Página 1 de 2

Fórum Chaves entrevista Maria Antonieta de las Nieves!

Enviado: 14 Dez 2013, 19:06
por Fórum Chaves
Depois de entrevistar Roberto Gómez Fernández, Rubén Aguirre e Edgar Vivar, o Fórum Chaves traz aos fãs mais uma entrevista exclusiva: Maria Antonieta de las Nieves, a Chiquinha!

Pouco depois de sua turnê no Brasil, Maria nos concedeu essa entrevista, diretamente do México, onde falou sobre seu começo de carreira, porque saiu das séries de Chespirito em 1973, a saída e volta de Ramón Valdés das séries, o nascimento de Aquí Está la Chilindrina, e muito mais. Ela ainda comenta sobre sua recente passagem por nosso país e envia uma mensagem especial para Sandra Mara Azevedo, sua primeira dubladora!

Assista aqui:

[youtube16x9]
VERSÃO EM TEXTO

Para começar, gostaria de saber como começou sua carreira artística na televisão e na dublagem.
Bom, eu comecei muito pequena. Comecei aos 6 anos e comecei fazendo cinema, um filme que se chamava “Pulgarcito”. Depois fiz teatro de Belas Artes, uma comédia para crianças onde tínhamos que dançar, cantar, atuar e foi algo maravilhoso, um aprendizado único. Depois comecei a fazer dublagem aos 8 anos e dos 8 anos aos 23, 24 anos fiz, ao mesmo tempo, dublagem, cinema, novelas, rádio, comerciais... Fui uma atriz que trabalhou muito por toda a vida, desde menina até agora, bendito seja Deus, e aos 18 anos conheci Chespirito, mas eu não queria ser atriz cômica, eu queria ser atriz dramática. Eu ganhei um prêmio como a melhor menina, a melhor atriz dramática infantil por uma novela que teve muito sucesso no México e se chamou “La Leona” e eu fazia uma menina muito má, mas um papel muito dramático, chorava muito e isso me custou muito. E quando conheci Chespirito lhe disse: “Não, obrigada. Porque eu não sei fazer palhaçadas, eu não sei fazer caras engraçadas. Eu não sei fazer comédia” e ele me deu a maior lição de minha vida. Me disse: “Se não sabe fazer comédia, não é uma boa atriz, porque uma boa atriz sabe fazer tanto comédia quanto drama.” E eu disse: “Caramba, então eu quero tentar. Me deixe tentar por uma semana e se você gostar, que bom.” O primeiro programa que eu fiz, era um programa em 1968 que se chamava “Sábados de la fortuna” e eu fazia uma adolescente que tinha que ser bonita, porque o Drº Chapatin, já existia o Drº Chapatin, lhe dizia: “Mococha Pechocha pero babocha”, isso quer dizer “fedelha bonita mas lenta, tonta”. E esse foi meu primeiro personagem e me encantou. A primeira vez que fiz era ao vivo o programa com público. O público me aplaudiu e esse aplausos chegaram na alma e sentia mariposas no estômago e no coração, dizendo: “Esse é seu trabalho. Isso é o que deve fazer.” E isso eu fiz durante 42 anos.

Como Chespirito chegou até você? Como a convidou para fazer parte de seus programas?
Pois assim. Ele conhecia o produtor de outro programa que eu estava fazendo e o produtor desse programa me apresentou a Chespirito e isso foi aos 18 anos.

Como surgiu a Chiquinha de “Chaves”? Você acrescentou alguma característica pessoal ou tudo foi criado por Chespirito?
Tudo fui eu quem criou. O único que foi criado por Chespirito foi o nome. Ele pôs o nome à menina que eu criei. Quando estávamos fazendo “Sábados de la fortuna”, eu fazia todos os papéis. Fazia menina, menino, bruxa, velhinha, jovem, feia, todos os papéis eu fazia. Então, me disse uma vez que teria que fazer uma menina e eu, imediatamente pensei em como fazer essa menina. Iria ter 2 marias-chiquinhas, ia ter sardas, ia faltar esse dente, um sueter torcido e aí estava a Chiquinha. Vê a Chiquinha, mas com outro vestido. E esse mesmo personagem o fiz várias vezes durante 3 anos e quando ia fazê-lo em “Chaves”, me disse: “Quero que faça a menina que fez, mas agora vai se chamar Chiquinha.” E eu disse: “Magnífico.” Ou seja, eu comecei, 3 anos antes, a fazer a Chiquinha antes que começasse o programa “Chaves”.

