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Entrevista com o zagueiro Rafael Tolói (Atalanta).
Qual sua avaliação da temporada que disputou pela Atalanta, até a lesão ?
Meu segundo e meu terceiro anos na Atalanta foram os dois melhores da minha carreira. Na última temporada eu estava bem mentalmente e fisicamente. Esse ano (última temporada) tinha tudo para ser o melhor da minha carreira… até a lesão. Joguei praticamente todos os jogos, fiquei fora de um por suspensão (contra Juventus, na 18ª rodada da Serie A) e outros dois por ter sido poupado (3ª rodada, contra o Cagliari, e 25ª, contra o Torino). Eu pensava “esse ano será o meu ano”. Infelizmente tive o problema com meu tornozelo, fiquei quase 40 dias fazendo tratamento, evitando uma cirurgia.
Como foi o início do tratamento e como está agora ?
No início (antes da cirurgia) ficava em transição entre o campo e fisioterapia. Tudo que podia ter feito na parte médica, foi [feito]. Mas eu sentia muitas dores, só de caminhar. Decidimos pela cirurgia, que não foi complicada. Acabou sendo uma limpeza óssea. A cartilagem estava desgastada e tinha três pedaços, dois de um tamanho de um feijão e outro de uma azeitona, dentro do meu tornozelo. Eu sentia muitas dores. Graças a Deus deu tudo certo, o time classificou para a Champions League e estou próximo dos 100% para jogar.
Por causa da lesão, você não pôde jogar a partida contra o Sassuolo, mas estava nas tribunas. Qual foi o sentimento após a confirmação que a Atalanta conquistou vaga na Champions League ?
Foi emocionante, inexplicável. O sentimento foi de muita felicidade, mas misturado com aquele amargor de não estar em campo. Não digo jogando, mas no banco mesmo. Quando você está fora, não fica nem na concentração. Isso tira o foco, eu chorava todos os jogos [em que não jogava]. O jogo contra o Sassuolo foi ainda mais difícil pra mim, mas depois que acabou foi muito bonito. Entrei no campo, a torcida gritou meu nome. Foi bacana, isso me deu forças para voltar bem.
Já caiu a ficha que você jogará a Champions League ?
Agora sim. Estou focado, me preparando ao máximo. É um sonho que vou realizar, disputar a Champions League. É o melhor campeonato do mundo. Quando eu assinei contrato com a Atalanta, a meta no primeiro ano era não cair. Quatro anos depois vamos jogar a Champions, é incrível.
Gasperini é tido como um técnico que experimenta bastante. Você, por exemplo, costuma aparecer no ataque, armar jogadas e tudo o mais. Como você se sente desempenhando essa função e o que pensa dessas características do treinador ?
Ele joga no 3-5-2 e é muito difícil trocar o esquema. Ele gosta que os zagueiros joguem sempre buscando antecipação, explora muito as saídas pelos lados. Sempre tive essa característica e gosto muito. Se hoje evoluí em relação aos últimos anos, é por causa da forma como o Gasperini comanda a Atalanta. As pessoas confundem muito, acham que três zagueiros é um esquema defensivo. É o contrário. Dependendo do momento do jogo, estamos posicionados no 3-4-3 ou 3-6-1… futebol é uma série de movimentos. Nós trabalhamos há muito tempo e vem dando resultado.
Quais são seus métodos de trabalho e o que ele apresenta de inovador em relação a outros técnicos com quem trabalhou ?
De inovador, não muita coisa. O Gasperini tem um método de trabalho ao qual me adaptei bem. Nossa equipe tem posse de bola notável, temos jogo agressivo, contra alguns adversários não os deixamos jogar. Isso é mérito do treinador.
Você é um dos melhores defensores da Serie A. Além da sua dedicação e trabalho, o que você destaca como explicação para sua evolução técnica ?
