. Pelé desfilou sua majestade em quatro Copas do Mundo. Venceu em três oportunidades. Na última delas, em 1970, o rei do futebol anotou gols de cabeça, de perna esquerda, de direita e de falta. Curiosamente, aqueles que ele deixou de marcar durante a campanha do tri, no México, são os mais lembrados. Encabeçam a lista o chute do meio de campo contra o gol da Tchecoslováquia, o cabeceio defendido pelo goleiro inglês Gordon Banks e a finta de corpo – popularmente chamada de drible da vaca – no arqueiro do Uruguai. Pelé, no entanto, não se lamenta por nenhum deles. A mácula em seu currículo é não ter conseguido fazer ao menos um gol de bicicleta em um Mundial. A revelação é feita na autobiografia ilustrada “Pelé – Minha Vida em Imagens” (Cosacnaify, R$ 140), que chega às livrarias na segunda-feira 24, na qual o ex-jogador tece inusitados comentários sobre sua história. “Preferia não ter marcado nenhum desses (que perdi), mas, sim, um de bicicleta”, escreve.
Em “Pelé – Minha Vida em Imagens”, esta e outras jogadas imortalizadas pelo Rei estão registradas em cerca de 70 imagens. Raras, elas saíram do baú de Pelé diretamente para o prelo. Além do material fotográfico, a obra traz réplicas idênticas de dez documentos exclusivos.
Estão encartados o ingresso do jogo de despedida (Cosmos x Santos, em 1977, no Giants Stadium, em Nova York), o selo comemorativo do milésimo gol, em 1969, um ofício da Casa Branca sobre a visita do craque ao então presidente americano Richard Nixon, em 1973, e a carteirinha da Liga Bauruense de Esportes, onde ele atuou como jogador pela primeira vez, em 1956.
Quando nasceu, os pais de Pelé decidiram que ele seria batizado Edson em homenagem ao inventor da lâmpada elétrica (Thomas Edison). Em sua certidão original de nascimento, porém, há dois fatos que o aborrecem até hoje. O nome – que foi grafado com “i” – e a data, 21 de outubro.
Edson, sem “i”, como ele gosta, virou Pelé por causa de Bilé, goleiro do time de Dondinho, que o Rei imitava quando criança. Só que, em vez de Bilé, o menino dizia ao agarrar um chute: “Grande defesa, Pilé!”
Dico, como é chamado entre familiares, Gasolina e Crioulo são outros apelidos que acompanharam a trajetória do então franzino jogador, que, aos 16 anos, já brilhava no Santos. “Os treinamentos e a alimentação começaram a modificar o meu corpo. Depois de seis meses, minhas pernas ganharam tanta potência que cada coxa tinha a mesma circunferência da cintura”, diz.
No livro, Pelé comenta suas três despedidas – da Seleção, em 1971, do Santos, em 1974, e do Cosmos, em 1977. Sobre a última, relembra: O campeão de boxe Muhammad Ali, ao me abraçar logo após o jogo, chorava e dizia: ‘Aqui estão dois dos maiores.’
Uma foto do Rei atuando como goleiro estampada no livro deixa claro que, se preciso, o brasileiro tinha habilidade para atuar nas 11 posições. “Tanto no Santos quanto na Seleção, sempre fui goleiro reserva. Joguei quatro vezes no gol pelo Santos e uma pelo Brasil.” Carlos Alberto Torres, capitão do tri, confirmou o fato para ISTOÉ: “Ele pegava pra burro no gol ! O Crioulo era completo mesmo.”
Da pressão para alcançar o milésimo gol – “eu não aguentava mais esperar por aquele maldito gol !”.
Ao falar da apresentadora Xuxa, Pelé bate duro sem entrar em detalhes: “Um dos (relacionamentos) menos felizes.”