Em meados de 1973, você deixou as séries de Chespirito. Muita gente pensa que você saiu porque estava grávida ou porque foi trabalhar em outro programa. Então, o que aconteceu de verdade?
Bom, foram as duas coisas. Eu estava prestes a dar a luz, sim é verdade, eu estava grávida. Mas me ligaram da concorrência do Canal 8 para apresentar um programa de 3 horas diárias, onde eu era a apresentadora. Eu ia atuar, dançar, cantar e era um programa de todos os dias. Então, me pagavam o triplo ou o quádruplo do que me pagava Chespirito e eu estava construindo minha primeira casa. Meu esposo e eu trabalhávamos muito para poder construí-la e falei com meu esposo e disse: “Olha, é muito dinheiro e vai me custar seguir com Chespirito, eu quero muito.” Eu contei a Chespirito e ele me entendeu perfeitamente.E ele me disse: “Vá. Vá seguir com a sua carreira e continue trabalhando.”. Jamais pensamos que o programa “Chaves” iria durar tantos anos. Então eu fui, fui por 1 ano. Já tinha nascido meu primeiro filho, quando Chespirito me ligou: “Quer retornar ao programa?” E eu disse: “Está falando sério?” “Sim, é sério.” E então, eu já tinha acabado minha casa e eu me mudei. Era 10 vezes mais do que eu estava ganhando. Mudei, para voltar com Chespirito e estive um ano fora do programa. E isso foi em 1973 quando tive meu primeiro filho, exatamente.

E como você voltou a trabalhar com Chespirito no ano seguinte?
Porque ele me chamou e me perguntou se eu queria voltar a trabalhar com ele e eu me encantei pela ideia. Disse: “Claro que sim.” Então eu agradeci ao outro programa e lhes disse que iria voltar para onde eu pertencia, a Televisa e ao programa de Chespirito. E voltei e estive com ele durante o resto dos anos.

E como seu esposo Gabriel chegou a ser locutor e produtor dos programas de Chespirito?
Bom, ele, realmente, era meu produtor, produtor dos meus programas e produtor do meu espetáculo. Produtor do programa de Chespirito, ele nunca chegou a ser. Ele era o locutor, porque Kiko se foi. Kiko ficou seis anos no programa e foi tentar a sorte fora, passou o mesmo que eu, pois sempre aos personagens que se destacam mais, são chamados em outros lados, lhes oferecem mais dinheiro, como ofereceram a mim, e Kiko foi trabalhar na Venezuela. Então, Kiko levou o locutor que tínhamos, que era Jorge Gutiérrez Zamora. E depois entrou meu marido, ou seja, o programa durou 18 anos, perdão, 24 anos no ar. E 18 anos trabalhou meu marido com o programa de Chespirito e também nas turnês de Chespirito.

No final dos anos 1970, Carlos Villagrán e Ramón Valdés deixaram os programas de Chespirito. Como foi esse período em que eles saíram, como foi trabalhar sem eles?
Veja, que é uma lástima ter que te dizer isso, porém gosto de falar a verdade. Eu pessoalmente senti muito, porque sentia falta de meu papai, Seu Madruga. Porém o público não sentiu tanto. A prova está que eles trabalharam seis anos e nós seguimos trabalhando 18 anos mais e as pessoas seguiram vendo igual o programa, seguiam gostando igual, sentindo saudade, é claro, de Carlos Villagrán e ao Seu Madruga, porém nunca passou nada mais. Sentiam falta, às vezes perguntavam por eles, e chegou um tempo no México em que as pessoas se acostumaram de que eles não estavam mais, nem Kiko, nem o Seu Madruga. Já estava o carteiro Jaiminho, a Pópis, Nhonho, minha biscavó, esses personagens substituíram aos outros que se foram.