Agregou o sistema tático que o Gasperini utiliza e o que ele me pede para fazer em campo. São situações que eu gosto. Isso me ajudou a ficar mais confiante. O amadurecimento também me ajudou a crescer em todos os aspectos do jogo. Eu parei [por causa da lesão] no melhor momento da minha carreira, mas vou me recuperar para continuar em crescente no nível.
Jogar com três defensores não é uma situação desconhecida para você. O Goiás, sob o comando do Hélio dos Anjos, atuava neste sistema tático. Você percebe similaridades ou diferenças nos esquemas 3-5-2 dos dois treinadores ?
Tem bastante diferença. No Goiás eram três zagueiros e um ficava na sobra. Nós [na Atalanta] não. Lá são três zagueiros que escalam, se movimentam entre os setores do campo, jogamos sem sobra. A transição é importante e treinamos muito. O Gasperini treina muito nossos movimentos no campo e se não fizermos algo que ele treinou, fica puto. Se errarmos um passe, ele entende porque é algo técnico, mas no [aspecto] tático ele não aceita erros.
Após rápida passagem pela Roma, você conseguiu voltar à Itália, se tornou ídolo na Atalanta e um dos zagueiros mais sólidos da Serie A. Se sente mais valorizado na Itália ou no Brasil ?
Hoje, com certeza, me sinto valorizado na Itália. Por tudo que conquistei nos últimos quatro anos, mas também porque sou bem recebido onde vou no país. Isso é muito bacana. Ainda não me considero ídolo, porque acho que tem que ser campeão. Muitos falam que sou no Goiás, mas não me considero.
A base da Atalanta acabou de ser campeã da Itália na Primavera, é considerada como uma das melhores da Itália e da Europa. No ano passado, por exemplo, até conversamos com o Rodrigo Guth, zagueiro brasileiro que está no sub-19 nerazzurro. Quais jogadores que saíram da base do clube ou estão sendo revelados no momento você vê com mais possibilidades de fazerem sucesso ?
As categorias de base da Atalanta são uma das mais fortes da Itália. Tem o Rodrigo, que é o brasileiro que está lá, o Amad Traoré e o Roberto Piccoli. Uma vez estava assistindo uma partida deles, não me recordo contra quem, mas fizeram 7 a 0 [contra a Salernitana, pelo campeonato de 2016-17]. A estrutura é fantástica e obtém resultados. Em alguns treinamentos tem uns moleques bem chatos de marcar.
Você já se sente como um dos principais jogadores da história do clube ? Superar o Evair como principal brasileiro da história atalantina, por exemplo, parece questão de tempo.
O Evair foi um jogador em outra época e posição, mas fiz muitas amizades na Atalanta, com pessoas mais velhas. Tem alguns senhores lá que choram só de falar sobre o Evair. Não me vejo como um dos ídolos da história, mas com o tempo quem sabe o nome “Toloi” talvez seja lembrado por tudo que conquistamos nesse atual momento da equipe. Não só eu, mas todos que fizeram e fazem parte.
Na Serie A você tem a oportunidade de enfrentar jogadores de diferentes estilos, você possui alguma lista dos mais complicados que já encarou ?
É difícil citar porque são muitos jogadores. No meu caso é ainda pior porque jogo pelo lado. Aí tem Cristiano Ronaldo, na Juventus; contra o Napoli, o Mertens e o Insigne. O Icardi [Inter] é muito difícil de marcar, assim como o Dzeko [Roma], que se deixar livre para chutar, é caixa. O Quagliarella, da Sampdoria, também é um ótimo atacante.
O que espera da próxima temporada ?
A próxima temporada será a mais importante da minha carreira e da história da Atalanta, por causa da Champions League. Meu projeto é estar bem fisicamente. Na Itália alcancei um nível altíssimo na parte física. Vou me preparar para fazer ainda mais do que fiz na última temporada, quero jogar praticamente todos os jogos. Não serão todos, porque sei que tem concorrência. Mas quero estar disponível para todas as partidas.