Eu podia esvaziar o post por pura vergonha mas fica aí como registro mesmo.
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Numa mansão mexicana como outra qualquer, um homem lê seu jornal de 1956 enquanto fuma seu charuto. Uma noticia chama sua atenção: Foi liberado o ex-perigoso bandido Arturo Santamaria. Ele aproximou o jornal para ver se havia mesmo lido aquilo, mas a ponta de seu charuto queimou aquela parte do jornal e não pôde mais ler. Se levantou e andou em circulos. - "Eu vacilei. Devia ter lembrado que era hoje." - Disse o homem, jogando o jornal na lareira - "Que 'ex' que nada. Ele planejou até mesmo sua própria prisão. Já deve estar executando a nova parte do seu plano." O homem se levantou da poltrona e foi em direção ao seu quarto, abrindo seu guardaroupa. Optou por um elegante traje azul e um chapéu fedora - "Vai em algum lugar, querido?" - Perguntou a mulher de camisola que se levantava da cama - "Arturo foi solto. Acho melhor visita-lo em sua casa antes que o contrário aconteça." - Respondeu, checando sua carteira. Passou entre várias identidades falsas antes de optar por uma que dizia "Estebán Navarro" e mostrou para sua esposa - "Para todos os efeitos, meu nome hoje não é Adalberto Perrón. É este aqui. Tudo bem?" - "Entendido." Perrón desceu as escadas. Antes de sair, abriu a porta de um dos quartos e deu uma olhada. Era um quarto com um suave tom de azul e alguns brinquedos, e, na cama, um garoto de pouco menos que 11 anos dormia silenciosamente. - "Logo voltarei, Filho." - sussurrou Perrón antes de sair. Minutos após ouvir o barulho da porta se fechando, a mulher se levantou e começou a se vestir para sair. Se arrumou com pressa, como se tivesse esperando o marido sair para isso, e foi embora. Esqueceu, porém, a porta destrancada. O jovem garoto de cabelos negros se levantou com o som do despertador. Percebeu rapidamente que a casa estava vazia. Desceu então para a cozinha e começou a preparar seu café da manhã, afinal, estava acostumado a viver sozinho. Após terminado, sentouse para comer mas ouviu um barulho do lado de fora. Um carro havia estacionado no quintal. - "Estranho, meu pai nunca chega cedo desse jeito..." - pensou o menino. Correu até a janela para espiar. Um homem com uma protuberante barba descendo de um desconhecido chevrolet bel-air verde, modelo 1955. Quem era aquele homem com tal carro luxuoso? O jornal que queimava na lareira mostrava aquela mesma face sendo engolida pelas chamas. Arturo Santamaria estava alí. O jovem abriu a porta quando Arturo estava prestes a bate-la, e sua mão simplesmente atravessou o ar. Olhou pra baixo somente fitou o garoto que acabara de abrir a porta. - "Quando pessoas mais altas fazem isso, costuma dar problema." - Afirmou Arturo. O garoto não fazia idéia de que estava frente a um perigoso contrabandista. - "O seu pai está?" - "Da parte de quem?" - Perguntou o garoto - "Arturo. Digamos que somos... velhos amigos." - Arturo decidiu omitir maiores detalhes. - "Ele saiu. Ele sempre sai cedo pra trabalhar." - Disse o garoto, sem perceber que o dia era domingo. Seu pai havia saído únicamente para visitar Arturo, que sabia disso. - "Ah, sim, sim. Ele pediu para que eu cuidasse de você." - Mentiu Arturo, adentrando a casa. - "Então, você tem algum cereal? Ah, um sanduíche. Eu estava com fome!" - Começou a comer - "Eu fiz pra mim..." - Informou o garoto, mas Arturo ignorou. - "Sim, sim, vai lá pra sala ver algum desenho. Eu tenho que resolver um trabalho." - Arturo tentou distrair o garoto para que, enquanto ele não estivesse olhando, pudesse ir até o quarto do pai procurar alguma coisa. E foi assim que aconteceu. Enquanto Arturo vasculhava os aposentos, o jovem ligou a TV. Ia assistir algum programa infantil mas a TV ligou num noticiário. - "[...] solto nesta madrugada o famoso ex-contrabandista Arturo Santamaria Conhecido por sua grande rivalidade com a gangue rival comandada pela Família Perrón, as autoridades não confiam plenamente em sua regeneração e prometem manter um olho aberto no caso de qualquer nova ação indesejada. Aqui é Sebastian Tapia pro jornal matinal." - Anunciou o repórter antes do garoto desligar a TV. Começou a suar. Estava apavorado. Ele havia aberto a porta para o maior inimigo de seu pai. E agora, quem poderia defendelo? Foi o que ele perguntou. - "Eu." - Respondeu um suave sussurro atrás dele. O garoto se virou para ver a figura que havia atendido seu chamado: Um homem em um excêntrico uniforme vermelho e amarelo, portando um brasão amarelo em formato de coração com a letra vermelha "CH" destacada. Tirou sua cartola vermelha para saudar o garoto: "Não contavam com a minha astúcia." - "Quem... quem é você?" - Perguntou o menino, deixando aquele misterioso herói com uma cara indignada. - "Como