Em 1981, Ramón Valdés voltou a trabalhar com Chespirito. Como foi esse período e por que Ramón voltou a sair pouco tempo depois?
A verdade é que Ramón se desesperava facilmente. Então, ele não gostou como estávamos trabalhando. Não gostou da nova direção, digamos, do programa. Então, disse a Chespirito que estava indo. E se foi. Assim era ele. A ele não lhe importavam muito as coisas. Veja, enquanto as coisas estavam bem, ele ficava. Senão, dizia adeus e ia. Isso foi o que passou. Voltou, não se sentiu contente então nos disse adeus e seguiu. E seguiu trabalhando como Seu Madruga, é claro, em turnês, com o Circo do Seu Madruga, e ele passava muito bem sozinho. Gostou de estar sozinho.

Como foi a mudança de ser a Chiquinha e também Dona Neves para ser também a Marujinha no quadro do Chompiras?
Foi ao mesmo tempo. Estávamos fazendo o Chaves e ao mesmo tempo, Chompiras. E então a mim não me incomodou ser a Marujinha. Porém, quando Chespirito disse, digo, não disse, quando acabou o Chaves, Chespirito não nos disse. Dois meses depois de não passar Chaves, eu lhe perguntei: “E o que passou com Chaves?”. “Já se acabou a série”. “Perdão?” “Sim. Nunca mais vai ter o Chaves”. E eu lhe disse: “então agora eu sou apenas a Marujinha?”. E ele disse: “Sim”. Bem, Marujinha era uma prostituta disfarçada e terminou sendo Marujinha. Não convinha a mim mudar de uma menina linda como a Chiquinha a um personagem como esse. Então disse a Chespirito: “Você já não quer fazer o Chaves, porque já se sente velho para fazê-lo, tem toda a razão. Cada quem... Eu respeito sua opinião, mas eu não vejo assim. Eu vou seguir sendo a Chiquinha”. E ele disse: “está bem, busca sua oportunidade”. A busquei. E dois anos depois me deram, foi quando fiz o programa Aquí Está la Chilindrina e deixei de fazer Marujinha, porque na Televisa não podíamos trabalhar em dois programas. E eu estava trabalhando com Chespirito e com Marujinha e não podia ser. Então deixei a Marujinha e segui com a Chiquinha, porque era o que eu queria fazer. Era o que eu gostava. E tinha vinte anos sendo a Chiquinha.

Como surgiu o programa Aquí Está la Chilindrina?
Eu estava buscando uma ideia, que não se parecia em nada com o Chaves, para fazer meu próprio programa. Então eu escrevi o primeiro programa, porém me corrigiu Antonio Moncel, que era um dos grandes escritores que a Televisa tinha. E ele me reescreveu, mostrou a Chespirito, que me disse que o programa estava muito bom. E eu estava feliz. Então no escritório de Chespirito, com seus câmeras, seus diretores, eu fiz meu primeiro programa, que se chamou Aquí Está la Chilindrina. E a ideia foi minha. Os personagens novos eram meus. Então, me disse Chespirito que íamos ver onde colocar, que eu tinha que esperar. E assim foi mais de um ano, eu esperando minha oportunidade. E minha oportunidade não chegava. Eu não sabia que Televisa tinha um formato de cinco pessoas para dizer que programa gostavam, para colocar no ar. E cada vez que essas cinco pessoas, ou seja, quatro pessoas e Chespirito, as quatro diziam “gostamos do programa da Chiquinha”, Chespirito dizia “não, a Chiquinha nunca vai ter seu programa, nunca vai entrar no ar”. Mas eu não sabia que ele dizia isso. E assim passou muito tempo até que uma vez, houve uma dificuldade entre as cinco que estavam dirigindo esse grupo. E me disseram: graças ao teu patrão, não vai voltar a fazer televisão como Chiquinha nunca. Então fui diretamente falar com o senhor Azcárraga, o dono da Televisa, Azcárraga pai. E eu pensei que ele não me conhecia, nem ia me receber. Porque com outras pessoas menos importantes, demorei um ano em conseguir falar. Então sua secretária me conhecia muito bem e nesse mesmo dia falei com o senhor Azcárraga, que me disse que não sabia que eu tinha um piloto. Que ia ver um minuto e se gostasse desse minuto, o programa iria ao ar, quisesse ou não Chespirito. Porém me pediu nesse momentinho que eu fizesse um filme. Fiquei feliz. E lhe disse: “Chespirito disse que os personagens de Chaves nunca fariam cinema”. Ele disse: “bom, isso disse Chespirito, falta que diga eu”. Então me mandou fazer meu filme, já estávamos preparados para fazê-la e disse Chespirito: “o filme não será feito porque eu não quero que seja feito”. E disse o senhor Azcárraga: “o filme será feito porque eu quero que se faça”. Estava eu fazendo o filme, quase terminando, quando me ligam do escritório do senhor Azcárraga, do chefe, e me disseram: “seu programa entra no ar, assim que terminar o filme, seu programa entra no ar”. Se apresse, porque tem que trabalhar na televisão. E assim foi. Também quando eu ia começar o programa, disse Chespirito: “não quero, não quero que Maria Antonieta volte a fazer televisão, não quero que Maria Antonieta faça a Chiquinha outra vez”. E o senhor Azcárraga disse: “pois eu sim quero”. E então voltou ao ar, Aquí Está la Chilindrina. Aos poucos programas, depois de dezessete, infelizmente tiveram que terminar toda a grade de segunda a sexta. Segunda era Aquí Está la Chilindrina, terça era Sin Embargo Si Mueve, quarta era um programa de Eduardo Segundo, quinta era Chiquillados e sexta era Chespirito, a primeira parte. E todos os programas acabaram, não apenas o meu, também o de Chespirito acabou. E depois teve boatarias de que não tinham gostado de meu programa, por isso foi tirado do ar. Pois tanto gostaram do meu programa, que logo o colocaram de reprise no Canal 2, que é o mais importante da Televisa. Sábados e domingos. Depois o colocar no 4, depois no 9, assim seguiram dois anos, meu programa esteve no ar no México todo o tempo. E isso foi quando me dei conta de que Chespirito não queria que eu trabalhasse como Chiquinha e que ia colocar todas as oposições que pudesse. E assim foi, infelizmente.

