A base da comédia de Chespirito remonta à tradição do vaudeville e da comédia física que foi imortalizada por Fred Karno, um dos principais diretores de teatro no início do século XX, cuja trupe incluía talentos como Charlie Chaplin e Stan Laurel. Karno era conhecido por desenvolver uma forma de humor físico e sem diálogos que se tornou central no cinema mudo. Chaplin e Laurel, que posteriormente transitaram com sucesso para o cinema falado, conseguiram manter essa tradição de humor visual, embora adaptando-a ao novo formato.
Quando o cinema falado ganhou predominância nos anos 1930, Chaplin foi um dos que mais resistiram ao uso extensivo de diálogos, optando por manter o foco na linguagem corporal e nas situações absurdas que evocavam o estilo de Karno. Da mesma forma, Stan Laurel, ao lado de Oliver Hardy, criou uma comédia que, mesmo no cinema sonoro, ainda tinha as raízes fincadas no slapstick e no timing cômico que haviam dominado a era do cinema mudo.
Roberto Gómez Bolaños, embora inserido em um contexto cultural latino-americano, foi fortemente influenciado por esse estilo de comédia visual e física, que influenciou seu imaginário muito mais do que a comédia mexicana tradicional, da qual Cantinflas e Tin-Tan eram herdeiros. Como Chaplin e Laurel, Chespirito construiu suas situações cômicas em torno de personagens ingênuos e simplórios, que se envolviam em mal-entendidos e desventuras cotidianas que transcendiam barreiras culturais, uma vez que se baseavam em arquétipos universais. O Chaves, por exemplo, com sua ingenuidade e seus equívocos, se baseia no mesmo arquétipo que o personagem de Chaplin "The Tramp" (no Brasil conhecido como Carlitos). Ambos são figuras vulneráveis, que enfrentam o mundo com uma pureza que acaba sendo engraçada pela sua inconformidade com o que acontece ao redor; assim, estes personagens utilizam o humor físico de maneira central, com situações absurdas e reações exageradas que lembram o estilo clássico do slapstick britânico, embora também possuam a caracterização arquetípica como um elemento forte. Desta maneira, criou-se um estilo totalmente novo de comédia.
Assim como os comediantes britânicos clássicos, Chespirito dominava a arte de fazer comédia física sem precisar de uma complexidade verbal. Suas situações eram muitas vezes construídas sobre mal-entendidos, trapalhadas e reações exageradas, algo que ressoava profundamente com o estilo de Chaplin e Laurel. O humor físico era uma ferramenta que permitia a comunicação universal, capaz de ser apreciada por públicos de diferentes culturas e idades, da mesma forma que o trabalho de Chaplin transcendeu fronteiras geográficas.
Embora os programas de Chespirito fossem falados, ele frequentemente utilizava diálogos simples e repetitivos, reforçando o aspecto visual da comédia. Bordões e frases repetidas criavam uma cadência cômica semelhante à maneira como os comediantes do cinema mudo faziam uso do timing para maximizar o impacto de suas ações. O uso deliberado de diálogos minimalistas em situações absurdas também era uma marca da comédia britânica, onde o foco permanecia no físico e no não-verbal, uma característica que Chespirito claramente assimilou.
Nisso, surgem várias possibilidades de horizontes para se explorar, histórias para se contar, que foram exploradas tanto pela comédia britânica dos anos 70 quanto pelo próprio Chespirito — pois ambos descendiam da mesma tradição artística. A comédia britânica, especialmente em suas formas mais refinadas como as de Monty Python, explorava o absurdo e o ridículo em situações cotidianas. Chespirito, especialmente em Los Chifladitos, também se deleitava em adicionar doses de surrealismo nas situações simples.
Ao transpor as influências da comédia física britânica para o cenário televisivo latino-americano, Chespirito conseguiu manter viva uma tradição cômica que remonta ao vaudeville e ao cinema mudo, mas adaptando-a ao seu público e contexto. Ele ressignificou elementos de um humor universal, tornando-se o principal expoente desse estilo na América Latina. Sua capacidade de fazer humor com base em temas como pobreza, desigualdade e luta cotidiana, mas sempre de forma leve e acessível, ampliou o alcance do slapstick clássico, dando seguimento ao movimento artístico de Karno, Chaplin e Laurel.
Portanto, a comédia de Chespirito não apenas se influenciou na comédia clássica britânica, como também a deu sequência. Ao adaptar esse estilo para o contexto latino-americano, Chespirito não só manteve viva essa forma de comédia, mas também a aprimorou, sendo assim o herdeiro legítimo deste movimento artístico.
A influência da comédia clássica britânica na obra de Chespirito
- oasis wonderwall da silva blur
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Eu já comentei aqui que Los Chifladitos lembra muito o humor de Monty Python.
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A influência da comédia clássica britânica na obra de Chespirito
Lembro de uma vez ter lido um comentário em um vídeo aonde uma pessoa dizia que Chespirito copiava o estilo humorístico do comediante cubano Leopoldo Fernández "Tres Patines".
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