assim quem sou eu? Eu sou... Ah! Aaaah!" - Percebeu o homem. - "Calendário. CALENDÁRIO!" Exigiu, e o garoto foi correndo buscar um. Ao ser entregue, riu - "Sim, sim... México, 1956." - "Que ano você pensou que fosse?" - Perguntou o garoto, ainda maravilhado com aquela excêntrica criatura. - "Nada não. Você realmente não me conhece." - Respondeu em um tom humorado. - "Pelo menos não até 1969" - sussurrou. - "Mas você ainda não me disse quem é você." - Voltou a questionar - "Eu sou o Polegar Vermelho. Mais normalmente conhecido como o Chapolin Colorado" - Respondeu finalmente. - "Eu chamei por ajuda... e você apareceu" - Disse o menino. - "É assim mesmo que acontece. São varios chamados... são várias épocas... há uma lista de prioridade, sabe? O seu problema parece ser o mais urgente dos que eu tenho pendente" - Explicou o Chapolin. - "Não é de menos... tem um homem aqui... ele é perigoso. Meio que um bandido. E meus pais sairam..." - "Mesmo? No maior estilo 'Esqueceram de Mim'?" - Perguntou o Chapolin em tom de piada - "Ah, desculpa, anos 90. Ok, 1956. Continue" - Desculpou-se. - "Ele é inimigo do meu pai, e veio inventando que veio cuidar de mim. Disse agora a pouco que queria resolver um trabalho... eu aposto que ele está vasculhando a casa!" - Contou o garoto, visivelmente nervoso. - "Calma, calma, não criemos pânico. Você ficará bem enquanto eu estiver aqui." - Chapolin tentou reconfortar o garoto, de joelhos para olhar nos olhos dele. - "Você vai derrotar ele?" - Perguntou, respirando fundo. - "Intencionalmente, não. Quando eu apareço, os vilões costumam se derrotar sozinhos." - Chapolin sorriu e piscou, levantandose. "Sigam-me os bons!" Exclamou, subindo as escadas para o quarto de Adalberto. Chapolin bateu na porta algumas vezes. Bateu novamente mas sem sucesso. Estava prestes a bater de novo quando Arturo abriu a porta - já imaginando o que haveria, Arturo abriu sua mão em frente á sua cabeça, segurando o punho do Chapolin para evitar o soco acidental. - "Bom, bom. Experiente." - Disse o Chapolin, olhando nos olhos de Arturo. - "Imagino que você não seja o pai deste garoto aí." - Indagou falsamente Arturo, sabia que não era. Pelo menos da ultima vez que viu Adalberto Perrón, não usava roupas tão ridículas... - "Polegar Vermelho. Poderia soltar minha mão, por favor?" - Pediu o Chapolin, mas Arturo apenas segurou mais forte. - "Por que?" - Perguntou Arturo, segurando firmemente. - "Pode ser perigoso." - Avisou Chapolin - "Por causa de uma apertadinha? Eu acho que não." - Brincou Arturo, segurando ainda mais forte agora. - "Eu não quis dizer perigoso pra mim." - Explicou Chapolin, virando-se com sua mão ainda segurada e aplicando uma forte cotovelada no estomago de Arturo. - "Corre!" O garoto fugiu rapidamente do quarto enquanto Chapolin continuava tentando dominar Arturo pela força. Se esquivando de cada ataque, Chapolin pegou o lençol da cama e, correndo em volta de Arturo, deixou o mesmo enrolado. Porém não deu o nó e o lençol simplesmente caiu. Chapolin correu do quarto e parou de frente á escada, enquanto Arturo veio correndo atrás. Chapolin simplesmente se ajoelhou e passou por debaixo de Arturo, que sem medir a própria velocidade, pisou em falso na escada e caiu pela mesma. O garoto então se sentou em cima dele para evitar uma possivel fuga, e sorriu para Chapolin, que percebeu que ele estava segurando um pano ensanguentado contra o olho esquerdo. - "Muito bom! Eu não falei? Não sou forte ou esperto, mas de algum jeito, as coisas acabam funcionando. Posso dizer até que o herói do dia foi você!" - Exclamou Chapolin, orgulhoso - "Mas o que aconteceu aí? Se machucou?" - "Eu fui virar num corredor, dei de cara na parede... só que tinha um prego solto lá... mas tá tudo bem... não foi nada." - declarou o menino. - "Não, não, deixa eu ver. É bom evitar que se infeccione." - Pediu o Chapolin, chegando perto do garoto que sentava sobre o malfeitor desmaiado. O garoto retirou o pano e Chapolin quase engasgou. O garoto possuia um grave corte que ia de sua testa até sua bochecha, sobre seu agora fechado olho esquerdo. Chapolin começou a tremer, respirando fundo. - "Está tudo bem, Chapolin? Você... está suando?" - O garoto se assustou com a reação do Chapolin. Era um corte feio, mas isso justificaria tal reação? - "Você... qual é... qual é o seu nome?" - Perguntou Chapolin, quase gaguejando - "Meu nome é Carlos Perrón... por que?" - O garoto não entendia o porquê daquela atitude. - "Qual é seu apelido? Como te chamam?" - Insistiu Chapolin, mantendo o olhar fixo no menino. - "Quase Nada. Por quê?" - O garoto viu o rosto do Chapolin ficar cada vez mais perturbado e aversivo. - "O que houve, Chapolin? Por que está assim? Por que perguntou meu nome? Por que?" - "Por que?" |