Então não houve nenhum outro projeto de televisão ou de cinema que pudesse trabalhar a Chiquinha?
Não, porque já havia morrido o senhor Azcárraga pai, que foi o que me apoiou todo o tempo, acabava de morrer. E já não houve forma de falar com ninguém para que o programa da Chiquinha voltasse, ou outro programa, ou fazer outro filme. Então não me restou mais remédio do que seguir com meu espetáculo. Eu com meu espetáculo da Chiquinha, ou o espetáculo da Chiquinha, o Chou, diz a Chiquinha, com CH. O Chou da Chiquinha começou há muitos anos, três anos depois de começar o Chaves. Então eu, à parte de fazer televisão, fazia meu próprio espetáculo e já viajava por todo o mundo com o show da Chiquinha. E assim segui, viajando e assim sigo, viajando. Acabo de voltar de estar com vocês do Brasil, que foi o último que fiz esse ano e foi o melhor que me poderia acontecer. O público brasileiro é o melhor do mundo, Deus meu, que calor, que entusiasmo, que lindo, que amável, bom, me senti feliz no Brasil, foi meu prêmio por ter aguentado tanto.

Muito obrigado a você por estar conosco. Foi maravilhoso poder te ver pessoalmente, foi muito lindo.
Obrigado, igualmente para mim foi maravilhoso estar com vocês, poder compartilhar com todos vocês... Bem, o que é ser uma mulher, uma mulher trabalha muito, uma mulher que lutou muito, uma mulher que aguentou muito e sou muito feliz com minha Chiquinha, agora se eu não volte a trabalhar com a Chiquinha, eu já fiz o que tinha que fazer e o último que esperava era Brasil. Era o único país de toda a América Latina que eu não conhecia e que graças a Deus e a todos vocês, me fez tão feliz.

Que bom, que bom! Espera voltar ao Brasil nos próximos anos?
Claro que sim! Esperamos que nos voltem a contratar, e não façam mais em lugares pequenos, mas estádios, onde eu possa ver todas as crianças, todos os jovens, a todos os grandes que me foram ver, porque o mais pequeno tinha 8 anos, dos que me foram ver, e o maior tinha 90, ou seja, foi maravilhoso ver tanta gente que eu não pensava que me conheciam, e que todavia queriam me ver e foi algo maravilhoso. Agora sim, quero ver todas as minhas crianças do Brasil, que adoro, espero estar em breve com vocês e espero saudar, como diz a Chiquinha, pessoalmente e em pessoa.

