Fórum Chaves entrevista Rubén Aguirre, o Prof. Girafales!
Enviado: 08 Dez 2012, 19:30
O Fórum Chaves, na sua tradição de levar as melhores notícias sobre CH para todos os fãs, já tinha realizado uma entrevista em 2011, com Roberto Gómez Fernández, filho de Chespirito. Agora, estamos de volta com mais uma entrevista exclusiva. E uma grande entrevista! Com exclusividade, conversamos com Rubén Aguirre, o Professor Girafales!
Ele falou conosco a respeito de seu começo de carreira, como conheceu Chespirito, programas em que trabalhou, sua passagem no Brasil e muitas coisas mais! E o melhor, esta entrevista foi feita por fãs e para fãs!
Confira abaixo, em português e espanhol, e em vídeo, a entrevista completa com o Professor Girafales!
Ele falou conosco a respeito de seu começo de carreira, como conheceu Chespirito, programas em que trabalhou, sua passagem no Brasil e muitas coisas mais! E o melhor, esta entrevista foi feita por fãs e para fãs!
Confira abaixo, em português e espanhol, e em vídeo, a entrevista completa com o Professor Girafales!
VÍDEO
[youtube16x9]ENTREVISTA EM PORTUGUÊS
RUBÉN AGUIRRE: Olá, amigos de Fórum Chaves. Que gosto, que prazer que se lembrem tanto de mim. Quero que saibam que de todos os fã-clubes que há de Chaves, o Fórum Chaves é o que mais me escreve, mais me contata pelo Twitter e com o qual mais estou agradecido, Antonio. Assim, estou à sua disposição, você pergunta e eu lhe respondo.FÓRUM CHAVES: Muito obrigado, Professor Girafales. É para mim, para nosso site Fórum Chaves é uma honra poder falar com você nesta noite. Tenho aqui algumas perguntas, perguntas não-tradicionais, foram feitas pelos fãs de nosso site para lhe perguntar algumas coisas acerca dos programas, algumas curiosidades, coisas sobre todos os programas de sua carreira como ator, de todo o universo de Chaves, Chespirito, tudo isso.
R: Bom, eu farei todo o possível para responder da melhor forma essas perguntas.
F: Obrigado, muito obrigado. Para começar, a primeira pergunta. Mais de quarenta anos de carreira na televisão não são pouca coisa. Desde ator até redator de programas. Como começou sua carreira na televisão e no cinema? Por que se interessou pela comédia? (pergunta de Borges)
R: Bom, veja: eu comecei, primeiramente, no rádio. Logo fui ator de radioprogramas, ou radionovelas, ou séries... não sei como se poderia chamar. Daí passei á televisão como locutor. Estando como locutor de televisão, me deram programas como apresentador, programas infantis. Um se chamou El Club de los Millonarios, outro se chamou El Club de Shory, porque então me chamavam de Shory, entre outros programas. Sempre de apresentador e sempre com crianças... e nada mais. Aí depois conheci... bem, muitos atores, entre eles Roberto Gómez Bolaños, então mais que ator, seguia sendo escritor. E nos tornamos amigos e me convidou a trabalhar com ele.
F: Como conheceu Chespirito e começou a atuar junto a ele? (pergunta de Rafinha)
R: Bom, primeiro eu era executivo em televisão, aparte de ser animador e apresentador, tinha a meu cargo alguns programas. Então, meu chefe, o diretor de programação, me falou de Chespirito, me fez uma consulta com ele, porque Chespirito trazia um projeto que iria se chamar (se chamou ao final) El Ciudadano Gómez. Então foi ao meu escritório, lemos juntos o programa, a mim me pareceu muito bem, lhe dei minha opinião aos diretores da emissora, se faz o piloto e no piloto ocorreu algo curioso. O piloto era de cinco ou sete minutos e se ocupava, se necessitava uma secretária. Eu citei uma atriz para que viesse fazer o papel de secretária e no dia da gravação, não se apresentou. Então falei com Rober e lhe disse: “olhe, dá no mesmo que seja secretária ou secretário?” Disse-me: “Dá na mesma”. Disse-lhe: “Bom, então vou fazer eu o secretário por que a secretária não apareceu em lugar algum”. Essa foi a primeira vez que eu trabalhei em um quadro de sete minutos, mais ou menos, que foi o piloto de El Ciudadano Gómez, em que eu fiz o papel de um secretário de um executivo muito importante da televisão. Essa foi a primeira vez que trabalhei com ele e assim foi como o conheci.
