Mensagem
por Antonio Felipe » 29 Abr 2009, 12:39
9º CAPÍTULO: Apenas uma Pergunta: Por quê?
Os enfermeiros correm com a maca em direção ao bloco cirúrgico do Hospital Santiago. Um médico chega logo e, correndo, pergunta a um dos enfermeiros sobre Maribel:
- O que há aqui?
- Esta mulher está com quadro de eclampsia, pressão arterial 20 por 16, chegou apresentando falta de ar moderada, dor de cabeça e agora desmaiou.
- Certo, vamos tirar esse bebê o quanto antes. Estabilizem-na com Hidantal intravenoso para evitar convulsões e apliquem também Hidralazina, para diminuir a pressão. Ela chegou acompanhada?
- Pelo marido.
- Ok.
Faltando alguns metros para a porta do bloco, Maribel acorda.
- Meu bebê, como...meu...oh, o que...o que aconteceu?
- Calma, você vai ficar bem, diz o médico.
- E meu marido?
- Está lá fora.
- Pra onde estão me...levando?
Nisso, eles entram no bloco cirúrgico, já preparado para o parto.
- Vamos ter que tirar seu bebê. Sua pressão está muito alta e ambos podem morrer.
- MORRER?, ela grita.
- Sim, mas não se preocupe, vai tudo terminar bem.
No saguão do hospital, Ramón está ajoelhado em frente a uma imagem da Virgem de Guadalupe. Ele sussurra ave-marias e pai-nossos. Ele aperta tanto os próprios dedos que parece querer quebrá-los.
- Anestesia!, Exige o obstetra Francisco.
- O que vão fazer?, pergunta Maribel.
- Vamos fazer uma anestesia peri-dural para a cesariana. Induzir o parto por vias naturais seria muito arriscado.
Ele anestesia em certo da coluna lombar. Então, ele penetra a longa agulha, que vai até a medula espinhal e aplica a anestesia definitiva.
- Como se sente?
- Estou muito cansada.
- Vai tudo ficar bem.
No total, 6 pessoas estão no bloco cirúrgico: o obstetra, um outro médico e mais 4 enfermeiros. Francisco então começa a seccionar o ventre de Maribel. Ele abre um corte que vai dos pelos púbicos até o umbigo. Algum sangue escorre. Ele chega à aponevrose. Afasta esta e depois, desloca os intestinos até chegar ao útero. Maribel sente-se desconfortável. Ele então abre o útero e chega na placenta. Francisco vê o bebê. Apesar de não estar com os devidos 9 meses de vida, já está bem desenvolvido. O obstetra retira o bebê, corta seu cordão umbilical e o passa para uma enfermeira, que o lava.
Maribel, ao ver o bebê, chora compulsivamente.
- Meu filho, meu filho...
- Não é um filho, senhora. É uma linda menina, diz uma outra enfermeira.
- Uma menina? Oh, Deus, obrigado...
Francisco retira a placenta e então começa a fechar o corte. Maribel começa a passar mal.
- Droga, o que está havendo?, pergunta o obstetra.
- Ela está começando a ter convulsões.
Espasmos começam a ocorrer no corpo de Maribel, impossibilitando que Francisco feche adequadamente o corte no colo de Bel.
- Apliquem Hidantal e Hidalazina!
- Mas já não foi aplicado isso antes?
- Pelo jeito não foi o bastante.
- Rápido, vamos, ela vai morrer!
Os enfermeiros se apressam em injetar os remédios. Francisco tenta fechar o corte. Ela desmaia outra vez.
- Pulso muito fraco, respiração irregular!, grita um dos enfermeitos.
- Vamos mulher, reaja, não morra agora...
- SEM PULSO!
- Tentem a ressuscitação, rápido!
O obstetra apóia suas mãos sobre o peito de Maribel e faz toda a força possível. Mas parece inútil.
- Sem respiração também!
- Vamos, vamos, vamos...
O obstetra prossegue por quase 1 minuto. Os demais apenas olham.
- Francisco, pare, agora é inútil...
- Não, não, ela não vai morrer.
- ELA JÁ ESTÁ MORTA!, grita o médico.
Ele enfim pára. Todos olham o corpo inerte daquela bela moça, com traços indígenas. Um choro quebra o silêncio na sala. É a menina que despertou. Uma enfermeira comenta:
- Como vamos contar isso ao marido dela?
Ramón continua ajoelhado. Sua ave-maria é interrompida justo na parte de “rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte...”. É o obstetra Francisco, acompanhado do médico Lucio.
- Como está minha mulher? E meu filho? Digam, por favor!
- Sua filha nasceu. É uma linda menininha, diz Lucio.
- É uma menina? Vocês têm certeza?
- Sim, complementa Francisco.
- E Maribel?
- Ela chegou apresentando um quadro de eclampsia, com altíssima pressão. Tivemos que fazer uma cesariana para evitar a morte do bebê. Entretanto, quando estávamos fechando o corte, ela apresentou um quadro de convulsões e..., fala Francisco, até ser interrompido por Ramón.
- Convulsões? Meu Deus, eu quero vê-la, como ela está?
- Fizemos o que podíamos, mas..., diz Lucio
- Não, não, não, não, não me diga que...
- Eu sinto muito.
Lucio e Francisco disseram sempre, depois daquele dia, que nunca tinham ouvido um grito de dor tão desesperado. Urrando inúmeros porquês, Ramón destruiu uma janela, chorando de raiva e ao mesmo tempo de dor, até ser contido pelos funcionários. Ele desmaiou.
Ramón acorda.
Ele grita:
- POR QUÊ, MEU DEUS, POR QUÊ?
Seu desespero é interrompido, quando três pessoas adentram o quarto. Uma delas carrega um bebê nos braços. Ramón vê a cena e chora sem parar.
- Filhinha...filhinha...você não merecia isso, não merecia...
• Jornalista
• No meio CH desde 2003
• Um dos fundadores do Fórum Chaves. Administrador desde 2010
• Autor do livro "O Diário do Seu Madruga"
• Eleito pelos usuários como o melhor moderador em 2011, 2012, 2013 e 2014
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