O que você percebeu de diferente dos fãs brasileiros comparado aos fãs de outros países?
Vocês são muito eufóricos. Gritam muito, levantam os braços muito e com isso você sente que estão te abraçando. Ainda que estejam a há um metro de mim, sente-se o abraço, sente-se o calor que te dá as pessoas, têm muita energia para fazer as coisas e isso é o que encanta aos artistas. Sentir o público, a euforia do público. Então, para mim foi algo maravilhoso, uma experiência única, que o mais jovem tinha 8 anos e o mais velho, bem mais velho, pois eu estou acostumada que sejam as crianças, que estão mais apegados a mim, e os que desfrutam mais de meu espetáculo. Mas eu não mudei meu espetáculo em nenhum momento, sempre trabalhei igual para pequenos ou grandes. Muito, muito obrigado.

Como foi seu período trabalhando como dubladora?
A dublagem para mim foi uma escola maravilhosa. Era muito difícil fazer dublagem naquela época, hoje não tanto, porque te ajuda muito o engenheiro que está manejando as máquinas. A nova tecnologia faz com que se não ficou exato o lip sync, o que fala o personagem que está dublando, eles com a máquina alargam as frases e fica perfeito. Naquela época não. Além disso, tinha que dublar nesse pedacinho de filme, chamado loop, tinham que falar quatro pessoas ao mesmo tempo, estávamos os quatro ao microfone, falando cada um o que tinha que falar. Imagina que falaram as três primeiras e o último se equivoca. Há que começar de novo. Ou que o segundo se equivoca... Nunca pode ensaiar tudo completo, então era muito difícil. E para fazer voz de menino, bom eu era uma menina quando comecei, tinha oito anos. Não havia meninos que podiam fazer isso, era muito difícil. E a mim facilitou. Bom, de aí até os 23 anos, quando deixei de fazer dublagem, eu fazia todos os tipos de voz: de menina, de menino, de jovem, de velhinha, até de rapaz tive que fazer alguma vez, até de jovem de 18 anos tive que fazer. E, diziam que era bom, porque me chamavam muito. Então, dizem por aí que deixei um vazio difícil de preencher. Isto é fora de egolatria, sempre me disseram isso os produtores, diretores. E eu sentia falta por muitos anos, eu sonhava em fazer dublagem, foi minha escola, sentia falta de meus companheiros, desse tipo de trabalho. E agora, depois de muitos anos, no ano retrasado, tive a grande sorte de que me chamaram diretamente de Walt Disney Productions para fazer o filme Detona Ralph. E eu dublava uma menina que se chamava Vanellope von Schwitz. E essa menina, se você vê o personagem nos desenhos, parece muito com a Chiquinha. Por que se parece? Porque a Chiquinha foi a inspiração do desenhista e do diretor que fez o filme. Veja que extraordinário. O diretor, quando era jovem, viveu muito tempo em Tijuana, na fronteira do México com os Estados Unidos. E ele via muito o Chaves, ainda que não entendisse o que falávamos, ele via a Chiquinha e foi um personagem que lhe encantou. Quando ele fez esse filme, Detona Ralph, imaginava que era a Chiquinha que estava fazendo esse papel, por isso muitos gestos da personagem, muitos pulos, muita coisa é da Chiquinha. E quando se fez a dublagem, eu não estava no México, eu não fiz a dublagem. Então quando terminaram, levaram ao produtor, que disse: “esta voz que está fazendo a menina não é Maria Antonieta de las Nieves. Está muito bem, mas não é Maria Antonieta de las Nieves. Eu quero a Maria Antonieta de las Nieves”. Eu estava trabalhando em Miami, também em outro sonho que realizei em Miami, que foi uma coisa que se chamou “Mira Quién Baila”. E eu com quase sessenta anos, estava dançando, por favor, sem ser dançarina. Foi algo maravilhoso. E me ligam e me pedem que eu faça essa dublagem. Disse que não podia, porque estava em Miami. Então eles foram até Miami para que eu dublasse Vanellope. Aí me deram permissão em Mira Quién Baila, duas tardes. Em duas tardes não somente terminei o filme, que era um conceito totalmente distinto à dublagem que eu conhecia, e me adaptei muito bem à nova forma de fazer dublagem. E além disso fiz toda a promoção para América do Sul, Central e Estados Unidos. Porque em todos os lados conhecem Maria Antonieta de las Nieves e não tinha outro ator conhecido. E me disseram: “você vai fazer a imagem do filme”. Então eu gravei todos os spots, todos os comerciais, para América do Sul, Central e Estados Unidos, dos DVDs, do filme, dos bonecos, de tudo isso. Então foi pra mim um verdadeiro prazer, um gosto e além disso um privilégio ter trabalhado para Walt Disney dessa maneira, de que por favor eu fizesse.