F: De que programas você participou quando deixou a equipe de Chespirito no começo dos anos 70? (pergunta de Chompiras)
R: Bom, minha experiência como condutor e escritor de programas infantis de concursos. Fui escritor e diretor de um programa que se chamava Sube, Pelayo, Sube, que durou seis anos no ar e o escrevi por muito tempo. Era um programa de concursos. Também fiz um programa de comédia chamado Kippycosas, porque o fazia uma senhora chamada Kippy Casado. Era uma comediante muito boa, então me deu... quer dizer, fiz alguns programas com ela nesse programa que se chamou Kippycosas. Então basicamente foram esses dois programas, um de concursos e outro de comédia.
F: O Professor Girafales não costumava dizer seu primeiro nome, Inocencio, na série. Por quê? (pergunta de Corpo do Benito)
R: Porque assim marcava o roteiro. O roteiro sempre colocava somente Professor Girafales, e o roteirista não era eu, era Roberto Gómez Bolaños. Ele sabia por quê, teria que perguntar a ele por que nunca disseram o nome Inocencio. Porém nos roteiros nunca se dizia esse nome, sempre dizia Professor Girafales e nós obedecíamos o que dizia o diretor, o roteirista.
F: A maioria dos roteiros criados por Chespirito tiveram nova versão, remakes. Don Juan Tenório, por exemplo teve mais de quatro versões. O que vocês, atores, opinavam sobre isso? (pergunta de Borges)
R: Bom, primeiro deixe-me lhe dizer que no México é uma tradição essa péssima história de Zorrilla, que se chama Don Juan Tenório. Então, o que fizeram os escritores mexicanos, muitos, foi fazer paródia, fazê-la em piada. Não fazê-la como escreveu Zorrilla, porque a que escreveu Zorrilla é muito ruim, o espanhol esse não sei em que estava pensando e a fez, porém se fez uma tradição no México de usá-la, apresentando sobretudo no teatro. A Roberto lhe ocorreu na primeira vez e saiu tão bonita, na verdade, nos saiu tão bem que o que fazíamos era repetir em novembro, que é quando se celebra essa representação de Don Juan Tenório. Sempre em novembro se repetiam os capítulos, porque deveras como escritor saiu muito bem. Havia versos muito bem feitos, que creem que foi uma obra de arte que fez Roberto e por isso se repetia a cada ano.
F: Certo. Porém, a respeito de outros episódios que tiveram outras versões, às vezes com outros atores que não estavam na primeira versão, que pensavam vocês sobre isso, de regravar esses episódios mais de uma vez?
R: Bom, se trabalhava com o pessoal que tínhamos. Se havia morrido Ramón Valdés, então o papel de... não sei o que fazia don Ramón, o fazia Jaiminho. Se Quico tinha se retirado, pois o papel de Quico era feito por outro ator. Quer dizer, sempre se supriam, porém não era necessário que fossem os mesmos atores, porque os personagens de Don Juan Tenório são muito distintos. Roberto sempre fazia Don Juan Tenório, eu sempre fazia Don Luis Mejía... Edgar Vivar fazia o Ciutti, Maria Antonieta... não, Florinda Meza fazia Dona Inês. Enfim, eram personagens da obra que podíamos mudar se tínhamos, pois, a falta de algum de nós.
F: Algumas vezes, nos episódios de Chaves, o Professor Girafales era golpeado, às vezes por engano por Dona Florinda com um tapa, às vezes por outras coisas pelo Chaves. Isso, alguma vez, lhe machucou de verdade? (pergunta de Antonio Felipe)
R: Não, não, não, nunca, sempre os atores sabem como se “bater” sem nos causar dano. Sabemos como caímos ao solo sem se machucar, brigar inclusive, sem machucar uns aos outros. Isso é parte da escola de atuação de cada ator, cada um deles. Por exemplo, eu admirava muito a Edgar Vivar pela forma que tinha de cair, era uma forma que parecia de verdade se haviam dado um golpe muito forte, ele o fazia por que era um ator muito completo e podia fazer esse tipo de coisas. Ramón acusava o tapa que lhe dava Dona Florinda, porém o acusava tão bem que muita gente pensava que Florinda o batia de verdade. Essa é sua habilidade e ademais, não somente dos atores, mas também do diretor de câmeras para fazer um câmbio, um switch de uma câmera a outra no momento preciso do golpe para que não visse falso, para que parecesse que era de verdade.
