A queda abrupta da circulação de pessoas durante a pandemia da covid-19 já reduziu em R$ 843 milhões as receitas das empresas de ônibus no Rio de Janeiro de meados de março ao fim de maio, o equivalente a 11% do faturamento anual das companhias.
O presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado (Fetranspor), Armando Guerra Junior, conta que o setor se prepara para a retomada das atividades a partir dos próximos dias temendo um colapso no sistema.
Ele destaca que a crise atual pressionará as tarifas para cima de forma “inimaginável” e que será preciso rediscutir o próprio modelo de financiamento da mobilidade urbana do país, de forma a incorporar subsídios.
Os ônibus representam 74% do transporte público no Estado do Rio de Janeiro.
Segundo a Fetranspor, a demanda pelo sistema de ônibus, no Rio de Janeiro, na semana passada, era 66% menor que a registrada em fevereiro, antes da pandemia.
O executivo afirma que as operações voltaram a um viés de alta, mas que a situação financeira das companhias preocupa. Segundo Armando Guerra Junior, a crise atual poderá ser a “gota d’água” para muitas das viações que já operavam com dificuldades.
“[Durante a pandemia], os fornecedores ficaram quietos e deram um tempo para regularização das dívidas. Estamos retomando as operações, agora, mesmo que de maneira incipiente, e aí vai começar a pressão. As companhias de ônibus vão precisar comprar combustível, pneu, peças e os fornecedores só vão querer pagamento antecipado, porque a maioria tem créditos a receber. Acho que na retomada é que o problema maior vai ocorrer”, afirmou ao Valor.
O transporte intermunicipal rumo à capital voltará a operar a partir de sábado. A retomada, contudo, será gradual. A Fetranspor estima que, ao fim do ano, os ônibus estarão operando com 65% a 70% dos níveis de passageiros pré-pandemia e que serão necessários ainda de dois a três anos para que a demanda se recupere totalmente.
Com o agravamento da crise financeira, o setor se movimenta, junto ao Congresso, por meio da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), em defesa de um pacote de socorro ao segmento. As empresas pedem entre R$ 1,5 bilhão a R$ 2,5 bilhões - a depender do nível de serviço que os poderes concedentes definirão para a retomada.
A proposta é criar um vale de transporte social.
“O governo federal compraria créditos de transporte para alocar esses créditos em programas sociais, como o Bolsa Família. Seria um programa de âmbito nacional, para ajudar as empresas de transporte a passar por esse momento”, explicou.
Para o executivo, a crise atual exigirá uma solução para a tarifa do transporte público para 2021. Ele explica que o reajuste anual é calculado com base no custo do sistema dividido entre os passageiros pagantes.
Ele defende um novo modelo para sustentar a mobilidade urbana, com subsídios. “Não há mais como sustentar esse modelo predominante no Brasil, onde o passageiro paga 100% do custo de transporte. Aqui, as três pontas [empresas, prefeituras e passageiros] estão insatisfeitas e de certa forma todas têm razão.”