O que pensa das vozes da Chiquinha aqui no Brasil?
Me encanta! Cecília Lemes é a coisa mais bela de mulher, de talentosa, de boa, de boa companheira, de amável, é mais: eu a pedi para a turnê. Disse a eles: quero a moça que me dubla venha. Porque não é o mesmo que a ouçam em espanhol, porque não entendem espanhol, do que a ouçam em português. E muita gente pensa que eu sou brasileira, de tão boa que está a dublagem. A dublagem está excelente! Todas as vozes se parecem com os personagens, e Cecília é um encanto. Eu a escolheria para que me duble em todo o resto de minha vida.

Creio que você saiba que antes de Cecília, houve outra dubladora, Sandra Mara Azevedo.
Sim, me disseram. Disseram-me também que houve um pouquinho de, não dificuldade ou pleito, mas que as duas disputavam quem era a melhor Chiquinha. À outra não tive a oportunidade de conhecer, porém sei que também fez a voz muito bem, senão não a teriam escolhido. Vocês têm muito boa dublagem, televisão muito boa, umas novelas extraordinárias. Assim, não duvido que a outra atriz tenha feito bem. Porém Cecília é a única que conheci e a única com quem dividi o palco durante o tempo que estive no Brasil.

Poderia enviar uma mensagem para Sandra Mara Azevedo, sua primeira dubladora aqui no Brasil?
Que tal, Sandra Mara? Te mando todo o meu carinho, todos os meus beijos, obrigado por me emprestar sua voz durante algum tempo, durante muito tempo e sei que você o fez muito lindo, muito bem. E te agradeço que tenha dado tanto carinho a esse trabalho. Oxalá que quando eu volte ao Brasil, possa te conhecer, e nos possamos ver e sejamos amigas, porque quero muito às pessoas talentosas. E sei que você é uma pessoa muito talentosa. Todo mundo me disse. Tchau, te quero muito, beijinho! Eu te amo!

Sua filha Veronica Fernández trabalhou como a Paty no Programa Chespirito nos anos 1980. Há muita curiosidade em saber se ela segue carreira artística hoje.
Infelizmente, não. Ela preferiu se casar, ter filhos, do que seguir carreira artística. É muito difícil fazer as duas coisas. A mim me custou muito trabalho, afortunadamente as duas coisas me saíram muito bem. Sou uma mãe muito orgulhosa, meus filhos são pessoas sensacionais, porém não lhes dei o tempo que necessitavam. Deveria estar mais tempo com eles. Então ela disse: “o que vou fazer? Ser uma grande atriz, que vai me fazer bem, satisfazer meu ego, ou uma boa mãe”, e preferiu ser uma boa mãe. Então, é uma mãe maravilhosa, tenho duas netas belíssimas, amo-as, a maior tem treze anos e o mais novo, dez, depois se casou meu filho, que é mais jovem que Veronica, e também quis ser ator, e também trabalhou em meu filme, La Chilindrina en Apuros, um papelzinho pequenininho. Então eu quis surpreender, em meu filme, em Aquí Está la Chilindrina, porque meu esposo trabalhou em Aquí Está la Chilindrina, e Veronica também. Ela era uma das freiras, uma das freirinhas, que não queria a Chiquinha. E meu marido era um velhinho surdo, que era jardineiro em Aquí Está la Chilindrina, Benito, o jardineiro. Meu marido era locutor, é claro, e em meu filme, meu marido fez um papel muito pequeno. Não, meu marido fez um papel estelar! E meu filho fez um papel muito pequeno, de jornaleiro, que estava vendendo jornais, e minha filha fez uma das freirinhas. E já não quis, porque creio que seu noivo não gostava que ela atuasse. Então ela preferiu não atuar. E fez bem, porque depois se casou com ele, ficou muito bem, isso é outra história. Porém, minha filha já não quis trabalhar comigo de atriz. Ela se dedica a outra coisa, meu filho também, os dois têm um negócio de uma gráfica que saiu muito bem, bendito seja Deus, de produção gráfica. E são muito felizes à sua maneira. E eu e meu esposo somos muito felizes da nossa.