F: Qual episódio gostou mais de fazer e qual foi o mais difícil? (pergunta de Rafinha)
R: Os mais difíceis sempre foram os dos Chifladitos. Porém os programas que fazia mais a contragosto eram os que eu tinha que colocar alguma peruca, não sei por que me molestava sempre usar peruca... às vezes fazíamos, por exemplo, algo sobre Cristóvão Colombo, ou sobre índios, ou sobre algo e me colocavam uma peruca, e isso me incomodava muito. Agora, não era difícil, era simplesmente algo que me incomodava. Porém programa difícil de fazer era o dos Chifladitos. Por quê: Por que eram tão incoerentes as coisas que dizíamos, não tinham um seguimento lógico, então era muito difícil memorizar. E nós sempre fazíamos todos os programas de memória, nunca usávamos ponto eletrônico.
F: Como você encarou o fim do Chapolin Colorado, em 1979? Gostou de fazer La Chicharra? (pergunta de Ecco)
R: Bem... Quando Roberto me convidou a seguir participando com ele de seus programas, gostei muito do papel de diretor do jornal de La Chicharra, mesmo que eu vestisse com gravata de coque, colete de lã e uns óculos quadrados, e creio que ele também gostou. O que passa é que o programa em si, pois, não teve o êxito que teve o Chapolin nem o êxito que teve o Chaves, jamais.
F: E como encarou o final do Chapolin, no ano de 1979?
R: Bom, não foi em 1979, foi em 1995, quando sei... Eu falo do Chaves. Todos sentimos muito, muitos de nós quisemos que o programa seguisse, porém compreendemos imediatamente que era impossível para Roberto, para qualquer dos personagens que ele fazia o papel de menino, seguir fazendo depois dos 50 anos... não se pode ficar. Já se viam os pés de galinha, mais que pés de galinha, pareciam axilas de elefante, havia rugas por todas as partes. Não era meu caso, porque como eu não fazia o papel de criança, um professor pode ser grisalho, enrugado, gordo e o que você queira, porém é professor. No caso de um menino era muito difícil interpretá-lo. Houve cirurgias plásticas, sobretudo por parte de Maria Antonieta de las Nieves, creio que Quico também fez alguma cirurgia plástica, Dona Florinda para fazer o papel da Pópis, porém Roberto não quis fazer cirurgia plástica. E creio que fez muito bem, e deixou o programa no momento justo em que disse, “já não nos vemos bem. Vamos mergulhar, vamos cair! Isso é o mais triste, o mais feio. Melhor terminar estando com o programa no topo”.
F: Qual era o sketch que tinha mais êxito na época do Programa Chespirito? (pergunta de Ecco)
R: O sketch... Pois veja, eu creio que era a escolinha, a escolinha da vizinhança do Chaves era a que tinha mais êxito, pelas engenhosas perguntas e respostas. Perguntas do professor, é claro, eram escritas por Roberto Gómez Bolaños, e pelas engenhosas respostas das supostas crianças. Não eram crianças, eram adultos vestidos de crianças. Então as pessoas gostavam muito quando o Quico dizia “os astecas, caratecas, discotecas”. Não sei, o quando Pópis, o quando Chaves, quando Nhonho, enfim, creio que era o esquete que gostavam um pouco mais.
F: Em quem você se baseou para retratar a personalidade do distraído e amoroso Sargento Refúgio? (pergunta de Chápulo)
R: Aquele que marcava o roteiro. Não era cem por cento eu. Porém creio que soube interpretá-lo de modo que o mesmo Chespirito me felicitou alguma vez pela maneira em que eu fazia esse personagem do Sargento Refúgio: um policial não muito brilhante de exemplo, porém muito honrado, muito decente, muito cuidado e muito zeloso de seu dever sempre.
