Fórum Chaves • Chaves, Chapolin e Chespirito é aqui

Um dos temas mais recorrentes no programa Chespirito é o ocultismo, seja ele adivinhação, quiromancia, astrologia, espiritismo, etc. Praticamente a cada quatro programas, existe algum quadro que toque, sempre de maneira pejorativa, no assunto.

Acho isso extremamente curioso porque até mesmo em Chaves, Bolaños tocava no assunto do espiritismo, taxando de "ignorantes" as pessoas que criam nele.

O curioso de tudo isso é esse empenho em ofender as crenças das pessoas em horóscopos, em adivinhos, e em simpatias, quando ele propagandizava um personagem que teria sido concebido por uma virgem, morreu e ressuscitou, fazendo inclusive musiquinhas para ele.

Por que será que o ultra-direitista Roberto se achava no direito de dizer que a crença dos outros era ignorância, e a dele não?

Porque a maioria pensava como ele? Provavelmente.

Por algum motivo disseram que "mitologia" é como as pessoas designam a religião dos outros.

E ao mesmo tempo em que tudo isso ocorria, ele também se empenhava em mandar mensagens machistas e homofóbicas em centenas de episódios.

Sempre tentando doutrinar a audiência, ao que parece.

Ele era um católico fervoroso e grande conservador politicamente falando.

Ele era intolerante, né não?

Citando a Chimol, "pois assim é como tudo...".

Roberto gostava de pôr sua ideologia no trabalho, e não acho que tenha cometido um erro. Ele, afinal, tinha todo o direito de fazer isso.

É muito parecido com o caso de Charlie Hebdo, eles tinham e tem todo o direito de por meio de seu trabalho sugerir que as religiões estavam erradas, satirizá-las ao ponto de humilhar a imagem das respectivas figuras ditas sagradas do cristianismo e islamismo. Aliás, como fizeram, muitas vezes.
E o público tinha o direito de ficar igualmente ofendido com as charges, assim como tenho certeza de que muitos ficaram ofendidos com Roberto por sua pretensão e intolerância religiosa, mas de ficar ofendido a realizar atentados é uma reação totalmente fora de proporção.

Se ele tinha bom senso em fazer isso? Não interessa, realmente. Mas ele tinha o direito.

Aliás, é estranho ler isso vindo do cara que defendeu Charlie Hebdo e criticou quem tentava de uma forma subjetiva apoiar a reação exagerada terrorista.
Ou será que foi só pela questão de que houve terrorismo que você decidiu apoiar o tal jornal?
Não estou tentando acusá-lo de nada, só estou questionando mesmo.

Enfim, é isso.

Embora eu, como cristão, não concorde com práticas ocultistas, me vejo no dever de respeitar esses praticantes.
Porém, Chaves e Chapolin são obras audiovisuais, e é compreensível que a opinião e os conceitos do autor estivessem presentes. Isso acontece em filmes, livros, novelas, etc.
Se alguém se ofende, evite.

Olhar as séries com os olhos de hoje sem considerar o contexto histórico é um pouco arriscado.

Na década de 1970 quase não se discutia sexualidade. As menções eram mais caricaturais - ou como homossexualidade sendo algo a repelir (caso de "O Professor Apaixonado").

Sobre o machismo, tenho lá minhas ressalvas. Apesar de várias piadas com relação a mulher, há que considerar a força das personagens femininas: Dona Florinda era a mais forte das personagens, em uma interessante contraposição à época. Além disso, a Chiquinha era o personagem infantil mais inteligente. Mas, claro, há episódios que geram certa dúvida, como o do Dr. Zurita. Ao colocar a mulher como a provedora do lar, seria essa uma ironia sobre o patriarcalismo ou uma crítica aos movimentos feministas?

Por fim, sobre a religião: o México é um dos países com maior população católica no mundo. Chespirito sempre foi católico. Como produção dele e como produto da Indústria Cultural, não é de se estranhar que o programa dê um tom mais crítico a outras religiões e louve o catolicismo - só lembrar da canção "Oyelo, Escúchalo".