Por quanto tempo mais quer seguir trabalhando como a Chiquinha?
Todos os dias, quando termino de trabalhar, digo “não mais, não quero, acabou”. E me levanto no dia seguinte e vejo o vestido da Chiquinha, volto a colocá-lo e digo: “sim, quero, sim, quero seguir trabalhando, nunca vou deixar a Chiquinha”. Assim que segundo meu estado de ânimo, quando eu te digo, e agora te digo que vou seguir trabalhando como a Chiquinha por toda a minha vida, se Deus quiser. A não ser que eu me veja tão velha, tão velha, que então no lugar da Chiquinha vai ser o Circo da Biscavó.

Se pudesse falar hoje com Chespirito, o que diria a ele?
O que lhe disse na última vez que o vi: o quero muito e que Deus queira que em algum outro momento possamos nos ver. No céu, já que na Terra creio que não. E que possamos ser tão amigos como éramos. Eu o queria como um pai quando comecei com ele e assim segui por muitos anos, até que chegou o momento em que ele tomou sua decisão, de ser como é agora e então eu o via como um produtor, um diretor, como alguém que eu tinha que obedecer, porque sempre fui muito profissional e nós, atores, devemos ser assim. Nos caiba bem a vida privada das pessoas ou não caiba, isso não deve importar. O importante é o trabalho. Então, por muitos anos fomos diretor e atriz trabalhando juntos e nada mais. Então, o quero muito, muitíssimo.

Pode enviar uma última mensagem para todos os fãs que estão te vendo nessa entrevista?
Claro que sim! Para eles estou aqui! Amigos, obrigado por me seguir tanto, é a primeira vez que eu posso chatear, estar com vocês, e ainda que não nos possa ver e tocar, eu sei que a boa vibração, o anjo que possam ter, o anjo que vocês têm, vamos a juntar nossos anjos e nos dar a mão, e vamos pensar que estamos juntos e nos queremos. É o importante. Obrigado, muito obrigado, que Deus abençoe a todos que estiveram nos escutando e que estiveram me vendo, para vocês, todo o meu amor. Eu lhes mando todo o meu amor! Tchau, beijos!

Re: Fórum Chaves entrevista Maria Antonieta de las Nieves!

Enviado: 14 Dez 2013, 19:22
por SBBHQK
Parabéns pela entrevista! Não sei quem fez a entrevista com a nossa eterna Chiquinha, mas dá pra ver que o cara que fez a entrevista tem jeito para ser jornalista (repórter ou entrevistador).

Re: Fórum Chaves entrevista Maria Antonieta de las Nieves!

Enviado: 14 Dez 2013, 19:25
por Antonio Felipe
iago83 escreveu:Parabéns pela entrevista! Não sei quem fez a entrevista com a nossa eterna Chiquinha, mas dá pra ver que o cara que fez a entrevista tem jeito para ser jornalista (repórter ou entrevistador).
Eu fiz a entrevista. E por acaso sou jornalista.

Re: Fórum Chaves entrevista Maria Antonieta de las Nieves!

Enviado: 14 Dez 2013, 19:28
por CHarritO
E + um furo de reportagem do Conexão Purcino Especial!!! :)

Muito bom!!! :joia:

Re: Fórum Chaves entrevista Maria Antonieta de las Nieves!

Enviado: 14 Dez 2013, 19:46
por SBBHQK
Peraí, mas isso é impressionante! Como você conseguiu entrar em contato com a nossa filhinha do Seu Madruga? Qual foi a emoção ao falar com a Chiquinha? Vocês pretendem entrevistar mais atores CH?

Re: Fórum Chaves entrevista Maria Antonieta de las Nieves!