F: Três personagens, três personalidades opostas. Sargento Refúgio, Lucas Tañeda e o Professor Girafales. Que tão difícil foi adaptar-se a cada um dos personagens? (pergunta de RenatoCS)
R: Bem, não foi difícil. Repito, o mais difícil foi o de Lucas Tañeda. Era o que me dava mais trabalho, porém era o personagem que eu mais gostava. Girafales, por exemplo, gosto porque foi o que me internacionalizou, o fazia muito facilmente porque Rubén Aguirre e o Professor Girafales são iguais. Eu na vida real sou vaidoso, sentimental... Tudo o que é o Professor Girafales o sou eu mesmo. Então, representar o papel do Professor Girafales me era muito fácil, me era muito simples, bastava colocar um traje, um chapéu, um charuto, umas flores e era muito simples fazê-lo. Porém, fazer por exemplo o dos Chifladitos, esse me custava muito trabalho fazê-lo. O mesmo com o Sargento Refúgio, porém não tanto. No Sargento Refúgio havia nada mais que ter cuidado com os tons de voz. Porém difícil, somente o dos Chifladitos.
F: Qual foi sua experiência ao gravar El Chanfle, primeira produção cinematográfica de Chespirito e seu elenco? Foi difícil a transição da televisão ao cinema? (pergunta de RenatoCS)
R: Veja, eu considero que é mais difícil fazer cinema que fazer televisão. Vou lhe explicar por quê. Na televisão, você grava um programa do começo ao fim em seis horas, ou em oito horas, ou em quatorze horas, quando é muito grande. Fazer uma obra de teatro, a faz em umas duas horas. Então te permite manter um personagem sempre igual porque o está fazendo no mesmo dia, quase na mesma hora. Entretanto no cinema é difícil, porque de repente dizem “corta”. Um filme dura cinco semanas, por exemplo, para se fazer. E cortam quando está a ponto de chorar ou a ponto de ter uma expressão difícil e aos três dias te dizem que retomamos a cena que fizemos há três dias. Então você tem que recordar-se de como estava essa cena há três dias1 Na televisão não, na televisão não tinha que recordar, se grava tudo seguido, tudo no mesmo dia.
F: Dos quatro filmes que gravaram com Chespirito (El Chanfle, El Chanfle 2, Charrito, Don Ratón y Don Ratero), qual você gostou mais de participar? (pergunta de RenatoCS)
R: Creio que nos Chanfles me diverti mais, eu me diverti mais em El Chanfle.
F: Como foi sua experiência como roteirista de Sube, Pelayo, Sube e como diretor de Aqui Está La Chilindrina? (pergunta de Chompiras)
R: Bom, eu tinha uma larga experiência como escritor de concursos. Fazia-os desde que trabalhava no rádio, fazíamos concursos com os ouvintes. Então, havia que ter muito cuidado, desde logo, porque era um programa de uma hora em que aconteciam oito, dez concursos. Há que fazê-los muito diferentes a cada dia porque o programa era de segunda a sexta. E salvo um ou dois concursos que eram fixos, os mesmos, todos os demais mudavam. Havia que trabalhar muito todo dia para escreve os roteiros do dia seguinte. Quanto ao trabalho diretor de Aqui Está La Chilindrina, foi um encanto. Gostei muito, por várias razões: primeiro, por que em alguma ocasião, Roberto Gómez Bolaños me pediu que o ajudasse a dirigir algumas partes do Chapolin ou do Chaves, sobretudo do Chapolin, para dirigir os extras. Disse: “veja, eu dirijo os atores em primeiro plano, porém me esqueço do que está atrás, dos extras, por favor, encarrega-te deles”, como eu já tinha experiência como diretor. Logo, trabalhar com Maria Antonieta de las Nieves, pois, era uma garantia. Ela é uma grande atriz, muito obediente, sempre fez o que se pedia, e além disso tínhamos um elenco muito profissional. Então não me custou nenhum trabalho. Ao contrário, deu-me muita alegria fazer esse programa. Lamento muito que Televisa tenha decidido encerrar toda a faixa de programas unitários, e encerrou nosso programa, porém não só o nosso, todos os programas que havia às oito da noite de segunda a sexta.