Então, ele estava imerso à realidade da época, onde o pensamento conservador era mais forte. Não à toa isso respingava nas séries. Fosse hoje em dia, teria que ter uma abertura mais progressista. O próprio Bolaños reconheceu isso em termo há alguns anos, quando disse que não criaria um personagem como o Nhonho, em razão do bullying.

deixem o cara em paz, já morreu e nos deu essas séries que tanto gostamos.

King_CHespirito escreveu:Aliás, é estranho ler isso vindo do cara que defendeu Charlie Hebdo e criticou quem tentava de uma forma subjetiva apoiar a reação exagerada terrorista.

Não, isso não tem absolutamente nada a ver com ataques terroristas.

A liberdade de expressão do Roberto não foi questionada. A intenção do tópico é unicamente questionar a soberba intelectual de Bolaños ao fazer mofa da astrologia ao mesmo tempo que ele acreditava na mitologia cristã.

Antonio Felipe escreveu:Olhar as séries com os olhos de hoje sem considerar o contexto histórico é um pouco arriscado.

E considerar o contexto histórico em tudo pode levar ao entendimento e justificativa de aberrações como a escravidão, por exemplo.

Antonio Felipe escreveu:Na década de 1970 quase não se discutia sexualidade.

Se começou a falar em sexualidade ainda nos anos 40. E essa contextualização temporal é muito perigosa.

Antonio Felipe escreveu:Sobre o machismo, tenho lá minhas ressalvas. Apesar de várias piadas com relação a mulher, há que considerar a força das personagens femininas: Dona Florinda era a mais forte das personagens, em uma interessante contraposição à época.

Dona Florinda é a maior representante da ideologia machista de Roberto! Ela não é uma personagem forte, mas injusta, por isso provoca ódio.

Antonio Felipe escreveu:O próprio Bolaños reconheceu isso em termo há alguns anos, quando disse que não criaria um personagem como o Nhonho, em razão do bullying.

Unicamente porque a Fundação Chespirito tem um trabalho dedicado a crianças obesas e porque o México é o país mais obeso so mundo.

Da mesma forma como ele, depois de críticas à negligência mostrada na série, inventou que Chaves vivia no apartamento 8, e não no barril.

Mas não faria muito sentido pro Chaves ele morar num apartamento distante do pátio principal e ficar no pátio da vila sempre. O barril sempre foi mais sua "moradia", e até faria mais sentido.

Marquês de Sade escreveu:Da mesma forma como ele, depois de críticas à negligência mostrada na série, inventou que Chaves vivia no apartamento 8, e não no barril.

Qual a fonte disso?

Antonio Felipe escreveu:

Marquês de Sade escreveu:Da mesma forma como ele, depois de críticas à negligência mostrada na série, inventou que Chaves vivia no apartamento 8, e não no barril.

Qual a fonte disso?

Essa é a minha teoria.

A série era muito criticada, segundo Aguirre, e pelas alfinetadas que Roberto dava nos críticos de tevê em seus roteiros.

Todos sabem que era El Chavo del 8 porque começou no canal 8. Suponho que quando a série começou a fazer sucesso maior, houve críticas pelo fato de um menino órfão, faminto e negligenciado morar num barril. Tanto é que apenas muito depois do início do programa como show independente que Chaves aparece dizendo que mora no apartamento 8 e não no barril. Coisa que foi mantida no livro.

Pra confirmar isso, só lendo as críticas dos jornais da época, porém, acho que minha teoria faz sentido. Mas não posso te dar fonte que prove a teoria.

Aproveitar e admirar o lado bom das séries não significa que devemos deixar de ver esses erros citados, que realmente existem.

Admitir erros naquilo que gostamos diminui as chances de repetirmos tais erros se um dia, talvez, tivermos a oportunidade de propagar nossas próprias ficções.

Marquês de Sade escreveu:Da mesma forma como ele, depois de críticas à negligência mostrada na série, inventou que Chaves vivia no apartamento 8, e não no barril.

Isso provavelmente surgiu apenas para justificar o apelido "Chaves do 8", sendo que a série não era exibida mais no canal 8.