Enviado: 14 Dez 2013, 19:48
por Antonio Felipe
iago83 escreveu:Peraí, mas isso é impressionante! Como você conseguiu entrar em contato com a nossa filhinha do Seu Madruga? Qual foi a emoção ao falar com a Chiquinha? Vocês pretendem entrevistar mais atores CH?
1. Segredos de mecânico
2. Foi ótimo. Uma sensação incrível.
3. Já entrevistamos o Senhor Barriga e o Professor Girafales. O Kiko tá nos planos.

Re: Fórum Chaves entrevista Maria Antonieta de las Nieves!

Enviado: 14 Dez 2013, 19:57
por Giovani Chambón
Puts, não me dei em conta que a legenda cobriria parte dos quadros que inseri no vídeo, devia ter colocado mais pra cima. :duh:

Re: Fórum Chaves entrevista Maria Antonieta de las Nieves!

Enviado: 14 Dez 2013, 19:59
por Furtado
Ficou excelente a entrevista, Antonio! Parabéns! :D

Re: Fórum Chaves entrevista Maria Antonieta de las Nieves!

Enviado: 14 Dez 2013, 20:13
por Ramyen
Parabéns pela entrevista Antônio Felipe.
Nota:10,0. :joia:

A Maria é muito simpática,que bom que ela decidiu fazer humor,é uma das melhores humoristas de todos os tempos.

E que bom que mesmo saindo da série em 1973,para ganhar mais,Chespirito a deu a oportunidade de voltar.

Re: Fórum Chaves entrevista Maria Antonieta de las Nieves!

Enviado: 14 Dez 2013, 20:36
por Riddle Snowcraft
A verdade é que Ramón se desesperava facilmente. Então, ele não gostou como estávamos trabalhando. Não gostou da nova direção, digamos, do programa. Então, disse a Chespirito que estava indo. E se foi. Assim era ele. A ele não lhe importavam muito as coisas. Veja, enquanto as coisas estavam bem, ele ficava. Senão, dizia adeus e ia. Isso foi o que passou. Voltou, não se sentiu contente então nos disse adeus e seguiu. E seguiu trabalhando como Seu Madruga, é claro, em turnês, com o Circo do Seu Madruga, e ele passava muito bem sozinho. Gostou de estar sozinho.
"nova direção" a.k.a. Dona Florinda

Re: Fórum Chaves entrevista Maria Antonieta de las Nieves!

Enviado: 14 Dez 2013, 21:00
por Guilherme CH
Ótima entrevista! :D

E um dos motivos da saída de Maria em 1973 foi a gravidez também, algo que sempre foi especulado.

Re: Fórum Chaves entrevista Maria Antonieta de las Nieves!

Enviado: 14 Dez 2013, 23:17
por Anderson silveira
Logico que foi,o que explicaria aquela barriga enorme nas esquetes? barriga falsa

Re: Fórum Chaves entrevista Maria Antonieta de las Nieves!

Enviado: 14 Dez 2013, 23:28
por matheus153854
Gostei muito da entrevista, Antonio! Meus Parabéns!

Re: Fórum Chaves entrevista Maria Antonieta de las Nieves!

Enviado: 15 Dez 2013, 03:19
por E.R
Parabéns pela entrevista, Antonio. :joinha:

Foi ótimo ver a Maria falando de seu trabalho na dublagem, dando um recado para a Sandra Mara e falando de "La Chilindrina en Apuros" e "Aqui Está La Chilindrina".

Tem uma esquete do Programa Chespirito em que a Maria fez uma personagem parecida com a Chiquinha (a personagem usava vestido rosa e chorava igual a Chiquinha), quem criou os trejeitos da Chiquinha foi mesmo a Maria, e não o Chespirito.

Re: Fórum Chaves entrevista Maria Antonieta de las Nieves!

Enviado: 15 Dez 2013, 04:47
por Gol D Roger
Pois o nome da personagem era Chiquinha mesmo, E.R. Participou de alguns esquetes de 1970 como ''Fotógrafo 1910'' (o primeiro, aliás), ''Porque o bebê está chorando?'', ''A visita do Papai Noel'', etc.

Só que a Maria Antonieta falou uma pequena informação errada: o quadro dos supergênios surgiu em fins de 1969 (novembro/dezembro), no ano seguinte, e não em 1968 (de acordo com a pesquisa já feita nas Tele-Guías). Em janeiro de 1969, Chespirito estava ainda começando a gravar o programa ''El Ciudadano Gómez''.