F: Alguns mistérios envolvem os programas Chespirito. Em uma twitcam do ano passado, você disse que muitos episódios se perderam, especialmente os do começo das séries, que gravavam em cima dos programas anteriores, apagando estes últimos, por que ninguém imaginava então que as séries seriam tão exitosas. Contudo, parece que não somente os episódios “piloto” das séries estão perdidos. Os fãs já descobriram muitos episódios do período clássico do Chaves e Chapolin que não são mais exibidos na televisão, como a primeira parte do capítulo com Hector Bonilla. Você sabe algo sobre isso? (pergunta de Borges)
R: Não sei porque isso quem manejava é o departamento de distribuição da Televisa. Eles manejavam isso. Então, o mesmo eles vendiam programas ao Paraguai, Argentina, Chile, Peru. Então, quiça nessas “vendas”, vamos dizer, “aluguéis” do programa, quiçá se perderam alguns, ou não regressaram ao México outros. Então, ignoro totalmente, ignoro o que passou com estes programas que nem eu mesmo me recordo deles.
F: Em 1988, falece o primeiro dos atores do elenco, Ramón Valdés. Depois faleceram Raúl Padilla e Angelines Fernández. Como os atores, incluindo Chespirito, lidaram com isso profissional e pessoalmente? (pergunta de Borges)
R: Pessoalmente nos afetou muitíssimo, porque Ramón se fazia querer por seus companheiros. Era um homem de um caráter muito alegre, muito brincalhão. Então sentimos muitíssimo, pessoalmente. Profissionalmente, o problema foi de Roberto Gómez Bolaños, isso tem que perguntar a ele, para meter outros personagens ou mudar a forma dos roteiros. Eu posso te responder como nos sentíamos pessoalmente. Sinto eu, Rubén Aguirre, muita saudade pessoalmente. Agora que vejo Ramón Valdés nos programas cada vez o admiro mais. Era um grande, mas um grande ator e me doeu muito porque além disso era um grande companheiro, muito bom companheiro. Vejo-o trabalhando e digo: mas que naturalidade, homem! Que maneira de expressar esses sentimentos, quando Quico lhe coloca a bola a um lado, quando... não sei, tantas coisas, os golpes de Dona Florinda. Eu o admiro muito como ator, mais agora que o vejo, já passado o tempo, que quando trabalhava com ele. Quando trabalhava com ele, éramos todos companheiros e não havia nem invejas nem admirações de uns aos outros, fazíamos nosso trabalho. Porém agora, através do tempo que vejo os programas, vejo a grandeza deste ator que foi Ramón Valdés y Castillo.
F: O Professor Girafales teve inúmeros apelidos por causa de sua altura. Mestre Linguiça, tobogã de salto alto, quilômetro parado. Em seus tempos de juventude você teve o mesmo problema? Quais eram seus apelidos? (pergunta de Rafinha)
R: Sim, como não, tive todos! La Garrocha (a vara), aqui la garrocha não sei se é o mesmo que no Brasil, porém é uma vara larga, muito, muito larga. Diziam-me também Pulgarcito por antonomásia, não?, porque Pulgarcito é muito pequenino, então me diziam Pulgarcito. Quando estávamos na escola de canto era Giuseppe de Pulgare, para fazê-lo italiano. Diziam-me Matador porque eu foi toureiro. Quando era toureiro, por aí escutava, ei, Matador! Muitos apelidos, e eu creio que nenhum jovem escapa de ter apelidos na vida, porém a mim nunca nenhum me incomodou.
F: Você é tão romântico como o Professor Girafales? (pergunta de Rafinha)
R: Sim, ou mais.
F: Ou mais?
R: (risos) Não. Somos iguais, somos iguais. Quando você vê ao Professor Girafales está vendo a Rubén Aguirre, o ator. Eu sou igual de namorado, sentimental, vaidoso, todos os defeitos que você vê no Girafales, eu os tenho. Então por isso não me custou trabalho interpretar esse personagem, porque somos iguais, no mais muda o nome. Ele se chama Girafales e eu me chamo Rubén Aguirre, porém somos iguais.
F: Em 2011, você abriu uma conta nas redes sociais Twitter e Facebook, que hoje são um grande êxito com muitíssimos seguidores. Em setembro do ano passado, uma twitcam sua rendeu mais de 20 mil espectadores. Quem o incentivou a começar a usar a internet? (pergunta de Borges)
R: Basicamente minha filha Veronica. A mim, em particular, ao princípio não me interessava porque não estava adentrado nos segredos da tecnologia moderna. Porém quando eu via que meus filhos se punham a chatear e tuítar e tudo isso, um dia minha filha Veronica propôs: “papai, vamos fazer uma... abrir uma conta de Twitter”. Desde então sou feliz porque leio tantas coisas carinhosas de todos. Não contesto todas, é lógico, mas leio todas! Leio todas e estou muito agradecido com tantas coisas bonitas que as pessoas me dizem.
