulheres khoi-san e podem sobressair da vagina entre 7,5 e mais de 10 cm quando a mulher está de pé, dando a impressão de uma cortina de pele distinta e envolvente» (Gould, 1985). Em vida, Saartjie nunca permitiu que este seu derradeiro traço fosse exibido.

A sua exibição em Londres causou escândalo, tendo a sociedade filantrópica African Association criticado a iniciativa e lançado um processo em tribunal. Durante o seu depoimento, Sarah Baartman declarou, em holandês, não se considerar vítima de coação e ser seu perfeito entendimento que lhe cabia metade da receita das exibições. O tribunal decidiu arquivar o caso, mas o acórdão não foi satisfatório, devido a contradições com outras investigações, pelo que a continuação do espetáculo em Londres tornou-se impossível.

No final de 1814, Saartjie foi vendida a um francês, domador de animais, que viu nela uma oportunidade de enriquecimento fácil. Considerando que a adquirira como prostituta ou escrava, o novo dono mantinha-a em condições muito mais duras. Foi exposta em Paris, tendo de aceitar exibir-se completamente nua, o que contrariava o seu voto de jamais exibir os órgãos genitais. As celebrações da reentronização de Napoleão Bonaparte no início de 1815 incluíram festas noturnas. A exposição manteve-se aberta durante toda a noite e os muitos visitantes bêbados divertiram-se apalpando o corpo da indefesa mulher.

Foi depois exposta a multidões, que zombavam dela. Era alvo de caricaturas, mas chamou também o interesse de cientistas e pintores. O anatomista francês Georges Cuvier e outros naturalistas visitaram-na, tendo sido objeto de numerosas ilustrações científicas no Jardin du Roi.

O corpo foi totalmente investigado e medido, com registo do tamanho das nádegas, do clitóris, dos lábios e dos mamilos para museus e institutos zoológicos e científicos.

Com a nova derrota de Napoleão, o fim do seu governo e a ocupação da França pelas tropas aliadas em junho de 1815, as exposições tornaram-se impossíveis. Saartje foi levada a prostituir-se e tornou-se alcoólica. Morreu em dezembro de 1815, ao cabo de 15 meses em França. Como causa da morte, foram aventadas várias hipóteses: varíola, sífilis ou pneumonia.

Saartjie Baartman morreu a 29 de Dezembro de 1815 de uma doença inflamatória. Para não ter de pagar o enterramento, o domador de animais vendeu o cadáver ao Musée de l'Homme (Museu do Homem), em Paris, onde foi feito um molde em gesso do corpo. Os resultados da autópsia foram publicados por Henri de Blainville em 1816 e por Cuvier em Mémoires du Museum d'Histoire Naturelle em 1817. Cuvier anotou, nessa monografia, que Saartjie era uma mulher «inteligente, com excelente memória e fluente em holandês». Além do molde em gesso, o esqueleto, os órgãos genitais e o cérebro, conservados em formol, estiveram em exibição até 1974.

A partir da década de 1940, houve apelos esporádicos pela devolução dos seus restos mortais, mas o caso só ganhou relevância após o biólogo norte-americano Stephen Jay Gould ter pubicado The Hottentot Venus na década de 1980.

Quando se tornou presidente da República da África do Sul, Nelson Mandela requereu formalmente à França a devolução dos restos mortais de Saartjie Baartman. Após inúmeros debates e trâmites legais, a Assembleia Nacional francesa acedeu ao pedido em 6 de Março de 2002.

Os restos mortais de Sarah Baartman foram inumados na sua terra natal, Gamtoos Valley, a 3 de Maio de 2002.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Saartjie_Baartman
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Lembrei dela por causa dos filmes mais chocantes. O filme biográfico dela, sem ser muito explícito ou sangrento, consegue pela história, ser mais deprimente e devastador que qualquer um desses gores apelativos.
Eu penso muito nela e no que ela passou e acho tudo tão grotesco, mas quase ninguém conhece ela. Eu acho importante que conheçam.

O trailer do filme:
*Se eu postei no lugar errado foi mal, ainda não entendi se tem que botar essas coisas em lugares específicos, como filmes, ou por ser biografia pode ter um tópico exclusivo.
Editado pela última vez por Chokito Cabuloso em 01 Out 2014, 07:40, em um total de 1 vez.
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Re: Vocês conhecem a Vênus Hotentote?

