O GLOBO
O técnico Tite fala com respaldo quando critica a Pitch, empresa inglesa responsável por organizar e explorar comercialmente os amistosos da seleção. A insatisfação se associa ao sentimento da CBF nos bastidores.
A primeira reclamação explícita de Tite foi em relação ao gramado do Los Angeles Coliseum, onde o Brasil perdeu para o Peru, em setembro.
O campo estava marcado para futebol americano, e o corte da grama era tão baixo que o terreno ficou muito duro. Risco para lesões e prejuízo técnico. Na data Fifa atual, a crítica do técnico foi outra.
— O que mais me deixou chateado foi a falta de respeito da Pitch para com a seleção brasileira e a de Senegal. Ela não nos proporcionou trabalhar (treinar) no campo de jogo — disparou o treinador, na véspera do empate com a seleção africana.
Tite não está em voo solo. A CBF, claro, considera o aspecto estrutural, mas a relação tem sido minada desde a Copa América pelo processo de escolha de locais e adversários para os amistosos. Estar em Cingapura, com fuso horário de 11h a mais do que Brasília, é um exemplo. E nem a presença de público justifica. Contra Senegal, foram pouco mais de 20 mil torcedores no estádio. Baixa ocupação, considerando a capacidade de 55 mil.
Este é o preço que se paga pelo acordo que dá à Pitch a prerrogativa de negociar o destino do “Brasil Global Tour”, nome do pacote de amistosos da seleção. A empresa inglesa também vende os direitos de transmissão das partidas.
A Pitch apresenta um leque de opções de locais e adversários. A CBF tenta conciliar com os interesses da comissão técnica, e esse processo tem sido desgastante. Como se trata de uma parceria, a Pitch também precisa ter seus objetivos comerciais atendidos, mas o cardápio não tem agradado. A CBF vetou um jogo do Brasil em Bangladesh, por exemplo.
Para a data Fifa atual, a primeira opção trazida à mesa era um jogo contra a seleção da Malásia. A CBF foi atrás das seleções africanas. Esse processo de sugestão e recusa deixa o anúncio dos adversários cada vez mais em cima da convocação.
O contrato atual vai até 2022. O acordo é fruto de uma subcontratação feita pela ISE, subsidiária do Grupo Dallah Al Baraka, com sede na Arábia Saudita. A seleção, inclusive, passou por lá em 2018 e voltará em novembro para enfrentar a Argentina. Na mesma época, o Brasil jogará contra a Coreia do Sul, nos Emirados Árabes, como informou inicialmente o Globoesporte.com.
A Pitch entrou na jogada em 2012, no começo da gestão de José Maria Marin. O acordo deixa a CBF muito confortável no aspecto financeiro. Mesmo com a relação estremecida há cerca de um ano, as partes reajustaram o contrato, e a entidade passou a ganhar mais. O valor atual é de cerca de US$ 2 milhões por jogo.
Mas com R$ 617 milhões de receita bruta em 2018, a CBF já entende que não precisa colocar o objetivo financeiro sempre no topo. Amistosos são tratados como jogos preparatórios.
Um eventual rompimento antes de 2022 traria dor de cabeça à entidade. O contrato, regido por leis internacionais, é visto como complexo. O GLOBO procurou a Pitch, mas a empresa não respondeu.