F: Desde que você ingressou no mundo virtual, descobriu que mais pessoas no mundo inteiro adoram seu trabalho e dos programas de Chespirito? (pergunta de Corpo do Benito)
R: Sim, graças precisamente ao Twitter me dei conta disso. Os tuítes não são somente de falantes de espanhol, vêm também do Brasil, que falam português, do Japão, da Espanha, da França, Itália. 84 países no mundo veem o programa ou viam o programa, o programa Chaves. E esses... Coreia! Eu tenho uma gravação onde estou falando em coreano! Te repito, passa em 84 países, incluindo primeiramente, todos os da América Latina e Estados Unidos.
F: Você é fanático de alguma equipe de futebol? (pergunta de E.R)
R: Veja, tanto como fanático não, porém vou com a Universidad, os Pumas da Universidad. Porque como bom professor que sou, tenho que estar com os universitários, e para mim a equipe de Universidad, os Pumas, para mim é o favorito. Agora, não sou tão fanático assim, que me morro de... por causa de uma partida... não. Porém quando jogam os Pumas, não perco jamais.
F: Você já esteve no Brasil com seu circo há muitos anos. Recorda por onde passou o circo e quanto tempo esteve em nosso país? (pergunta de Antonio Felipe)
R: Olhe, é muito difícil. Estive aproximadamente seis meses. Recordo-me que começamos em uma cidade que é fronteira com o Paraguai, que se chama Ponta Porã. Dali fomos pelo Mato Grosso do Sul, cidade por cidade e não me recordo dos nomes. Recordo-me que eu ia pela estrada e pedia ao motorista que parasse para ver as emas ou emos, não sei como se chamam esses que parecem avestruzes. Estavam no campo e eu dizia ao chofer: “pare, pare, que vou ver se posso tirar uma foto ou filmar uma ema”. Como se diz, ema ou emo?
F: É ema, ema.
R: Ema, sim. Tenho muitas fotos de muitas emas porque percorremos por vários lugares. Recordo-me de Bonito... Não sei, é muito difícil que eu possa lembrar tudo isso. Faz muitos anos, nomes de um idioma que eu não falava, eu aprendi meu show por fonética, tive uma professora de português que ia todas as noites ao circo e anotar todos os erros que eu tinha e na manhã seguinte ríamos. Dizia-me: “disseste isso e isto não se diz assim, isto se diz assado”. E me deu muito gosto ver que cada vez eram menos os erros que cometia. Isso foi uma faca de dois gumes. Cheguei a fazer meu show em tão perfeito português que muitas crianças acreditavam que eu falava português, e quando terminava o show, vinham até mim e eu não os entendia, nem eles a mim. Era uma faca de dois gumes. O show eu fazia em perfeito português porque tinha aprendido de memória graças a uma professora que tive. Porém quem aprendeu muito foi minha esposa, ela me acompanhou nessa turnê. Ela era quem me ajudava nos restaurantes para pedir de comer, eu não sabia pedir o espeto corrido, não sei, uma caipirinha... (risos). Sei muito pouco, porém ela se encarregava de táxis, de reservas de hotéis, de tudo isso porque ela sim aprendeu muito português, muito.
F: Maravilhoso. Teve êxito sua passagem pelo Brasil?
R: Sim, claro que sim. O que passa é que nunca fomos por exemplo à capital, às grandes capitais. Sim, estivemos no Brasil, mas não no Rio de Janeiro, nessas partes não estivemos. Eram populações pequenas dessa região que se chama Mato Grosso do Sul.
F: Gostou da versão animada do Professor Girafales no Chaves em Desenho? (pergunta de Antonio Felipe)
R: Pois veja, nem gostei, nem não gostei. Dá-me igual. O único que sinto é que graças a essa série permanecemos na televisão por mais anos do que podemos viver. Graças a essas caricaturas, quando eu estiver morto, seguirá meu nome ou meu nome artístico passando. Não sou fanático dela, nem a vejo, não gosto muito, porém repito, creio que é uma medida muito boa para que tenhamos... para que tenhamos essa permanência no público por mais anos.