Mensagem por Homessa » 30 Set 2014, 16:31

Nunca tinha ouvido falar,mas é muito intetessante a história dela.Interessante e triste.

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Re: Histórias Tristes ou Inusitadas

Mensagem por Chokito Cabuloso » 01 Out 2014, 07:46

Eu mudei o título pra caber mais biografias de pessoas comuns que são esquecidas, ou recebem pouca importância, pela história e pouca gente conhece

Essa é sobre a menina que engravidou mais cedo na história, com apenas 5 anos.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Lina_Medina
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Re: Histórias Tristes ou Inusitadas

Mensagem por Marquês de Sade » 01 Out 2014, 09:14

Ainda não tive conhecimento de história mais triste que a de Joseph Merrick.

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Re: Histórias Tristes ou Inusitadas

Mensagem por Chokito Cabuloso » 01 Out 2014, 09:59

O Homem Elefante? Eu acho a da Venus pior.

Aliás esta é a pior de todas que já li:

According to information gathered by Amnesty International Leyla Mafi, from Arak, Iran, had been prostituted by her mother starting from the age of 8. Leyla M. had a developmental delay (at the age of 19 she was assessed to have a mental age of 8 years old). Among the men who paid to rape the disabled child were several male relatives. [36] She had three children, the first at the of age 9 and then twins at age 14. [37] At age 19, she was condemned and faced the death penalty for the "moral offenses" of debauchery, incest, and illegitimate motherhood. Lawyer Shadi Sadr intervened on her behalf, and her sentence was reduced to public beating and imprisonment. After 2006, Ms. M was sent to a rehabilitation center and eventually came to reside in an apartment with a caretaker.

Tradução:
De acordo com informações conseguidas pela Anestia Internacional, Leyla Mafi, vinda de Arak no Irã, era prostituída pela mãe desde dos 8 anos de idade. Leyla tinha um atraso de crescimento (aos 19 anos de idade, ela era avaliada em ter uma idade mental de 8 anos). Dentre os homens que pagaram pra estuprar a criança deficiente, estavam vários parentes masculinos. Ela teve 3 filhos, o primeiro aos 9 e depois gêmeos aos 14. Aos 19 anos, ela foi condenada e encararia pena de morte pelas "ofensas morais" de depravação, incesto e maternalidade ilegítima. A advogada Shadir Sadr interviu pelo bem dela e a sentença foi reduzida para espancamento público e prisão.
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Re: Histórias Tristes ou Inusitadas

Mensagem por Marquês de Sade » 01 Out 2014, 19:59

Katrina Coração de Pedra escreveu:O Homem Elefante? Eu acho a da Venus pior.
Acredito que analisar essas histórias sob um parâmetro comparativo seja intelectualmente improdutivo. Inclusive porque sofrimento não é passível de comparação.

Nossa sociedade trata esse tipo de assunto como um hediondo concurso onde se estaria decidindo quem sofreu mais ou quem teve a "pior" vida, como se ser vencedor de tal atrocidade trouxesse alguma lisonja.

Deve-se respeitar a história desses indivíduos (não continuando a explorar suas deformidades na internet, mesmo depois de mortos, como muitos fazem) e tentar aprender dos erros que as sociedades do passado cometeram.

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Re: Histórias Tristes ou Inusitadas

Mensagem por Chokito Cabuloso » 02 Out 2014, 07:37

É que no meu caso eu me senti pior com a Sarah Baartman, ainda considerando o contexto racial de escrava e da objetificação e abuso sexuais por ser mulher. Eu acho que ela foi mais constantemente abusada e esquecida pela história. O Joseph, todos conhecem. Eu também não sei de ele ser estuprado e forçado a se prostituir, ou ser vendido de um país a outro como escravo pra, depois de morto, ser mutilado e ter sua genitalia exposta em formol e só séculos depois poder descansar em paz em sua terra natal (não lembro muito da história dele, entretanto). Agora é óbvio que o exploraram e o que o fizeram foi hediondo.

Apenas que eu me senti pior por ela, pelo menos um pouco a mais. Você deve perceber que nosso julgamento humano da dor alheia, principalmente a nossa, é emotivo antes de racional. Sentimos mais pelas vítimas que mais nos identificamos ou simpatizamos.
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