F: Tem alguma recordação dos seriados de Chespirito, algum objeto como a roupa do Professor Girafales, gravações de episódios? (pergunta de Thomas Henrique)
R: Não, acredite que não, nem sequer o chapéu. Deixei na Televisa quando a série acabou, não acreditei que poderia fazer falta. E os trajes, ou seja, trajes comuns, quando se tratava de um vestuário especial como Tenório, pois era do departamento de vestuário da Televisa, não era meu. Então não guardo nada disso.
F: Tem algum projeto em mente para os próximos anos? Alguma vez pensou em escrever um livro de memórias?
R: Pediram-me várias vezes, porém creio que isso é a vaidade das vaidades. Eu creio que não vou fazê-lo. Não, não acredito fazê-lo. Como projeto, propôs-me Edgar uma obra de teatro muito bonita para o próximo ano. Se tenho vida e tenho saúde, a farei com ele no teatro. É uma obra especial para dois personagens, para ele e para mim. E quando me contou por telefone, conversou, disse-me como era a obra, fascinou-me, encantou-me. Gostei tanto que disse, conta comigo a hora que for.
F: Como foi participar de América Celebra a Chespirito?
R: Gostei muito. Em primeiro lugar, porque as homenagens devem ser feitas quando a pessoa está viva, não quando está morta. E me deu muito gosto porque a fizeram em vida e porque foi a nata do teatro, do cinema, da televisão, da política. Todas as pessoas foram felicitar Roberto Gómez Bolaños. É claro, entre eles, Edgar Vivar, Florinda, todos estivemos lá. Achei muito emocionante, gostei muito que de todas as classes sociais, políticos, esportistas, todo o Club América - porque ele [Chespirito] torce para o América, todos os jogadores estiveram lá – ali estiveram para felicitá-lo em sua homenagem. Que mais posso dizer, emocionou-me muito essa homenagem.
F: Já estamos para finalizar a entrevista, só tenho mais duas coisas. Primeiro, que pensa de sua dublagem no Brasil?
R: Da dublagem no Brasil, bem, pareceu-me que estou um pouco mais agressivo que em espanhol, creio. Porém como não entendo bem o português, quiçá esteja correto, fizeram muito bem. Devem ter um bom diretor, devem ter alguém. Eu creio que quando o ouvi me pareceu a mim mesmo mais alto, mais bravo... Porém sobretudo o coreano, é espantoso, esse deveras parece que estou brigando com as pessoas, uma coisa muito agressiva.
F: Poderia enviar uma mensagem para seu dublador Osmiro Campos? No próximo sábado vamos fazer um evento em São Paulo, uma reunião de fãs com alguns dos dubladores da série no Brasil e um dos participantes será Osmiro Campos.
R: Ah, a Osmiro, a Osmiro Campos desde aqui lhe mando meu mais carinhoso abraço e a todos vocês lhes desejo êxito nesse evento que terão no próximo sábado. Quero dizer a todo o público do Brasil que estou muito agradecido com eles porque o pouco tempo que passei com vocês, passei muito bem, trataram-me muito bem,. Sempre com um grande calor humano, sempre com muito carinho e estou muito contente de poder ter conhecido esse país tão maravilhoso que é o Brasil.
F: Bom, Rubén, só tenho que agradecer muitíssimo por esta oportunidade de poder falar com você. Para finalizar, gostaria que você enviasse uma mensagem especial para todos os seus fãs do Brasil.
R: Pois a todos meus irmãos do Brasil, primeiramente, um feliz Natal. Que o passem na companhia de seus queridos e que o passem com saúde e muito felizes. Felicidades , amigos do Brasil, especialmente nestas festas natalinas que se aproximam.
ENTREVISTA EN ESPAÑOL
Entrevista com o Professor Girafales
- Realização: Fórum Chaves
- Produção e entrevista: Antonio Felipe
- Transcrição: Chápulo
- Tradução: Antonio Felipe
- Edição: msm_del_ocho
- Colaboração: Borges, Chápulo, Chompiras, Corpo do Benito, Ecco, E.R, Rafinha, RenatoCS e Thomas Henrique